domingo, 13 de dezembro de 2015

TEMPOS DE DEFENDER O ÓBVIO




Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?” Brecht

É óbvio que está em marcha uma tentativa de golpe à soberania popular.



É óbvio que a democracia está em xeque, onde as elites buscam retomar o controle da agenda econômica, política e social.



É óbvio que se o golpe for consumado, os trabalhadores serão os maiores prejudicados pois a agenda retrógrada anda junto com a tentativa de apear do poder a presidenta legitimamente eleita.



É óbvio que não existem motivos jurídicos, legislativos, constitucionais para legitimar a intenção golpista.



É óbvio que a pauta dos articuladores do golpe buscam o estado mínimo, destravar as amarras para privatizações, diminuir o custo do trabalho modificando legislações, beneficiando o grande capital.



É só analisar com atenção as propostas do então candidato a presidente Aécio, ver com atenção as medidas do governo Alckmin em São Paulo, Richa no Paraná, Sartori no Rio Grande do Sul, entre outros. Também é balizar avaliar minuciosamente a proposta “Pontes para o Futuro” do PMDB.



É um óbvio ululante que o PSDB de Aécio articulam o golpe há muito. Mas também é óbvio a postura de Michel Temer na mesma balada. Só os cegos, os golpistas e os idiotas não veem a conspiração de Temer.



É óbvio que via Congresso Nacional sob comando de Eduardo Cunha, um salafrário conhecido a muito (tão óbvio), implementa várias medidas contra o povo: terceirizações; abertura capital das estatais, criminalização da mulher em situação de aborto, maioridade penal, etc.



É obvio que a grande imprensa é sócia e patrocinadora do golpe.



Também, não deixa de ser óbvio, a equivocada escolha do governo Dilma por uma política econômica recessiva que afasta sua base de sustentação, potencializando a crise política.



Portanto defender o óbvio é tarefa central.



Acima de tudo defender a democracia é a grande causa do momento.



Mas devemos debater o porquê para grande parte da população essas questões não são tão óbvias.



A opinião pública está em disputa. O povão está assistindo, não têm plena consciência da gravidade da crise.



A esquerda tem propostas de futuro mas ainda não foram assimiladas pela classe trabalhadora, eis um desafio essencial.



Não basta lutar, precisamos saber pelo que estamos lutando, unificando nossas bandeiras de luta e traduzindo adequadamente para que sejam assimiladas pela classe trabalhadora.



As saídas da crise estão em disputa. Os progressistas buscam constituir maioria na opinião pública. E as forças do atraso estão a disputar.



Mostrar o óbvio à maioria do povo brasileiro é o grande desafio.



O contexto exige coragem e determinação.



O momento clama: Tomar as ruas; Dialogar com a população com todos meios disponíveis; Unificar nossas ações, fortalecer nossas organizações.



Mexer com a classe trabalhadora, antes que seja tarde, eis a grande tarefa.



É óbvio que nós, do campo progressista, que estamos resistimos ao retrocesso, queremos avanços a favor do povo. Especialmente mudanças na política econômica e reformas democráticas substantivas.


segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O TOPO DA MONTANHA





“Eu não sei o que acontecerá agora. Temos dias difíceis pela frente. Mas isso realmente não tem importância para mim, agora, porque eu estive no topo da montanha. E eu não me importo(...)E eu vi a Terra Prometida. Eu posso não chegar lá com vocês. Mas eu quero que vocês saibam que nós, como um povo, chegaremos à Terra Prometida. (Martin Luther King)

Quando tinha 10 anos, S. construiu um carrinho de rolimã. Diariamente tentava subir o morro e levar, no seu carrinho de rolimã, seus sonhos. Mas por anos a fio, quando estava chegando perto do cume, o carrinho de rolimã despencava e descia ladeira abaixo. Mas S. não desistia e sempre voltava a descer ao pé do morro e recomeçava sua subida.

Subia o morro rumo a minha casa.
Depois de muitos anos consegui chegar ao topo do morro sem que meu carrinho caísse ladeira abaixo.
Minha casa ficava lá em cima e se chamava “conquista”.
Foi possível construí-la depois de muita luta e sacrifícios.
Aliás, moramos tempos na rua plana.
Subia diariamente o morro, que era alto e íngreme. Levava, para cima, no carrinho de rolimã, meus sonhos, meu futuro, meu presente.
Depois de viver num buraco na base do morro, conseguimos levar o carrinho morro acima.
Educação; moradia digna; emprego; direitos; dignidade. Tudo empilhado e bem amarrado para não cair do carrinho de rolimã.
Meu carrinho estacionava no topo da montanha e não caia mais.
Haja hoje para tanto ontem.
Só que, certo dia, quase chegando lá em cima, perto do topo do morro, um rapaz bem vestido, com tênis nike, camisa de marca e sei lá mais o quê, aparece do nada.
Me olha com seus olhos azuis, com suas fáscias tensas, exalando ódio e preconceitos.
Istava muito desequilibrado”, como me ressaltou Genésio, “com o peito inflado, metido a besta”, completou.
Tentei um istmo de diálogo, como minha família ensinou: não regredir, não se deixar silenciar. Mas nossas ilhas não se conectaram.
Mas o mimado sujeito, achava que os desiguais devem ser silenciados.
Lembrei neste instante que “a inveja é um tipo de desejo impotente: Ele olha para o invejado e se sente menor, daí sua raiva, o seu rancor. Ele não pode ser outra pessoa, ele não pode ser melhor do que é”.
E o cara, corta a corda em que eu puxava meu carrinho de rolimã.
O carrinho despencou morro abaixo.
Corri atrás desesperado.
O rapaz ria.
Por instantes intermináveis vi o futuro voltar ao passado;
O presente negar futuro;
O presente impor o passado.
Tropecei em uma pedra que atravancava o caminho.
Arrastei meu queixo no areão.
Estirado no chão, com a alma esfolada, quase voltando ao útero de minha bisavó, consigo ver uma multidão subindo o morro.
Carregavam meu carrinho de rolimã com todos meus apetrechos, meus sonhos bem amarrados.
De fato, sozinhos podemos até chegar, mas é muito mais difícil manter o carrinho lá em cima. Acompanhados vamos mais longe.
Na frente de todos, vejo meu neto ainda não nascido.
Haja tanto amanhã para muito hoje.






quarta-feira, 23 de setembro de 2015

DE VOLTA PARA O FUTURO

                                               
            

                                                        


                                                                              “Haja hoje para tanto ontem.
                                                                              E amanhã para tanto hoje.
                                                                              Sobretudo isso”.
                                                                                                     Leminski

Fantasmas do passado tomam corpo atordoando o Brasil progressista.
Os piores esqueletos do conservadorismo saem do armário, semeando ódio e pregando uma agenda retrógrada.
Uma ofensiva da direita que milita em várias partes do globo. No Brasil foi facilitada por erros de diagnóstico do governo Dilma, que escolheu caminhos contraditórios, opostos ao programa vitorioso nas urnas.
A esquerda atônita parece que entra para o armário sem conseguir construir uma narrativa consistente.
Mas há resistência, especialmente dos movimentos sociais.
No mundo também, em várias partes, a população questiona as políticas de austeridade e as tradicionais formas de representação, onde as elites se mantém no poder através de conluios e manipulações, de costas para a maioria social.
Urge colocar na ordem do dia uma pauta de futuro que leve os brasileiros a pensar numa agenda de desenvolvimento, com emprego e renda e com democracia substantiva.

FRENTE BRASIL POPULAR

Eis que surge a grande novidade da conjuntura, a Frente Brasil Popular. Apostando na luta presente, busca ser um instrumento para romper o cerco conservador e articular um novo centro de gravidade, que leve o Brasil a reencontrar o caminho soberano, com igualdade e desenvolvimento sustentável, um caminho de futuro.
A grande tarefa é organizar a resistência, superando a postura defensiva, operando a necessária contraofensiva popular.
Dois principais obstáculos precisamos superar:
Tentativa de golpe, que está em pleno curso;
Política econômica com um ajuste fiscal que afeta os de baixo, preservando as elites e que potencializa a crise política;

É A POLÍTICA, ESTÚPIDO!

A economia de um país não é uma planilha de excel, cálculos atuariais, onde as pessoas, as relações sociais parecem não existir.
Ajustes, macro, micro, superávits. Apertem os cintos.
Quem comanda a nave?
Quem aperta o cinto, o povão.
Quem é beneficiado, o rentismo.
Eis a questão.
Rentismo no comando, eis a escolha.
Trabalho subjugado com objetivo de diminuir o custo do trabalho.
Pode ser diferente. Existem caminhos alternativos.
Questão de escolha: não se render ao simulacro do terrorismo econômico.

GRAVIDADE

Puxam para o espaço rentista.
Os juros para a estratosfera.
Precisamos fazer funcionar a lei da gravidade e puxar para o chão popular.
Senão criar-se-á um buraco negro onde sumirão nossos direitos e conquistas.
A história brasileira, em tempos de crise, mostra que as elites sempre conseguiram impor suas soluções antipopulares.
Ou com saídas autoritárias, ou pelo centro.
Ambas estratégias estão sendo ensaiadas e operadas.
Clausewitz apontava que para derrotar o inimigo é necessário atingir seu centro de gravidade.
Pois bem, as elites vêm praticando um persistente ataque ao centro de gravidade do projeto progressista, ao PT e suas lideranças.
Por conseguinte, atinge a esquerda como um todo, alimentando o ódio, remexendo os piores esqueletos da reação.
E o governo cercado, sucumbe às chantagens, embretado numa situação de questionamentos sociais, sendo atacado incessantemente.
Diante dessa situação, é preciso dar um recado contundente ao Governo Dilma: muda a política econômica ou a política econômica ampliará o abismo com os anseios do povo e poderá facilitar os intentos golpistas.

ROMPER O CERCO

“As forças morais estão entre os assuntos mais importantes da guerra. Elas impregnam tudo. ” (Clausewitz)

Para romper o cerco é preciso reorganizar nosso exército e contra-atacar.
Parar de recuar, equilibrar o centro de gravidade, onde os movimentos sindicais e populares são decisivos.
Para reorganizar é preciso elevar a moral da tropa.
Ter propostas unificadoras, que encantem o povo, com um projeto de futuro que tenha nitidez.
Para isso é essencial mudar a política econômica, construir ampla mobilização por reformas populares.
Para além de eleições parlamentares, defender uma agenda popular, não dependendo de agenda governamental.
É essencial organizar a resistência contra os ataques às conquistas e aos direitos dos trabalhadores, que vem de vários lados: Congresso; judiciário, governos federais e estaduais, articulados pela mídia conservadora.
Os militantes e suas organizações precisam sair da “zona de conforto” e dedicar-se a construir a Frente Brasil Popular com força e com vontade.
Uma frente que precisa praticar ampla unidade e ter capacidade de aglutinar o povo trabalhador, apontando os caminhos para os avanços populares.
Enfrentar o hoje, preparando o futuro.

De volta para o futuro.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

SOU BANCÁRIO, TENHO MEUS QUERERES






Sou bancário, quero futuro.
Pois, sem perspectivas de um futuro digno, com emprego e renda, a vida presente torna-se insuportável. A tecnologia não pode afrontar o humano. Precarizar para aumentar lucro não é honesto, não é legal!

Sou bancário, quero saúde.
Pois a saúde é um direito essencial e o trabalho não pode adoecer.

Sou bancário, quero condições de trabalho decentes.
Pois não sou máquina, mereço respeito e tenho direitos e conquistas.

Sou bancário, quero segurança.
Pois o lucro não pode ficar acima da vida.

Sou bancário e quero remuneração justa.
Pois meu trabalho, que gera vultuosos lucros, merece mais. E tenho família e necessidades materiais a realizar.

Sou bancário, quero cultura, diversão e arte.
Pois tenho necessidades espirituais a realizar. A vida não pode se resumir a bater metas e trabalhar sem sossego.

Sou bancário, quero respeito à democracia.
Pois não tolero golpes e desrespeito à vontade popular.

Sou bancário, quero uma sociedade mais igual.
Pois a riqueza do país precisa ser distribuída entre todos. Não podemos aceitar a concentração de renda, fruto de políticas econômicas injustas.

Sou bancário, quero participar.
Pois meu passado de lutas e conquistas me guia.
O presente construo com mobilização e ação coletiva.
Pois quero um futuro digno.



quarta-feira, 17 de junho de 2015

A BATATA TÁ QUENTE? PASSE ADIANTE




Parece que o Governo Dilma sente que recebeu uma batata quente do Congresso que aprovou a fórmula 85/95 para aposentadorias.

Para não se queimar sugiro que devolva a batata quente, sancionando o projeto.

Se o debate é como viabilizar a previdência no futuro. Se é necessário sinalizar ao mercado controle das contas públicas – debates controversos -, sugiro um pouco de ousadia ao governo e que tome o lado dos trabalhadores.

Uma saída possível seria sancionar o projeto e encaminhar ao Congresso a criação de um fundo previdenciário ou fundo da seguridade social para sustentar as aposentadorias. Esse fundo seria lastreado pela criação de um imposto sobre grandes fortunas.

Assim a batata ficaria com Eduardo Cunha e seus asseclas, deixando para eles a defesa da casa grande e o governo avançaria na construção de uma sociedade menos desigual, com efetiva proteção social para os que precisam.

Porque não?

terça-feira, 2 de junho de 2015

SERÁ DIFÍCIL ENGOLIR



VAI SER DIFÍCIL ENGOLIR

Se o Governo vetar a alteração aprovada na Câmara e no Senado que cria a chamada fórmula 85/95, vai ser difícil engolir.
Trata-se de um avanço em relação ao famigerado Fator Previdenciário.
Estão atravessadas na garganta as Mps 664 e 665, editadas pelo governo, que retiraram direitos dos trabalhadores no seguro desemprego, pensões, seguro defeso, acesso ao PIS e nas regras para segurados do INSS (acidentados e doenças ocupacionais), inclusive transferindo as perícias para os médicos das empresas.
O ajuste fiscal em execução pelo governo está afetando o metabolismo.
Joga na lógica da austeridade, que busca diminuir o custo trabalho e gera recessão e desemprego. Em que patamar estarão nossos direitos e nossos salários quando o país voltar a crescer?
O refluxo será inevitável, correndo sérios riscos de perder mais bases de apoio em um momento onde a direita cerca o governo.
Haja queimação!

Também continuaremos lutando para que a PLC 30 (PL 4330), que trata da terceirização, não passe no senado.
Mas se o pior ocorrer, o veto terá que ser completo. Senão a congestão será total.
A luta é meu tratamento.
Acredito na superação desse momento, onde os direitos dos trabalhadores são atacados por várias frentes.
Continuaremos vivos, mobilizados, organizados.
O Governo Dilma deve fazer seu autodiagnóstico.
Ou perecerá nos braços do algoz.
Pode sobreviver, nos braços do povo.
Para isso, mudar a Política Econômica, que flerta com o doentio neoliberalismo, é imperativo.
Tem remédio!


Obs.: A alteração aprovada na Câmara propõe a chamada fórmula 85/95, pela qual o trabalhador se aposenta com proventos integrais (com base no teto da Previdência, atualmente R$ 4.663,75) se a soma da idade e do tempo de contribuição resultar 85 (mulheres) ou 95 (homens). Para professoras, de acordo com a emenda, a soma deve ser 80 e para professores, 90. Se o trabalhador decidir se aposentar antes, a emenda estabelece que a aposentadoria continua sendo reduzida por meio do fator previdenciário.

domingo, 24 de maio de 2015

TEMPOS DIFÍCEIS: RESISTIR, AVANÇANDO!



  
Contribuição nos debates dos Encontros/Congressos da CUT/CONTRAF

    “Quando escrita em chinês, a palavra crise está composta de dois caracteres, um representa perigo, o outro representa oportunidade”.
   

 Em tempos de crise profunda, com uma ofensiva de forças reacionárias que buscam golpear o povo, é urgente nos armar politicamente para disputar os rumos de nosso país.

A hegemonia pressupõe a conquista do consenso e da liderança cultural e político-ideológica de uma classe ou bloco de classes sobre as outras.

Além de congregar as bases econômicas, a hegemonia tem a ver com entrechoques de percepções, juízos de valor e princípios entre sujeitos da ação política.

Capitaneada pela CUT, uma agenda de luta está em andamento. Todavia, precisamos aliançar ações imediatas com medidas estratégicas na busca de dirigir a agenda popular, disputando a opinião pública, com ampla participação social.

Temos que transformar a crise em uma oportunidade de avanços. A derrota só será bebida amarga se concordarmos em tragá-la.

Duas questões estão em disputa:

- A narrativa do processo, numa peleia desigual, com a mídia mentindo e manipulando como nunca visto.

- A vida real, onde as medidas econômicas afetam o cotidiano das pessoas, influenciando comportamentos, posicionamentos, e a própria narrativa.

Devemos disputar essa narrativa, com mobilização e ideias convincentes;

CENÁRIO INTERNACIONAL

Assistimos as peças do tabuleiro da geopolítica internacional se mexer. Os EUA continuam hegemônicos, com seu poderio militar, econômico e cultural.

Todavia outros atores buscam movimentar-se e se posicionar de forma mais favorável, especialmente a China e a Rússia.

Presenciamos um cenário instável e polarizado pela direita diante da crise do neoliberalismo, bem como de novo campo de pressões sobre as transformações na América Latina, único continente que apresenta uma clara dinâmica de processos históricos de construção pós-neoliberal.

Contudo, a persistência da crise econômica mundial está dificultando para muitos governos latino-americanos de esquerda a continuarem com seus processos de crescimento com distribuição de renda.

É importante compreender que o Brasil, adotando uma postura mais altiva nas relações internacionais e por seu potencial econômico/estratégico, não é um peixe pequeno. Está na mira, especialmente dos EUA, que não exitam em desestabilizar o governo de esquerda.


CENÁRIO NACIONAL

A reeleição de Dilma foi uma grande vitória para a classe trabalhadora brasileira, alcançada em um contexto de forte disputa programática, de unidade da esquerda, e de mobilização popular de rua.

O processo político que está em curso não começou nas eleições deste ano e não acabou com a vitória progressista. A direita continua e vai continuar seus ataques.

O conservadorismo saiu da toca e está mostrando sua face reacionária. O Golpe em gestação não é somente contra o Governo eleito. Armam-se tempestades sobre os direitos dos trabalhadores, que poderão ser golpeados pelo Congresso Conservador e pelo Judiciário que julga na perspectiva das elites.

Está claro que as bases parlamentares e partidárias, aliadas do governo, estão movediças e ruindo. Um governo popular, especialmente em uma crise dessas proporções, precisa fincar raízes no único aliado firme, o povo e os movimentos sociais organizados. Todavia, o governo optou por um caminho tortuoso, que penaliza os trabalhadores.

O tarifaço, potencial desemprego, entre outras consequências das medidas escolhidas, podem afastar a base de apoio popular, dando fôlego aos ataques reacionários e golpistas.

Podemos debater que ajustes nas contas governamentais precisam ser feitas. A questão é quais ajustes? As propostas até agora apresentadas, penaliza essencialmente o andar de baixo.

Não estamos enfrentando voluntaristas desarticulados. É um cerco, com conexões internacionais (vide Venezuela, Argentina, Paraguai, Honduras, etc.), que se fecha sobre o governo brasileiro. Tem uma extensa articulação no parlamento, no judiciário, na Polícia Federal, sendo coordenado pela grande mídia.

O modelo de governabilidade que ainda impera é de pactuação com um congresso ainda mais conservador. A grande mídia continua com um poder brutal. E ainda precisamos consolidar uma organização popular que tenha capacidade de mobilização, ocupando as ruas para sustentar as mudanças.

Quando os inimigos atacam de todos os lados, com o desânimo e desorientação de muitos, precisamos construir as condições para deixar de recuar, desfechando a necessária ofensiva.

Os movimentos sociais são forças que fazem a diferença.
Resistir, avançando. Não baixar a guarda, muitos embates pela frente nos esperam.

DESAFIOS

“Os homens fazem sua história, mas não nas condições que escolheram” (Marx).

Os movimentos sociais precisam ser “rebeldes competentes”, organizando a luta necessária, não jogando água no moinho da direita. Também não nos deixando levar pelo perigo de raciocinar somente a partir das razões governamentais.

Há um sentimento de mudança. Um desconforto com a política realmente existente no país. Toma-lá-dá-cá; corrupção; descaso com a participação do povo; políticas públicas ineficientes; política econômica recessiva.

Devemos canalizar esse descontentamento – que não está somente nas ruas, está dentro das casas do povo brasileiro – para saídas progressistas, caso contrário, poderemos amargar saídas retrógradas.

Precisamos achar formas resgatar a confiança na atuação coletiva, na participação cidadã. Para isso precisamos mobilizar a sociedade.

Mas para mobilizar a sociedade é preciso ousar, ter propostas que encantem o povo.
Devemos ter capacidade de traduzir nossas consignas e descer à morada dos que trabalham para achar os elos organizadores.

As brasas estão em movimento e faiscando. Cabe a nós, do movimento popular, desanuviar o contexto, buscar a unidade, apontando propostas mobilizadoras, que se possa "pegar com as mãos".

É uma delgada linha que temos que passar, sem ingenuidades e sectarismos, com muitas razões convincentes.

REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA

Diante desse contexto afirmar, reafirmar e firmar o timão na direção de uma Revolução Democrática efetiva torna-se imperativo.

Entendemos por Revolução Democrática a busca de uma nova estrutura de direitos e deveres que se refere tanto à distribuição da propriedade, as formas de organização dos tributos e dos gastos públicos, as relações de gênero, as relações de cidadania e culturas étnicas, as questões ecológicas, questões que dizem respeito aos direitos da classe trabalhadora.

Significa, também, reformar as instituições que organizam quem decide, porque decide, como se decide. É operar uma mudança de fundamentos do Estado brasileiro.

Portanto o Processo de revolução democrática é o meio para construir novas legitimidades e novas bases sociais, novos padrões regulatórios públicos na economia e capacidades de governos que, juntos, podem catalisar mudanças estruturais na correlação de forças”. Construindo uma nova hegemonia, acumulando forças na batalha das classes.

A busca incessante pela igualdade é uma diretriz central. A desigualdade é inerente ao capitalismo, essencial para locupletar o rentismo e manter a elite subjugando a maioria social. Perseguir a meta de uma igualdade substantiva é mobilizador e transformador.

Torna-se central a luta pela mudança da Política Econômica, capitaneada pelo Ministério da Fazenda. Tal visão econômica poderá nos levar a retrocessos pois busca conter a economia e diminuir o “custo trabalho”, com consequências desastrosas para os trabalhadores e colocando em risco manutenção/resgate de apoios populares para manutenção de nosso projeto.

RESISTIR, AVANÇANDO

Resistir às tentativas de trazer retrocessos aos trabalhadores é imperativo. Mas para resistir é preciso avançar.

Precisamos avançar em três frentes:

- Conter o ajuste econômico incompatível com o programa eleitoral; Defesa dos direitos.

- Avançar em uma agenda política positiva que coloque a valorização do trabalho no núcleo das políticas sociais e que tenha com centralidade: a afirmação da política econômica anti neoliberal; democratização do Estado; e a realização de reformas estruturais (reforma política, reforma tributária, democratização das comunicações e reforma agrária).

- Seguir com unidade no bloco de esquerda que se expressou principalmente no segundo turno, reforçando seus ideais de liberdade, que foi capaz de atrair novos setores populares para nosso campo, especialmente jovens não organizados em movimentos tradicionais;

NOSSAS TAREFAS

- Algumas tarefas mostram que ainda teremos “muitas emoções” pois “viver é muito perigoso!”

- Cerco ao Congresso para evitar tentativas de retrocessos (maioridade penal; SUS; PL4330...)

- Luta pela Mudança na Política Econômica Levyana. Interromper as tentativas de implementação de uma agenda neoliberal para o país pelo Ministério da Fazenda.

- Impedir a implementação da MP 664,665.

- Reformas populares (Política; agrária; tributária; mídia...)

- Convocação oficial de um Plebiscito que tenha como centro a realização de uma Reforma Política que coloque fim ao financiamento empresarial de campanhas e que fortaleça os partidos através do voto em lista com alternância e paridade de gênero e que inclua a população negra, indígena e a juventude;
Devolve Gilmar!

- Fim do Fator Previdenciário.

- Defesa do SUS;

- Regulação da mídia e apostar em alternativas.

- Combate à rotatividade, através da ratificação da Convenção 158 da OIT que coíbe demissões imotivadas;

- Regulamentação da Convenção 151 que garante negociação coletiva no setor público
Defesa da Petrobrás

LUTAS DA CATEGORIA

Nossa Campanha Salarial ocorrerá diante desse contexto turbulento. Devemos saber aproveitar o momento para avançar.

Mais do que antes, as reivindicações específicas estão próximas das demandas da sociedade.

Por exemplo, debater a necessidade de ampliação do crédito é uma demanda nossa, como categoria - para mais emprego e menos demissões -, como também é uma demanda da sociedade, para que haja o necessário desenvolvimento do país. Mais crédito, mais emprego, mais desenvolvimento. A luta contra a terceirização deixou isto muito claro e vai estar colocado fortemente na campanha salarial.

O processo de Campanha Salarial vai exigir muita maturidade para que seja construída sólida unidade. Não podemos nos dar ao luxo de que disputas contaminem o processo. Unidade é a chave da vitória e capacidade de organização é essencial para que avanços consistentes venham a ocorrer.

Alguns temas centrais:

- Contra terceirização
- Defesa dos Bancos públicos (reestatização do Banco do Brasil, CEF 100% pública)
- Mais emprego
- Saúde e Condições de Trabalho
- Remuneração justa

ORGANIZAÇÃO SINDICAL: DESAFIOS DO MOVIMENTO

O movimento sindical enfrenta situações complexas. O mundo do capital está horizontalizado, nossos sindicatos ainda são verticais, da era fordista. Têm sido incapazes de se horizontalizar, de tornar-se mais classistas, de incorporar os excluídos. Este é o primeiro desafio, se queremos dar vitalidade aos sindicatos.

Ao centrar-se prioritariamente nas questões do emprego e do salário, os sindicatos tenderam a desinteressar-se dos desempregados, das mulheres, dos reformados e dos jovens à procura do primeiro emprego, e, ao fazê-lo, descuraram um campo imenso de solidariedade potencial. Mas por outro lado, em relação aos trabalhadores com emprego, abordamos apenas por uma pequena fração das suas preocupações.

De fato, os trabalhadores que estão empregados e recebem um salário confrontam-se no seu cotidiano com muitos problemas que afetam decisivamente a sua qualidade de vida e a sua dignidade enquanto cidadãos para os quais temos dificuldades de achar respostas adequadas.

As causas mais profundas das contradições do capital, de tendências explosivas, devem ser atacadas em todos os lugares, com iniciativas que extrapolem a luta local, viabilizando iniciativas internacionais, intersindicalmente e com outros movimentos sociais.

O direito à cidade é uma pauta essencial que deve ser incorporada pelo movimento sindical. Permite um diálogo transversal com amplos espectros sociais e tem grande potencial mobilizador e questionador do modelo de sociedade excludente dirigido pelas elites brasileiras.

Apesar de extrema importância, não basta disputar “as ondas do rádio e da TV”. Devemos disputar as consciências em sua materialidade, nas relações sociais reais onde, no cotidiano, os trabalhadores constroem seus valores.

Norberto Bobbio diz com razão que a democracia no sistema atual encontra uma barreira insuperável nas portas das fábricas. Precisamos nos voltar para os ambientes de trabalho, democratizando-os, disputando o imaginário dos trabalhadores pois as empresas estão a fazê-lo, onde a meritocracia é o mantra e estão produzindo individualistas.

Compreender e organizar a nova configuração da classe trabalhadora é premente. A adesão da nova classe trabalhadora é fluida, não consolidada pois está em disputa.

Como nos ensina Marilena Chaui, essa nova classe trabalhadora “é uma classe retalhada pelas novas condições de trabalho na era do neoliberalismo. Um agrupamento que foi e é coagido a entender a sua inserção no mundo como uma relação unilateral com a gôndula do supermercado e o limite do cartão de crédito”.

O desafio é construir dois tempos coexistentes. O espaço da experiência – não deixar retroceder – e espaço de expectativas – necessidade de avançar substancialmente.

AUTOREFORMA SINDICAL

“É melhor que seja o movimento sindical a questionar-se a si próprio e por sua iniciativa, até porque, se o não fizer, acabará por ser questionado a partir de fora”. (Boaventura Santos)

A Central Sindical das Américas está propondo um importante debate que deve ser abraçado pela nossa Central a fim de buscar um necessário salto de qualidade para o sindicalismo.

Trata-se a autorreforma sindical que almeja gerar um amplo debate para que profundas mudanças ocorram nas organizações sindicais.

Não precisamos esperar por mudanças legislativa para que façamos variadas mudanças a fim de melhorar a representatividade, ampliar a democracia, incorporar amplos setores não representados, avançar na unidade, debater o financiamento.

Enfim, gerar uma maior força organizativa, de representação e representatividade, legitimidade e influencia em todos os níveis onde se definem e decidem aspectos que desenvolvam direitos e condições de trabalho, emprego e vida.

É estratégico para transformações mais profundas a democratização dos locais de trabalho buscando garantias de efetiva liberdade de organização nos ambientes laborais (Delegados Sindicais/ Comissões de Empresa). Também é chave para isso garantias contra demissões, onde a luta pela Convenção 158 da OIT deve ser priorizado.

Porque não buscar garantir prerrogativas para os Sindicatos fiscalizarem os ambientes de trabalho, dentro da estrutura do SUS? Com certeza evitaríamos muitas mortes e adoecimentos.

O debate sobre o uso das tecnologias e seu impacto sobre a consciência e modo de vida é algo que precisamos abordar. Especialmente a juventude vive um momento social com as mudanças profundas e de largo alcance impulsionado e possibilitado pelas novas tecnologias.

Os celulares, a internet e as redes sociais acarretaram impactos na vida cotidiana da sociedade, conduzindo uma recontextualização da consciência individual, com apelos mais horizontais e igualitários dirigidos ao sistema de representação e nas instituições.

O movimento sindical, em sua dificuldade de horizontalizar-se, mantém distância deste fenômeno, não conseguindo utilizar todos seu potencial para dialogar, incorporar-se e ser incorporado pelo apelo a mais participação.

Para isso é preciso ousadia e coragem, é necessário compartilhar espaços, submeter-se a decisões, radicalizar na democracia.

As redes sociais são um momento da sociedade civil, em que corações e mentes travam batalhas. A atuação da esquerda deve abranger mais que os locais de trabalho, estudo e moradia.

Sindicalistas devem penetrar a cotidianidade e fazerem-se íntimos da contemporaneidade. Com intensidade e urgência. (Luiz Marques).

Portanto, descer à morada oculta dos ambientes de trabalho, compreender e interagir com as complexas relações de trabalho e mesmo o não trabalho, é essencial para a construção de um Bloco Histórico potente para a efetivação de uma substantiva Revolução Democrática.

Temos um mundo cheio de protestos. Pessoas que se mobilizam porque acham que tem algo muito errado. Mas existem muitos muros que separam estas lutas, “tantos diques as impedem de fluírem umas nas outras”. O desafio é romper essas represas e unificar nossos protestos.

Acima de tudo o momento impõe encantar o povo. Quando o povo sente firmeza e clareza sobre o que buscar e lutar não vacila e vai à luta.

Empoderar os trabalhadores, eis a grande tarefa. Organizar o povo, eis o grande desafio.

OUTROS DESAFIOS PARA O SINDICALISMO

  • Da unidade: Nas sociedades capitalistas, a luta entre os sindicatos e os empresários é sempre desigual e o Estado não é a solução para essa desigualdade. No entanto, desequilíbrios são dinâmicos e mutáveis. Assim, se é fácil ao capital e ao Estado dividir o movimento sindical, este não deve desistir de manter a unidade, dividir o capital e o Estado de modo a tirar proveito da divisão.

  • Da solidariedade: a cidadania fora do espaço da produção convoca o movimento sindical a articular-se a outros movimentos sociais progressistas, movimento de consumidores, ecológicos, antirracistas, feministas, etc. Muitas das energias contestatórias contidas no movimento sindical devem ser deslocadas para a articulação com estes outros movimentos. Além disso precisamos ser capazes de organizar os setores excluídos da economia formal, rompendo a barreira que existe entre os trabalhadores “integrados ao processo produtivo em relação àqueles trabalhadores em tempo parcial, precário, “terceirizados”, subempregados, da economia informal, rompendo com a logica que defende exclusivamente suas perspectivas de categorias profissionais.

  • Desafio organizativo: é necessário um sindicalismo de base, radicalmente democrático onde o peso dos aparelhos nos processos de decisão seja drasticamente limitado e os processos de decisão coletiva usem todas as forma de democracia. Ficar atentos aos perigos da cooptação de lideranças por patrões e governos, da institucionalização dos sindicatos, do cupulismo. Pensar e construir novas formas de organização e mobilização que inclua a nova composição da classe trabalhadora, especialmente as mulheres e a juventude.

  • Desafio da lógica reivindicativa: necessidade de saber articular as opções de contestação e participação, confronto e negociação, nas muitas combinações possíveis entre ambas e nas mudanças entre elas de um momento para o outro, de uma empresa para outra, de um setor para outro. O importante é que em cada opção cada uma das estratégias seja adotada ou reivindicada com autenticidade. “Contestação genuína em vez de contestação simbólica; participação em assuntos importantes em vez de participação em assuntos triviais” .

  • Desafio da formação: passamos por momentos de dificuldades na renovação de lideranças e lacunas na formação. O investimento em formação deve ser prioridade. Os sindicatos precisam abordar as novas realidades do trabalho, inclusive com o crescente ingresso de jovens. Só assim poderemos dar respostas ao complexo debate de ideias que permeia a sociedade e os próprios locais de trabalho – onde o patronato disputa a mente do trabalhador.

  • Desafio de ampliar o raio de ação: O movimento sindical precisa transcender à luta corporativa, econômica. Deve incorporar outros elementos de contra-ordem como a democratização da tecnologia (movimento software livre, regulamentação da mídia), economia solidária, mobilidade urbana, movimentos de gênero, raça, livre orientação sindical. Participar da luta pela terra, democratização das comunicações, cultura, entre outras questões. Enfim, incorporar-se e incorporar as várias iniciativas populares de um mundo paralelo que teima em aflorar cotidianamente, enfrentando a lógica do capital, contribuindo para a construção de um movimento contra-hegemônico, articulando grandes movimentos de massas.

  • Desafio da superação da burocratização: Se faz premente romper com a tendência crescente da excessiva institucionalização e burocratização do movimento sindical, que se distancia das bases sociais. Muitas vezes salas, celulares, carros são mais importantes que a luta cotidiana na defesa dos trabalhadores.

  • Desafio da ética: Na discussão de ética devemos estar atentos para que as posturas estejam de acordo com os discursos. O neoliberalismo utiliza habilmente do descolamento entre o que se fala e o que a população vive e vê. não podemos aceitar a “prática que não pratica o que diz”. Precisamos nos diferenciar das posturas equivocadas e perigosas por que passam setores da chamada esquerda. Ênfase desenfreada pela disputa de espaços políticos institucionais, por cargos e aparatos. Não negamos a necessidade de ocupar espaços políticos, mas devem servir como trincheiras para que mudemos o mundo, para que possamos aglutinar novos companheiros conscientes da necessária transformação. Deve servir para que busquemos o novo homem, “para que a frustração não seja a tônica e sim a esperança realizada nas ações cotidianas e não nas estratégias de sobrevivência organizadas em torno da economia doméstica e da ascensão social graças à ação individual acima da classe, que tendem a converter-se em norma”. (James Petras).

sábado, 2 de maio de 2015

TRAGÉDIAS DESMONTANDO FARSAS



“A história acontece primeiro como tragédia, depois se repete como farsa”. (frase de Karl Marx na sua obra 'O 18 do Brumário de Luís Bonaparte'.

Muitas vezes uma tragédia serve para escancarar farsas montadas pelas elites.

O primeiro de maio tem sua origem em uma tragédia.

O Massacre de trabalhadores em Chicago, escancarando a estupidez do capitalismo americano. Greve Geral e manifestações por melhores condições de trabalho gerou uma brutal repressão policial ocasionando a morte de dezenas de trabalhadores e cinco sindicalistas foram condenados à morte.

O neoliberalismo implantado no Brasil nos anos Collor/FHC foi uma grande tragédia para os trabalhadores brasileiros. 

Privatizações, desemprego, perda de direitos, soberania comprometida. Sofrimento, dispersão, falta de perspectiva.

Nos tempos atuais esse modelo busca voltar a se impor, como farsa, mais autoritários e gananciosos.

Duas tragédias tornam-se um divisor de águas, mostrando a farsa das gestões neoliberais e do descaso das elites para com os interesses populares.

A PL 4330 se for implementada será uma grande tragédia.

Mas o debate que provocou conseguiu mostrar, de forma muito clara, que é um projeto extremamente favorável aos empresários e prejudicial aos trabalhadores. 

A sanha das elites não tem limites. Elegeu um congresso serviçal que vai tentar enfileirar várias medidas danosas ao povo trabalhador.

A trágica repressão aos professores no Paraná, onde uma greve legítima é tratada de forma selvagem, mostra o DNA autoritário da direita brasileira, onde o PSDB tornou-se seu esteio.

O motivo do protesto do dia 29 - a tentativa de evitar a utilização do Fundo de Previdência dos funcionário para fazer caixa - mostra a visão de apropriação do Estado por estes setores, onde o povo é coadjuvante.

Essas tragédias trazem um novo fôlego para a luta social. Trás maior nitidez ao momento. Mostra quem está, de fato, ao lado do povo e a serviço de quem está a dita oposição. 

Ao ficar cristalino que os deputados estavam pagando a fatura de quem financiou suas campanhas, mostra a necessidade de uma substantiva Reforma Política, especialmente com o fim do financiamento empresarial.

Enfim, deixa claro a farsa que é nossa classe dominante. Fica evidente ser um erro acreditar que a estupidez é inofensiva. Para desencadear a cólera dos imbecis basta pô-los em contradição.

E, para desencadear a resistência dos trabalhadores basta construir objetivos comuns e apostar nas razões dos trabalhadores, menos nas razões governamentais e congressuais.

Onde existe vontade existe uma saída, mas antes de tudo tem que ter vontade. E é nas ruas, nas mobilizações que vamos achando os caminhos, pois “as sociedades que explicitam seus conflitos e criticam seus falsos consensos sociais aprendem a melhorar também como 'sociedade' e não apenas como mercado”. (Jessé Souza)

Agora é continuar disputando a opinião pública com verdades convincentes, buscando envolver mais e mais os trabalhadores e amplos setores populares e desconstituir as farsas que as elites armam, centralizados pela grande imprensa.

Resistir, avançando. Não baixar a guarda, muitos embates pela frente nos esperam.

Algumas tarefas mostram que ainda teremos “muitas emoções” pois “viver é muito perigoso!”

Cerco ao Congresso para evitar tentativas de retrocessos (maioridade; SUS; 4330;..)

Luta pela Mudança na Política Econômica Levyana. Impedir a implementação da MP 664,665.

Reforma Política com fim financiamento empresarial. Devolve Gilmar!

Fim do Fator Previdenciário.

Defesa do SUS

Regulação da mídia e apostar em alternativas.

Refuto que a o momento conturbado que o Brasil atravessa necessita de muita unidade e energia para evitar uma tragédia para os trabalhadores.

Mas também se apresenta a oportunidade de desmascarar as farsas construídas e de realizarmos mudanças progressistas, pois “a crise, a verdadeira crise, é continuar tudo como está” (Walter Benjamin)

quarta-feira, 25 de março de 2015

POR QUEM OS PRATOS QUEBRAM?




"No debate, a máxima tolerância; na ação, a máxima unidade" Antonio Gramsci

Quando lutamos pela defesa dos interesses dos trabalhadores, às vezes, temos que quebrar os pratos. Mas sempre com o inimigo bem identificado, qual seja, as elites e as personificações do capital. Às vezes com alguns grupos que jogam água no moinho da direita

Só justifica quebrar os pratos contra os adversários da classe.

Estamos diante de uma conjuntura “explosiva”, onde a direita assanhada busca derrotar os avanços conquistados conduzidos pelos governos populares e, de lambuja, se a correlação de forças permitir, apear do poder o governo eleito.

A CONTRAF é uma importante ferramenta de luta dos trabalhadores. Tem um papel importante a desempenhar.

Nos preocupa o que ocorreu no 4° Congresso onde se escancarou uma grave crise na direção da Entidade. Uma crise com pouca nitidez para quem não está no meio do processo, ou seja, a maioria dos bancários.

Um Congresso que ocorreu em um momento extremamente complexo da historia brasileira, onde os debates políticos foram praticamente nulos.

Como está delineado o processo, parece que não são pelos bancários que os pratos quebram!

Judicializar, buscar superar a situação de forma burocrática, revela caráter intransigente. Depois de tantos anos compartilhando caminhos e práticas, que tamanha divergência leva a tudo isso? O que está impedindo uma solução dialogada para os conflitos?

Ora, no momento vivido, não temos o direito de que interesses de grupos, incompreensões, incapacidade de construção de consensos, tire o necessário foco de buscar pavimentar os caminhos da resistência e dos avanços necessários.

No campo popular devemos evitar chegar a essa situação pois a unidade é essencial para resistir e avançar.

Não uma unidade formal, sem princípios, meramente para garantir poderes em aparatos. Uma unidade em torno de concepção e prática transformadora.

Pois então, como se constrói a unidade? É na ação e no fraterno, transparente e incisivo - se necessário - debate.

Crise é oportunidade, mas pode ser também um desastre.

Chamamos a todos(as) a buscar reconstituir nossa unidade e mais além, pois o momento impõe ampliar os arcos de alianças no campo popular.

Todavia, talvez seja necessário lavar alguns pratos sujos para azeitar a máquina da Contraf diante dos desafios e dos fardos que temos pela frente.

O primeiro prato sujo a ser encarado é a falta de transparência – A própria crise instalada, cujas causas são de difícil identificação, mostra que a vida da entidade não é muito cristalina.

Devemos superar, também, a estrutura vertical. Em tempos de redes sociais, de um mundo cada vez mais horizontalizado (inclusive nas empresas), é imperativo que incorporemos mais e mais sindicatos/trabalhadores nas formulações das políticas e nas decisões da entidade.

Permitir/estimular/ estruturar-se para ampla participação dos trabalhadores é imperativo.

É preciso superar a democracia de baixa intensidade, onde o cupulismo vigora – As decisões são, em sua maioria, feitas pelo campo majoritário, com dificuldades de incorporação de minorias (ou maiorias?) no processo de deliberação.

Podemos elencar outras questões a serem enfrentadas: a formação de baixa intensidade; a cultura do “pequeno debate” (carros/viagens/celular/estrutura) em detrimento das grandes causas, grande lutas.

É essencial identificar claramente as diferenças. A partir daí, buscar a unidade em cima de propostas concretas, conectadas com uma estratégia de longo alcance, pavimentada por uma tática adequada.

É uma oportunidade de repactuar, com todos atores, a gestão da entidade. Sistematizar um plano de luta ousado. É um momento de resistir para não perder direitos e mais além. Só vamos resistir, avançando.

Momento exige e facilita o debate mais estratégico quanto ao futuro da luta dos trabalhadores e de nossa categoria. Aproximou-se sobremaneira, a demanda imediata dos bancários das grandes questões nacionais.

A Política econômica afeta o dia a dia e o futuro da categoria. Futuro que depende do debate e da disputa sobre os rumos do país.

A questão previdenciária não se resolve somente com negociação com os bancos; Combate à corrupção só com reforma política.

Nossa categoria é afetada pela política tributária injusta. É um setor de classe média que está no meio do furacão. É bastante influenciada pelo ataque midiático e pela propaganda interna dos bancos.

O tacão da PL 4330 está sobre a cabeça da categoria. Uma luta difícil e decisiva para o futuro dos bancários.

Portanto os “pratos sujos” apresentados e os desafios que temos pela frente clamam a unidade. Lavar os pratos para “limpar a cozinha” e preparar a resistência/ofensiva necessária.

Estamos todos no mesmo barco. Problemas, quem não os tem? Mas a alma não pode ser pequena nesse momento. A política é feita de pessoas, os grupos são constituídos de seres humanos.

Nosso time junta os melhores corações e deve estar batendo no rumo dos verdadeiros objetivos dos trabalhadores. Essas energias precisam ser canalizadas para a boa luta.

Para isso é essencial a unidade das esquerdas e muita conversa com o povo, muita luta.

Tudo isso compreendendo a correlação de forças, o assanhamento da direita, na espreita para que retrocessos substanciais aconteçam.

Sem ingenuidades e sectarismos mas acreditando na força do povo, buscando impor nossa pauta, nossas razões convincentes e não, de forma acrítica, abraçar as razões governamentais.

Enfim, precisamos de um trabalho de tradução, que “visa esclarecer o que une e o que separa os diferentes movimentos e as diferentes práticas, de modo a determinar as possibilidades e os limites da articulação ou agregação entre eles”. (Boaventura Santos)



domingo, 8 de março de 2015

ÀS PORTAS DO GOLPE




“Estamos diante de dois futuros possíveis, ambos marcados por uma ruptura com o passado. Um é desesperador; o outro traz novas esperanças. Por definição, nenhum dos dois é infalível; tanto podemos cair novamente quanto nos reerguer. (Alain Touraine)

Temos visto muitas análises pessimistas do momento em curso. De fato é preocupante. Todavia devemos olhar com serenidade os cenários para buscar as oportunidades de transformação que o momento apresenta.

“Quando escrita em chinês, a palavra crise está composta de dois caracteres, um representa perigo, o outro representa oportunidade”.

Portanto, temos que transformar a crise em uma oportunidade de avanços. A derrota só será bebida amarga se concordarmos em tragá-la.

Duas questões estão em disputa:

- A narrativa do processo, numa peleia desigual, com a mídia mentindo e manipulando como nunca visto.

- A vida real, onde as medidas econômicas afetam o cotidiano das pessoas, influenciando comportamentos, posicionamentos, e a própria narrativa.
Devemos disputar essa narrativa, com mobilização e ideias convincentes;

Está claro que as bases parlamentares e partidárias, aliadas do governo, estão movediças e ruindo. Um governo popular, especialmente em uma crise dessas proporções, precisa fincar raízes no único aliado firme, o povo e os movimentos sociais organizados.

Existem poucas dúvidas de que ajustes nas contas governamentais precisam ser feitas. A questão é quais ajustes? As propostas até agora apresentadas, só penaliza o andar de baixo.

As medidas adotadas pelo governo são de alto risco e, sinceramente, espero que dê certo. Conforme o Ministro da Secretaria-Geral da Presidência, “estamos vivendo um período de resistência que será fundamental para recuperar a capacidade da economia já em 2015 para começarmos um novo ciclo de crescimento a partir de 2016.” (Sul21) 

Parece “estratégia Garricha”; espero, que tenham combinado com o “lateral”, o “João (do) mercado”.

Mudar a linha econômica escolhida pelo governo é essencial para que o futuro não seja desesperador. O tarifaço, potencial desemprego, entre outras consequências das medidas escolhidas, podem afastar a base de apoio popular.

Enquanto movimento social, nossa pressão terá que ocorrer coordenado em duas direções, de forma integrada.

- Pressão sobre o Governo para mudar a rota, especialmente das políticas econômicas. O governo escolhe seu caminho sob forte tensão e devemos pressioná-lo para corrigir a rumo.

- Concomitante precisamos, de forma decidida, enfrentar o reacionarismo que busca golpear a democracia. É ofensivo no congresso, votando contra os trabalhadores, com um judiciário ativo no conluio. Nunca é demais ressaltar que tudo é articulado pela imprensa militante/golpista.

O Golpe que falo não é somente contra o Governo eleito. Armam-se tempestades sobre os direitos dos trabalhadores, que poderão ser golpeados pelo Congresso Conservador e pelo Judiciário que julga na perspectiva das elites.

Para enfrentar o turbilhão temos que ter apoios e apelo popular. Não estamos enfrentando voluntaristas desarticulados. É um cerco, com conexões internacionais (vide Venezuela, Argentina), que se fecha sobre o governo brasileiro. Tem uma extensa articulação no parlamento, no judiciário, na Polícia Federal, sendo coordenado pela grande mídia.

Montalban, sintetiza nossas dificuldades e contra quem/o que estamos lidando. Compreendendo que “a pureza teórica de que os cidadãos são livres para se comprometer, buscando uma correspondência entre a proposta política e suas próprias necessidades, está falsificado por diferentes fatores:
 

- O poder econômico, mediáticos e estratégicos onde grupos dominantes com tentáculos internacionais impõe agenda;
- O capital fortalece os aparatos partidários que lhe são mais propensos;
- Elementos culturais, ancorados em ideias instrumentalizadas pelos veículos ideológicos do bloco dominante.


Quando os inimigos atacam de todos os lados, com o desânimo e desorientação de muitos, precisamos construir as condições para deixar de recuar, desfechando a necessária ofensiva. Os movimentos sociais são forças que podem fazer a diferença. Resistindo e fazendo avançar, simultaneamente.

O Governo Dilma poderia ajudar. Infelizmente as medidas tomadas até agora dificultam a ação dos movimentos. É só pauta negativa.

DEPOIS DA CRISE

“É inquestionável que as coisa vão mudar depois da crise. O retorno ao mundo pré-crise não é cogitado. Mas, serão estas mudanças profundas, radicais? Direcionar-se-ão para um bom rumo? Perdemos o sentimento de urgência, e aquilo que até agora se passou assombra o futuro”. (stiglitz)

Não tenhamos dúvida, depois da crise, teremos uma realidade diferente, uma correlação de forças modificada.

Poderemos ter avanços ou amargar retrocessos.

Creio ser consenso entre as esquerdas e setores progressistas a necessidade de reagir/agir contra a tentativa de impor retrocessos ao povo.

Todos apregoam que é preciso ir às ruas, se comunicar melhor. Retomar a iniciativa, sair do córner.

As dúvidas são: por onde começar; o que mobiliza amplas camadas da população.

Não há dúvida que precisamos rapidamente definir uma plataforma unificada que encante o povo.

Guardando paralelos pois são circunstâncias muitos diferentes, gostaria de lembrar a ousadia de Lenin em 1917, que após a primeira revolução democrática em fevereiro, defendeu, já em abril, a necessidade de aprofundar as mudanças e tomar o poder realizando a revolução socialista, que foi concretizada em outubro. Foi taxado como louco por muitos quando apontou essa necessidade. Não teve medo de triunfar!

SEM MEDO DE OUSAR

Ganhamos no voto, não ganhamos em organização. E, principalmente, houve recuo do governo em relação ao discurso da campanha eleitoral.

O antídoto contra o golpe em gestação é aprofundar as mudanças. não devemos ter medo de ousar.

É um momento de resistir para não perder direitos e mais além. Só vamos resistir, avançando.

A tendência pós-crise, é não ficar como está. E cá para nós, também não queremos que fiquemos na inércia. Queremos mais, “muda mais”!

Conquistamos liberdades; precisamos defendê-las! Mas, igualmente, faz-se necessário criar um movimento que, partindo das demandas e das reivindicações as mais diversas possíveis, reavive e ao mesmo tempo controle o mundo político.

Diante disso, precisamos traduzir nossas propostas para que o povo entenda e venha junto na construção das mudanças. Precisamos, com urgência meteórica, sintetizar nossa plataforma.

O debate está nas ruas, aproveitar o interesse da sociedade sobre a política, buscando influenciar a opinião pública. Temos que ter a competência de disputar a narrativa.

Por falar em plataforma, não tenho dúvida que a defesa da Petrobrás é elemento chave. Simboliza a defesa do Brasil, nosso passaporte para enfrentar as desigualdades.

A Defesa da Democracia, contra a tentativa de golpe é elemento essencial. Com a lista da Lava-Jato fica mais fácil de mostrar a necessidade de uma Reforma Política, concentrando as críticas no Congresso Conservador.

Temos um cardápio repleto: Reforma Política; Reforma tributária; Reforma agrária e rural; democratização da mídia...

Enfim, precisamos de um trabalho de tradução, que “visa esclarecer o que une e o que separa os diferentes movimentos e as diferentes práticas, de modo a determinar as possibilidades e os limites da articulação ou agregação entre eles”. (Boaventura Santos)

Precisamos fazer romper o “silêncio da vítimas”, construindo um sólido processo de mobilização com uma plataforma comum e grande espírito de unidade.

Assim, temos a oportunidade histórica de catapultar as bases para avanços consistentes em um novo ciclo de desenvolvimento com igualdade e democracia real.

O dia 12 de março no RS e 13 nos demais estados, é mais um momento desse processo. Devemos jogar todas as nossas energias para uma grande mobilização.

É hora de firmar o timão, e navegar com firmeza para cima das ondas e levar a esquadra Brasil para águas mais tranquilas, liquidando a privataria golpista.