“Estamos diante de dois futuros possíveis, ambos marcados por uma ruptura com o passado. Um é desesperador; o outro traz novas esperanças. Por definição, nenhum dos dois é infalível; tanto podemos cair novamente quanto nos reerguer. (Alain Touraine)
Temos visto muitas análises pessimistas do momento em curso. De fato é preocupante. Todavia devemos olhar com serenidade os cenários para buscar as oportunidades de transformação que o momento apresenta.
“Quando escrita em chinês, a palavra crise está composta de dois caracteres, um representa perigo, o outro representa oportunidade”.
Portanto, temos que transformar a crise em uma oportunidade de avanços. A derrota só será bebida amarga se concordarmos em tragá-la.
Duas questões estão em disputa:
- A narrativa do processo, numa peleia desigual, com a mídia mentindo e manipulando como nunca visto.
- A vida real, onde as medidas econômicas afetam o cotidiano das pessoas, influenciando comportamentos, posicionamentos, e a própria narrativa.
Devemos disputar essa narrativa, com mobilização e ideias convincentes;
Está claro que as bases parlamentares e partidárias, aliadas do governo, estão movediças e ruindo. Um governo popular, especialmente em uma crise dessas proporções, precisa fincar raízes no único aliado firme, o povo e os movimentos sociais organizados.
Existem poucas dúvidas de que ajustes nas contas governamentais precisam ser feitas. A questão é quais ajustes? As propostas até agora apresentadas, só penaliza o andar de baixo.
As medidas adotadas pelo governo são de alto risco e, sinceramente, espero que dê certo. Conforme o Ministro da Secretaria-Geral da Presidência, “estamos vivendo um período de resistência que será fundamental para recuperar a capacidade da economia já em 2015 para começarmos um novo ciclo de crescimento a partir de 2016.” (Sul21)
Parece “estratégia Garricha”; espero, que tenham combinado com o “lateral”, o “João (do) mercado”.
Mudar a linha econômica escolhida pelo governo é essencial para que o futuro não seja desesperador. O tarifaço, potencial desemprego, entre outras consequências das medidas escolhidas, podem afastar a base de apoio popular.
Enquanto movimento social, nossa pressão terá que ocorrer coordenado em duas direções, de forma integrada.
- Pressão sobre o Governo para mudar a rota, especialmente das políticas econômicas. O governo escolhe seu caminho sob forte tensão e devemos pressioná-lo para corrigir a rumo.
- Concomitante precisamos, de forma decidida, enfrentar o reacionarismo que busca golpear a democracia. É ofensivo no congresso, votando contra os trabalhadores, com um judiciário ativo no conluio. Nunca é demais ressaltar que tudo é articulado pela imprensa militante/golpista.
O Golpe que falo não é somente contra o Governo eleito. Armam-se tempestades sobre os direitos dos trabalhadores, que poderão ser golpeados pelo Congresso Conservador e pelo Judiciário que julga na perspectiva das elites.
Para enfrentar o turbilhão temos que ter apoios e apelo popular. Não estamos enfrentando voluntaristas desarticulados. É um cerco, com conexões internacionais (vide Venezuela, Argentina), que se fecha sobre o governo brasileiro. Tem uma extensa articulação no parlamento, no judiciário, na Polícia Federal, sendo coordenado pela grande mídia.
Montalban, sintetiza nossas dificuldades e contra quem/o que estamos lidando. Compreendendo que “a pureza teórica de que os cidadãos são livres para se comprometer, buscando uma correspondência entre a proposta política e suas próprias necessidades, está falsificado por diferentes fatores:
- O poder econômico, mediáticos e estratégicos onde grupos dominantes com tentáculos internacionais impõe agenda;
- O capital fortalece os aparatos partidários que lhe são mais propensos;
- Elementos culturais, ancorados em ideias instrumentalizadas pelos veículos ideológicos do bloco dominante.
Quando os inimigos atacam de todos os lados, com o desânimo e desorientação de muitos, precisamos construir as condições para deixar de recuar, desfechando a necessária ofensiva. Os movimentos sociais são forças que podem fazer a diferença. Resistindo e fazendo avançar, simultaneamente.
O Governo Dilma poderia ajudar. Infelizmente as medidas tomadas até agora dificultam a ação dos movimentos. É só pauta negativa.
DEPOIS DA CRISE
“É inquestionável que as coisa vão mudar depois da crise. O retorno ao mundo pré-crise não é cogitado. Mas, serão estas mudanças profundas, radicais? Direcionar-se-ão para um bom rumo? Perdemos o sentimento de urgência, e aquilo que até agora se passou assombra o futuro”. (stiglitz)
Não tenhamos dúvida, depois da crise, teremos uma realidade diferente, uma correlação de forças modificada.
Poderemos ter avanços ou amargar retrocessos.
Creio ser consenso entre as esquerdas e setores progressistas a necessidade de reagir/agir contra a tentativa de impor retrocessos ao povo.
Todos apregoam que é preciso ir às ruas, se comunicar melhor. Retomar a iniciativa, sair do córner.
As dúvidas são: por onde começar; o que mobiliza amplas camadas da população.
Não há dúvida que precisamos rapidamente definir uma plataforma unificada que encante o povo.
Guardando paralelos pois são circunstâncias muitos diferentes, gostaria de lembrar a ousadia de Lenin em 1917, que após a primeira revolução democrática em fevereiro, defendeu, já em abril, a necessidade de aprofundar as mudanças e tomar o poder realizando a revolução socialista, que foi concretizada em outubro. Foi taxado como louco por muitos quando apontou essa necessidade. Não teve medo de triunfar!
SEM MEDO DE OUSAR
Ganhamos no voto, não ganhamos em organização. E, principalmente, houve recuo do governo em relação ao discurso da campanha eleitoral.
O antídoto contra o golpe em gestação é aprofundar as mudanças. não devemos ter medo de ousar.
É um momento de resistir para não perder direitos e mais além. Só vamos resistir, avançando.
A tendência pós-crise, é não ficar como está. E cá para nós, também não queremos que fiquemos na inércia. Queremos mais, “muda mais”!
Conquistamos liberdades; precisamos defendê-las! Mas, igualmente, faz-se necessário criar um movimento que, partindo das demandas e das reivindicações as mais diversas possíveis, reavive e ao mesmo tempo controle o mundo político.
Diante disso, precisamos traduzir nossas propostas para que o povo entenda e venha junto na construção das mudanças. Precisamos, com urgência meteórica, sintetizar nossa plataforma.
O debate está nas ruas, aproveitar o interesse da sociedade sobre a política, buscando influenciar a opinião pública. Temos que ter a competência de disputar a narrativa.
Por falar em plataforma, não tenho dúvida que a defesa da Petrobrás é elemento chave. Simboliza a defesa do Brasil, nosso passaporte para enfrentar as desigualdades.
A Defesa da Democracia, contra a tentativa de golpe é elemento essencial. Com a lista da Lava-Jato fica mais fácil de mostrar a necessidade de uma Reforma Política, concentrando as críticas no Congresso Conservador.
Temos um cardápio repleto: Reforma Política; Reforma tributária; Reforma agrária e rural; democratização da mídia...
Enfim, precisamos de um trabalho de tradução, que “visa esclarecer o que une e o que separa os diferentes movimentos e as diferentes práticas, de modo a determinar as possibilidades e os limites da articulação ou agregação entre eles”. (Boaventura Santos)
Precisamos fazer romper o “silêncio da vítimas”, construindo um sólido processo de mobilização com uma plataforma comum e grande espírito de unidade.
Assim, temos a oportunidade histórica de catapultar as bases para avanços consistentes em um novo ciclo de desenvolvimento com igualdade e democracia real.
O dia 12 de março no RS e 13 nos demais estados, é mais um momento desse processo. Devemos jogar todas as nossas energias para uma grande mobilização.
É hora de firmar o timão, e navegar com firmeza para cima das ondas e levar a esquadra Brasil para águas mais tranquilas, liquidando a privataria golpista.
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