quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

MEDIDAS LEVYANAS






Depois das reduções de benefícios aos trabalhadores divulgado no final de 2014, começamos o novo ano com uma série de aumentos de impostos. São medidas com potencial recessivo e, como é imposto que afeta a todos, tem um caráter regressivo.

E para arrematar, o veto à correção da tabela do Imposto de Renda, que há muito está defasada. 

A preocupação aumenta diante das constantes declarações da equipe econômica contra o papel de vanguarda dos bancos públicos no financiamento subsidiado.

E agora, mais um aumento da taxa de juros básicos da economia (selic), de 0,5%, acelera a marcha recessiva..

A política econômica do Governo está a caminhar no rumo da ortodoxia, que pode trazer consequências de difícil reversão. 

Se as medidas causarem algum nível de recessão e consequente desemprego haverá um descontentamento considerável. E o que garante que voltaremos a crescer logo ali adiante?

Os riscos devem estar calculados. Mas não é simples a equação. As variáveis econômicas não são tão previsíveis assim.

O governo pode estar sendo inconsequente, ao não calcular os impactos sociais e os desdobramentos políticos.

Se calculou, pode estar sendo imprudente, apostando num caminho que contradiz o discurso eleitoral e que pode não fechar a equação como previsto.

Pode estar sendo insensato, correndo o risco de ficar refém do conservadorismo e dos financistas e distante da base social.

Foi precipitado ao não avaliar outras possibilidades de ajustes.

Porque não ousar e buscar a taxação dos ricos, do patrimônio, as fortunas e heranças e dos fantásticos ganhos financeiros? E uma nova CPMF para a saúde ou previdência?

O que precisamos combater é a lógica Levyana que, no alto da ortodoxia, não consegue ver (ou não quer) que é um modelo que não vem dando certo onde foi aplicado, com o debate caminhando para outras saídas. Até o Obama está propondo taxação para os ricos.

Não é possível persistir com esse modelo de sociedade onde “A parte da riqueza mundial nas mãos do 1% mais ricos subiu de 44% para 48% entre 2009 e 2014. Agora 80 pessoas detêm mais riqueza acumulada do que os 3,5 bilhões de pessoas na base mais pobre da sociedade (para uma população mundial da ordem de 7 bilhões). Este sistema está implodindo. Muitos países estão se tornando desgovernados. Os pobres já não são os resignados de antigamente”. (Ladislau Dawbor).

E sobre essa escandalosa constatação – 1% vai ter mais renda do que 99% da população mundial, sendo que 1% representa apenas 0,7% da população.

O Movimento social, e o sindical em especial, deve disputar os rumos do país. Aliás, já está fazendo ao questionar as medidas prejudiciais aos trabalhadores nos benefícios previdenciários e no seguro-desemprego. Uma agenda de luta está em andamento.

Devemos enfatizar o debate de qual modelo de sociedade os trabalhadores almejam. Quem e como será financiado o desenvolvimento. Avançar para a solução das enormes desigualdades que persistem em nosso país, das maiores concentrações de renda do mundo.

Precisamos descobrir os elos mobilizadores para construir uma grande mobilização social para conquistarmos uma democracia substantiva, real. Uma verdadeira Revolução democrática para que o país não fique refém dos arranjos congressuais.

Onde possamos avançar para uma Reforma Tributária progressiva onde os que tem mais paguem mais. Rumo a uma sociedade onde o meios de comunicação garantam a pluralidade de opiniões e não de meia dúzia de famílias, a serviço da elite retrógrada.

Para isso é essencial a unidade das esquerdas e muita conversa com o povo, muita luta.
Tudo isso compreendendo a correlação de forças, o assanhamento da direita, na espreita para que retrocessos substanciais aconteçam.

Sem ingenuidades e sectarismos mas acreditando na força do povo, buscando impor nossa pauta, nossas razões convincentes e não, de forma acrítica, abraçar as razões governamentais.

Como disse Boaventura Santos, “a vossa luta é a nossa luta; somos 99% e eles 1%; se nos fecham o futuro, abrimo-lo de novo; se nos negam as instituições, a rua é afirmativa; se nos negam a democracia, democratizemos a democracia; e a prova dos nove é a alegria".



Wikcionário:

le.vi.a.no
  1. inconsequente
  2. imprudente
  3. insensato
  4. precipitado

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