CORTINA DE FUMAÇA?
As primeiras medidas e sinalizações
do futuro governo Dilma deixa esfumaçado o ambiente.
A esquerda tem
expectativas de avanços para os setores populares. A campanha
eleitoral da candidata, principalmente no segundo turno, apontou para
isso. Seu discurso eleitoral foi (ou teve que ser) pontuando
diferenças profundas com o ideário conservador. O discurso de posse foi positivo,
reafirmando compromissos.
O que tem preocupado são algumas
medidas anunciadas. Também traz insegurança as falas contraditórias
dos novos ministros.
Seria uma cortina de fumaça escondendo
o jogo? Fazer o mau no começo para que o bem venha na sequência?
Um leve sopro sobre a fumaceira mostra
que as mudanças no seguro-desemprego, aposentadorias e benefícios
previdenciários anunciados pelo governo, inegavelmente, trouxeram reduções nos benefícios.
A justificativa de corrigir distorções
não satisfez, pois as medidas penalizam os trabalhadores, sem
enquadrar os empresários que são partes do processo.
Por exemplo, o grande problema em
relação ao seguro-desemprego é a rotatividade de mão de obra, e
não a malandragem de articular a demissão para ganhar o seguro e
depois voltar a trabalhar em outro emprego. E ampliar o prazo para
ter acesso ao benefício em tempos de alta rotatividade, torna-se
mais problemático.
Como é a rotatividade o grande mal que
assola os trabalhadores, por que não regulamentar a Convenção 158
da OIT que impede a demissão imotivada? Seria uma medida que iria na
raiz do problema e traria amplos benefícios sociais.
Outra sinalização inaceitável é a
abertura de capitais da CEF, abrindo mão de sua condição 100%
estatal. Seria prescindir de um instrumento de regulação do
sistema, que já foi usado com sucesso na crise econômica
persistente.
Caso o capital seja aberto, quem
comprar ações da Caixa exigiria garantias e, por conseguinte, o
acionista majoritário perderia autonomia na gestão. Será que seria
possível manter o seu papel de fomentador das políticas sociais do
governo?
Sem falar nos ajustes de governanças e
adequações às exigências do mercado na estrutura da empresa para
tornar atrativas as ações a serem vendidas.
FOGO À VISTA?
Mas pode ser uma cortina de fumaça
apontando que vem chumbo por aí, com a direita botando fogo na
conjuntura, sendo preciso chamar os bombeiros do centro radical para
aplacar os ímpetos conservadores.
Ou ganhar tempo para consolidar uma
base social para fazer frente à reação?
Ou tudo isso e mais um pouco...
Mais um pouco de aperto para os
subalternos...
ou mais um pouco de medidas
progressistas...
Parece que, de fato, são necessários
ajustes nas contas do governo para fazer frente aos desafios do
desenvolvimento. Mas até agora, de concreto, só vimos medidas que
afetam os “de baixo”. A dúvida não é quanto à necessidade de
medidas. A questão é quais ajustes, quais medidas.
No caso das medidas anunciadas, não
vimos até agora propostas para resolver a essência dos problemas,
atacando a rotatividade de mão de obra, o conluio dos empregadores
nas fraudes, com a ampliação da fiscalização do Ministério do
Trabalho sobre as empresas que estão adoecendo “a rodo” e
despacham os funcionários para a previdência arcar (aliás, a
fiscalização do MTE foi esvaziada). E, para preocupar ainda mais,
surge a proposta de parceria com as empresas para a perícia do INSS.
Deixar a cargo do “lobo cuidar do galinheiro”.
Devemos frisar que essas medidas foram
lançadas sem nenhum diálogo com os trabalhadores.
Creio que, para o governo não ficar
refém do conservadorismo, não há saída sem diálogo social amplo.
Urge pautar o debate quanto a um novo
padrão de sociedade onde se busquem mecanismos de financiamento das
políticas públicas. Com certeza a maioria do povo não quer continuar sendo o principal alvo em um país que, conforme Beluzzo "rico não paga imposto".
Porque não buscar outras alternativas
para atingir o equilíbrio fiscal e para financiar a saúde, a
educação, aposentadoria, etc.?
Talvez quando a fumaça baixar venham
medidas como essas:
-
Imposto para grandes fortunas para custear a saúde;
-
CPMF para custear a proteção social/previdência;
-
Fim do Fator Previdenciário;
-
Convenção 158 para acabar com a rotatividade;
- Correção da tabela do Imposto de renda.
Porque não?
SINAL DE FUMAÇA!
Como as peças do tabuleiro estão em
movimento e o resultado da contenda em disputa, prefiro entender que
os primeiros movimentos sejam um sinal de fumaça, chamando para a
boa luta, para a mobilização e unificação da esquerda, buscando
disputar os rumos do governo, sem ceder ao conservadorismo.
Os movimentos sociais precisam ser
“rebeldes competentes”, organizando a luta necessária, não
jogando água no moinho da direita. Também não nos deixando levar
pelo perigo de raciocinar somente a partir das razões
governamentais.
Há um sentimento de mudança. Um
desconforto com a política realmente existente no país. Toma
lá-dá-cá; corrupção; descaso com a participação do povo;
políticas públicas ineficientes.
Devemos canalizar esse descontentamento
– que não está somente nas ruas, está dentro das casas do povo
brasileiro – para saídas progressistas, caso contrário, poderemos
amargar saídas retrógradas (olha o FHC falando da reforma política
com propostas preocupantes).
Precisamos achar formas resgatar a confiança na atuação coletiva, na
participação cidadã.
Para isso precisamos mobilizar a
sociedade.
Mas para mobilizar a sociedade é
preciso ousar, ter propostas que encantem o povo.
Devemos ter capacidade de traduzir
nossas consignas e descer à morada dos que trabalham para achar os
elos organizadores.
Muitas vezes palavras genéricas não
mobilizam, não deixam claros os objetivos. Ou podem ter duplas
possibilidades, sentidos progressistas ou reacionários.
Alguns exemplos:
Reforma política = fim financiamento
privado; etc.
Reforma tributária = Imposto sobre
Grandes fortunas para Previdência Social; CPMF para saúde;
Redemocratizar a Mídia = não haver
concentração poder econômico; acabar com monopólio;
As brasas estão em movimento e
faiscando. Cabe a nós, do movimento popular, desanuviar o contexto
e, para não engolirmos mais gás lacrimogênio, construir nossa
unidade buscando apontar propostas mobilizadoras, que se possa "pegar
com as mãos".
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