sábado, 29 de outubro de 2011

A LUTA VALE A PENA




Os bancários mais uma vez deram grande demonstração de mobilização. Já faz parte do “DNA” da categoria a capacidade de lutar, condição para haver conquista.

Foi emocionante ver uma mobilização alegre, onde todos comungavam os mesmos objetivos. Mesmo nos períodos mais tensos da greve, não perdemos o sorriso e a tranquilidade. Com sol, chuva, em todos os horários, os bancários estavam nas ruas dialogando com a sociedade, espraiando suas reivindicações.

Muitas vezes no nosso dia a dia de trabalho não conseguimos nem conversar com os colegas. Os métodos de gestão impõem a competição, estimula o individualismo. Atuando isoladamente somos vulneráveis, adoecemos.

Na greve convivemos com objetivos comuns. Consolidamos amizades, exercemos a solidariedade. É um momento de elevação de consciência, de compreensão de que a luta coletiva é transformadora.

Um movimento grevista também é um dos principais momentos para elevar a consciência crítica da população. É uma oportunidade de as pessoas se enxergarem como conjunto transformador.

A aprovação das propostas coroa mais uma campanha vitoriosa dos bancários, em que enfrentamos um cenário econômico e político adverso.

Derrotamos a visão equivocada de que salário gera inflação. Garantimos a continuidade do modelo de valorização do trabalho, como forma de fortalecer o desenvolvimento econômico com distribuição de renda.

Desmascaramos, ainda, visões de administradores públicos, especialmente aqueles que têm origem no movimento sindical e nas lutas sociais, que tentaram desqualificar a greve, tentando intimidar os grevistas, não dialogando.

Comungo da visão do presidente da CUT, Artur Henrique, onde afirma que “devemos lembrar que no Brasil de hoje há ministros e presidentes de estatais que só chegaram lá porque fizeram greves ao longo de suas trajetórias. Esquecer-se disso é jogar contra a proposta de transformação social que tem nos guiado nas últimas décadas. Se queremos construir um novo modelo de desenvolvimento, com ênfase na distribuição de renda, na superação das desigualdades e na afirmação da liberdade, devemos repudiar tal comportamento demonstrado por algumas autoridades públicas nos últimos dias”.

Depois da greve, onde foi construído um clima de união, voltamos mais fortes para os locais de trabalho para enfrentar a pressão, o autoritarismo.

Nossa luta é cotidiana, travada no dia a dia, não somente na campanha salarial.
Voltamos ao trabalho com mais clareza da importância da luta coletiva para que hajam mudanças.

Parabéns grevistas. Demos mais uma lição de vida, de luta, de dignidade. Esse patrimônio construído durante o movimento grevista deve ser preservado com carinho. Assim, nas lutas que temos pela frente, continuaremos sendo vitoriosos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

JUNTOS SOMOS FORÇA!



A greve se anuncia.
Não nos deixam outra alternativa.
É hora de dar um basta!

“Passei por situações de isolamento, fui vítima de fofocas, descrédito, considerada como alguém sem espírito de cooperação, afimaram que eu estava com baixo rendimento e poderia perder minha função de caixa. Tudo isso causou-me forte sofrimento emocional, e até dores físicas.Sou motivo de críticas de colegas Caixas, Gerentes e Assistentes por fazer pausa de 10 minutos após às 16h, quando não há mais cliente esperando nas cadeiras, sendo que teria direito a 10 min de pausa a cada 50 minutos trabalhados no caixa. A NR 17 não é respeitada. Os colegas sentem-se sobrecarregados por culpa minha. Sinto-me constrangida quando vou ao banheiro ou leio emails (...) Tenho feito minha parte, tenho filho de 1 ano e sacrifiquei a amamentação para trabalhar até mais tarde. Minha agência "não tem estrutura" para que eu saia alguns dias às 18h. Chego à agência mais cedo em alguns dias da semana e saio mais tarde quase todos os dias.”

“O clima na agência está péssimo. Os funcionários estão desmotivados e sobrecarregados de trabalho e em nenhum momento isto é reconhecido. O trabalho que cada um executa precisaria de, no mínimo, duas pessoas para executar com agilidade e corretamente (...) todos os dias são mais cobranças e pressão. Cada meta não cumprida, gera uma 'enorme decepção', aumentando as ameaças de demissão. É comum vermos colegas chorando ao longo do dia.” (1)

Tudo tem limite!
Assim não pode continuar.

Os métodos de gestão dos bancos impõe o individualismo, a solidão, a concorrência entre colegas.

“A lealdade e a confiança são corroídas e são trocadas pela desconfiança e o contrangimento de vigiar o comportamento dos colegas, logo considerados como adversários”. (2)

Nossa resposta é a união, a confiança mútua, a mobilização de vontades.
O coletivo é nossa força.

Vamos romper com a violência dos bancos, abrir uma porta frente ao muro do silêncio.

Construir uma grande mobilização, com união, participação e atitude.
Não vamos dar o gostinho aos banqueiros de nos ver divididos, dispersos.

Uma categoria em movimento, organizada e unida, é força, é o antídoto à ganância, à prepotência e à violência dos bancos.

Vamos construir uma grande rede de vozes, com as pessoas lado-a-lado, em movimento.

Vamos ecoar nossa indignação e nossa vontade de mudanças.

“Num eco que reconheça a existência do outro e não tente dominar ou emudecer o outro.

Um eco que se transforma em muitas vozes, em uma rede de vozes que, diante da surdez do poder, opte por falar ela mesma sabendo-se uma e muitas, conhecendo-se igual em sua aspiração a se fazer escutar.

Uma rede de vozes que nasce resistindo, reproduzindo sua resistência em outras vozes ainda mudas ou solitárias.
Segue uma grande bolsa de vozes, sons que buscam seu lugar ao lado de outros”. (3)

Vamos gritar juntos um grande Basta!

Vamos juntos construir uma grande mobilização, uma grande greve.

Ombro-a-ombro, vendo-nos como iguais, mesmo nas diferenças.

Unidos somos força.

Assim venceremos.

À luta companheiros e companheiras!


(1) Depoimentos da Campanha tudo tem limite do SindBancários
(2) Christoph Dejours - psicanalista, estudioso sobre organização do trabalho e saúde dos trabalhadores
(3) Declaração do Exército Zapatista de Libertação Nacional - México

domingo, 20 de março de 2011

MOVIMENTO SINDICAL E CULTURA PARTE 3



Cultura como processo


A ação cultural deve ser vista como um processo, não uma série de eventos, com um fim em si mesmo, ou sem relações concatenadas.
A cultura como processo significa um movimento de irrigação constante, onde sua dinâmica constitua-se de complementariedades que forme um todo coerente.
Nesse sentido destaco alguns elementos que julgo essenciais:


Ação cultural para a libertação


Paulo Freire nos ensina que “enquanto a ação cultural para a libertação se caracteriza pelo diálogo, a ação cultural para a domesticação procura embotar as consciências”.
Esse é o grande embate – a libertação cultural e social – pressuposto para a transformação social. Nesse rumo é preciso possibilitar aos trabalhadores a compreensão crítica da “verdade de sua realidade”, denunciando os mitos veiculados pelas classes dominantes.
“Desde que a consciência é condicionada pela realidade, a conscientização é um esforço através do qual, ao analisar a prática que realizamos, percebemos em termos críticos o próprio condicionamento a que estamos submetidos” (Paulo Freire)
Ação cultural para a liberdade é tornar as tecnologias livres, acessíveis ao povo; garantir aos dominados espaços para fruição e produção cultural; significa lutar para democratizar a comunicação, onde o povo se veja e solte sua voz.


Transversalidade da cultura


A cultura está contida em todas as esferas sociais. Para a ação sindical é importante compreender que tem grande transversalidade.
Enfrentar o patronato nas campanhas salariais ou mesmo no dia-a-dia laboral, pressupõe disputar valores, ideias, objetivos.
Abordar a saúde dos trabalhadores pressupõe revelar a realidade nua e crua que adoece e mata. (mesmo porque nessa realidade, por mais lógica que seja a relação causal do adoecimento com o ambiente, nem sempre os trabalhadores e a sociedade conseguem ver através das construções sociais que “escondem” a verdade).
Discutir formação sem compreender as variantes culturais é limitar o raio de efetividade.
Enfim poderia continuar exemplificando, mas o que precisamos deixar claro é que a cultura tem o potencial de cimentar as várias ações, dando unidade, coerência e maior potencialidade.


Construindo redes


O movimento sindical tem uma cultura de organização verticalizada. Herança getulista, sua estrutura é por categorias, com limites para a articulação entre os Sindicatos e destes com a sociedade.
O Novo Sindicalismo inovou, buscando avançar na relação intersindical, na relação com outros setores do movimento popular e também entre os trabalhadores nos locais de trabalho.
Mas a força da estrutura limita os avanços e, em alguns casos retrocessos estão ocorrendo.
A articulação de redes é uma realidade no mundo atual.
O movimento que culminou com o FSM, é fruto de articulação de uma rede de organizações.
O movimento sindical deve recuperar a capacidade de constituir ampla articulação social, tanto para “fora” - com os movimento popular, da luta pela terra, intelectuais, etc. - como para “dentro” - com os trabalhadores, nos ambientes de trabalho.
No processo de disputa da hegemonia social trabalhar colaborativamente, em rede, é essencial. Nesse rumo devemos utilizar a tecnologia existente para a disputa de ideias (twitter, blogs, TV e radio WEB), mas também organizando os trabalhadores no rumo da cooperação.
Sempre preocupando-se com o conteúdo, questão elementar, pois a tecnologia pode ser usada tanto para discutir e organizar os trabalhadores sobre novas práticas sociais emancipatórias, como para reproduzir a lógica dominante.


Nossos valores e símbolos


A luta simbólica é tão importante (ou até mais) que a militar. (Celio Turino)
O movimento sindical deve buscar incorporar fortemente a luta movida por valores, sem abandonar a luta concreta na defesa dos interesses cotidianos dos trabalhadores. Essas duas necessidades se entrelaçam.
Cada vez mais os interesses serão satisfeitos quando os valores essenciais do bem comum forem contemplados.
Compreender que os trabalhadores também são cidadãos, consumidores, pais e mães, protagonistas da existência, é essencial para compreender que precisamos disputar os valores “vendidos” pelas empresas e pelas classes dominantes.
É política de tiro curto pensar somente no aumento da campanha salarial, sem garantir melhorias nos serviços públicos, nas condições de trabalho, na transformação efetiva da sociedade.


Educação para a liberdade


A formação é elemento estratégico para a luta sindical. Não pode restringir-se a atividades pontuais, deve ser entendida como um processo permanente.
A formação deve ter como objetivo fomentar um público mais crítico, que vai se formando para exercer uma prática cultural mais elaborada e transformadora.
Ver cinema, fazer arte, visitar museus, brincar, tudo é educação. E educação não pode se restringir a um período da vida, precisa ser entendida enquanto um processo permanente; em que todos participam e invertem papéis, ora educando, ora educador. Uma educação que se faz na rua, nas praças, ocupando todos os equipamentos disponíveis. E todas as pessoas”. (Célio Turino)


Rede de vozes – comunicação democrática


A comunicação deve ser vista enquanto cultura, como direito básico, como meio de expressão de indivíduos e grupos.
Devemos Utilizar a tecnologia para difundir a “nossa cultura” a cultura dos subalternos, mas cuidando para que não seja apropriada pela cultura de massa que tem o “poder” de deturpar, pasteurizar.


Patrimônio Cultural


Um povo que não tem um acervo de conhecimentos, arte e memória não tem referências que lhe permitam projetar-se para o futuro; estará condenado a ser um mero receptor nunca um criador.
Resgatar a memória é importante instrumento de contra hegemonia, de enfrentamento às deturpações.
É importante ferramenta de consolidação de uma cultura de luta e de solidariedade.
Precisamos retratar a história a partir da visão dos trabalhadores.
Um documentário, uma publicação, podem provocar sensações, informar, conscientizar. Para isso devemos ter capacidade de ampla difusão de nossa produção, bem como estimular a criação coletiva em grande número.


Trabalhadores fazendo arte


Os sindicatos devem incorporar e estimular a produção cultural dos trabalhadores. É um elemento que mobiliza pessoas, produz conteúdo, sensibiliza variados atores. O produto artístico é a concretização de um processo e as obras culturais resultantes tem potencial motivador, conscientizador, sensibilizador.
Antes de tudo, cultura é abrir-se para o campo do sensível e também para o cultivo da mente, ou, nas palavras de Bertolt Brecht, “é pensar, é descobrir”. (p. 201)


Denúncia e anúncio


Fincar nossas bandeiras, nossos símbolos, denunciar a exploração, mas também anunciar como superar a situação, buscar os caminhos do novo, construindo alternativas.


É preciso sonhar


A utopia deve estar presente em nossa luta. O que é utopia hoje amanhã pode se tornar realidade. A vida é feita de história, e a história foi construída pelos homens em suas relações sociais, não é algo sobrenatural.


A história é um carro alegre
Cheia de um povo contente
Que atropela indiferente
Todo aquele que a negue.
(Chico Buarque e Pablo Milanez)


É preciso agir


com protagonismo e autonomia. A práxis social é o motor da transformação.


Lutar é preciso


Nunca abandonar a capacidade de luta, sempre buscando "transformar o destino a golpes de vontade” (Chê Guevara).


Essa é a nossa cultura!


O movimento sindical tem uma bela história de lutas, resistências, protagonismo. Mas também de subserviência, peleguismo. Mas entre avanços e recuos, tem uma história e uma cultura de participação nos processos políticos do país, sempre decisivo nas transformações e conquistas sociais.
Como afirmava Gramsci a cultura é um campo de luta para se determinar significados e disputar a hegemonia social. É central para um projeto de mudança.
“É por meio de suas práticas e instituições que se exerce a hegemonia e onde também se tem de lutar para suplantá-la (Maria Cevasco)


Nossa cultura alia a ação concreta com a esperança, a utopia a ser buscada.
Pois, “quem já viu a esperança não se esquece dela. Procura-a sob todos os céus e entre todos os homens”. (Octavio Paz)

SINDICATO E CULTURA PARTE 1
http://sindicateando.blogspot.com/2010/11/boris-casoy-comete-gafe-ao-ofender.html
SINDICATO E CULTURA PARTE 2
http://sindicateando.blogspot.com/2010/12/movimento-sindical-e-cultura-2.html

sábado, 19 de março de 2011

CONFLITO OU VIOLÊNCIA NO TRABALHO?




O amigo Jailson Prodes enviou colaboração sobre o debate Violência Organizacional versus conflitos no trabalho, surgido após acordo assinado entre CONTRAF e FENABAN. Aí vai....

A cláusula 51 do Acordo Coletivo de Trabalho dos bancários 2011, que trata do Assédio Moral, contém uma armadilha ideológica: dar fim a figura da Violência contra o Trabalhador, tratando-a como mero conflito.

Essa alteração expressa uma visão ideológica de adesão aos interesses patronais. Bem afeita aos que defendem a ideia que não há contradição entre explorados e exploradores.

Marx denunciou a violência no trabalho dentro do sistema capitalista. Dizia ser a exploração da força de trabalho pela classe dominante como danosa à integridade dos trabalhadores.

Também as organizações sindicais e movimentos sociais denunciaram a exploração de trabalho escravo e violência no local de trabalho. Obter o reconhecimento da violência no local de trabalho foi uma grande conquista dos trabalhadores, que lutam por trabalho digno e não adoecedor.


Mesmo assim, o ambiente de trabalho se tornou um campo propício ao assédio moral e sexual, com discriminação de todas as formas, perseguições que resultam em sofrimento e variadas formas de adoecimento. Mas, isso, não é acidental.

O patrão sabe que exerce seu poder de forma violenta e que causa sofrimento e variados tipos doenças, mas não quer que o trabalhador tenha consciência disso.

Com essa objetivo foram criadas novas formas de dominação, com práticas de gestão mais requintadas com o objetivo claro de mascarar ou ocultar a violência.

Para não se sentir explorado pelo patrão, o trabalhador é chamado de "colaborador" e a empresa passa a ser extensão da sua "família". Para não se sentir escravizado, o trabalhador trabalha de graça em troca de "banco de horas". No lugar do chicote existem as "metas" absurdas e o controle da produção resulta em rotinas vividas em ritmo alucinante.

Como não pode admitir a violência, o patrão lança meios de dissimulá-la através de mensagens ideológicas diretas ou subliminares.

A postura do patrão tem justificativa, porque quer preservar sua condição na busca de lucro maior e sem ser taxado de explorador. Mas, por outro lado, qual tem sido o posicionamento dos sindicatos de trabalhadores diante dessa realidade?

Boa parte do movimento sindical de trabalhadores identifica essas mazelas no ambiente de trabalho e se opõe radicalmente. Denunciam a violência no local de trabalho e o tratamento desumano.

Mas, nem tudo são flores, pois alguns sindicatos caem no canto da sereia. Defendem acabar com a violência de forma artificial passando a tratá-la como CONFLITOS no trabalho.

O maior problema dos trabalhadores é que tem dirigentes sindicais que acreditam em papai noel ou, como diria o tio Marx, apostam na colaboração de classe. E, colaboram com a exploração do trabalhador, ao abolir de forma fantasiosa a existência da violência no local de trabalho.

Jailson Bueno Prodes
Dirigente Sindical Bancários de Porto Alegre

sexta-feira, 11 de março de 2011

DOSSIÊ VIOLÊNCIA NO TRABALHO




NEM TUDO É CARNAVAL!

A campanha “Tudo tem limite” do Sindicato dos Bancários de POA recebe denúncias sobre a realidade dos bancários. Abaixo alguns e-mails recebidos que ilustram a brutalidade das organizações bancárias. Somos chamados a reagir coletivamente, não perdendo nossa capacidade de indignar-se.
Saiba mais sobre o projeto


A pressão para cumprir metas individuais é grande...metas estão sendo cumpridas por uns de forma canibalística, arrancando dos clientes verbas para adquirir produtos que não querem(...) se não vender, tá ferrado! Ameaças são constantes”.

Há pressão psicológica no cumprimento de metas. Recebemos Nota Pessoal de hora em hora. Não é força de expressão “hora em hora”, é fato. Nos celulares também as mensagens lotam a caixa de entrada(...)enfim, está virado num campo de concentração(...)é um massacre mental que, por consequência, dá uma sensação de fracasso e incapacidade”.

O Superintendente Estadual tem realizado ameaças de descomissionamento de gerente que não estiverem cumprindo metas diárias e por pessoa, além de notas técnicas pessoais cobrando as metas, nas reuniões com os Gerentes e Superintendente Regional, este ameaça Gerente Geral e Gerência Média. A orientação repassada pelo Gerente Geral é focar nas vendas, as quais devem ser informadas por cada funcionário ao final do dia. A partir disso, é realizado ranking dos funcionários e enviado para todos, via nota pessoal, os nomes dos funcionários que venderam e os que não venderam, uma forma de humilhação para aqueles que não conseguem vender na quantidade em que o banco quer diariamente. Todos os dias recebemos correio dizendo que temos que ter velocidade nas vendas, que não estamos conseguindo atingir tal produto, que devemos engavetar as demandas dos clientes que não forem relacionadas a vendas, para não gastar tempo e energia com demandas que 'não são importantes', e quando o cliente nos cobra sua demanda, precisamos dar desculpas e pedir a compreensão dele”.


Meu colega morreu por parada cardíaca. Ele estava sofrendo e sendo humilhado dentro do banco. Na semana anterior à sua morte, a intensidade das humilhações foi muito grande”.

terça-feira, 8 de março de 2011

DA TORRE DO CASTELO À MORTE DO DRAGÃO




Ainda em homenagem ao dia internacional das mulheres.
Leiam o texto da Marília Bento, de 17 anos. 
Interessante reflexão sobre a opressão/emancipação das mulheres.
Uma luta que se renova.
Literatura, política, história, e afirmação: as mulheres podem!


Não percam, excelente texto.

Aí vai o link


http://recantodasletras.uol.com.br/ensaios/2836196

EMANCIPAÇÃO DA MULHER, EMANCIPAÇÃO HUMANA

Homenagem às mulheres. 

Um dia para refletir, ganhar força para a luta pela emancipação das mulheres, que será a emancipação dos homens, da humanidade.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

POR UMA SUBSTANTIVA PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES



O amigo Eric Calderoni postou um comentário interessante.

Enfatiza a "necessidade de amadurecermos o debate dentro do movimento social, sindicatos e academia, sobre a viabilidade das ferramentas de combate à humilhação sistemática no trabalho".

Afirma que, "se por um lado, tem sempre o macro-Marxismo, válido, de que enquanto houver expropriação, haverá exploração, que leva à estropiação e má distribuição, por outro lado, podemos, comendo pelas bordas, pensar em formas de irmos melhorando as atuais relações de trabalho, até mesmo como forma de conscientização do trabalhador".

Questiona: "Quais ferramentas seriam realmente efetivas? Em que direção deveria atuar o movimento social/sindical no que se refere a isso?”

Em minha opinião as instituições de segurança não estão conseguindo dar conta dessa realidade.

Se esperarmos pelo Estado os trabalhadores continuarão morrendo.

É precária a estrutura dos organismos e instituições responsáveis pela proteção à saúde dos trabalhadores.

As empresas adotam medidas cartoriais, um aparentar fazer, a fim de fugir de eventuais fiscalizações ou ações judiciais.

Como exemplo da ineficácia dos PCMSO relato um caso onde o Sindbancários de Porto Alegre solicitou uma audiência de mediação na DRT objetivando discutir a qualidade do seu PCMSO de um banco.

Foi entregue ao sindicato uma cópia do referido programa, que segundo a médica responsável apresentava todos os requisitos legais.

As contradições saltavam os olhos. Ao mesmo tempo que reconheciam que o trabalho bancário apresenta um grau de risco 2, em todas as funções relatadas no programas a opinião do médico era: “RISCOS INEXISTENTES”.

Nenhum exame apresentava anormalidades, embora dois bancários do referido banco, do departamento investigado, estivessem afastados do trabalho, com um amplo histórico de sequelas decorrentes do trabalho.

As CIPAS que poderiam ser um instrumento de empoderamento dos trabalhadores estão, em sua maioria, instrumentalizadas pelos SESMT das empresas.

O controle social é um conceito limitado. Cotidianamente os trabalhadores são vítimas de violência sem interlocutores efetivos.

Na superação dessa realidade não existem fórmulas prontas. Mas existem referências.

Creio ser necessário reafirmar o princípio da não delegação. Não podemos nos iludir com mudanças “pelo alto”.

Ao institucionalizar-se o movimento atua em terreno onde o capital tem grande mobilidade.

Não delegar não significa isolar-se, excluir parceiros. Pelo contrário, o próprio Modelo Operário Italiano foi construído com a ajuda de técnicos e vários avanços conquistados no Brasil foi com parcerias entre variados atores.

Mas o diferencial é que os trabalhadores devem ser protagonistas destacados.

Creio ser imprescindível uma substantiva participação social, garantindo autonomia e liberdade de organização aos trabalhadores, criando instrumentos de empoderamento, como o direito de fiscalizar os ambientes de trabalho pelos sindicatos.

Porque não incorporar de forma efetiva os sindicatos na rede de vigilância em saúde, empoderando essas entidades, aproveitando sua capilaridade e proximidade com os trabalhadores?

Estão a ocorrer variadas iniciativas interessantes, mas acabam por ser isoladas, uma vez que não fazem parte de um processo sistêmico, que incorpore, de fato, o protagonismo dos trabalhadores.

Não perdendo de vista que o modo de produzir capitalista é produtor de violência, precisamos dar efetividade a nossa pauta, a nossas exigências.

Quando conseguimos avanços foram fruto de estratégias e ações comuns, com mobilização social.

A luta pelo reconhecimento das Lesões por Esforços Repetitivos é um exemplo disso.

No atual momento necessitamos rearticular um amplo movimento que tenha bandeiras comuns e ações integradas. O rebaixamento de nossas demandas precisa ser superado.

Como afirma Boaventura Santos, “transformar estratégias de sobrevivência em fontes de inovação, de criatividade, de transgressão e de subversão.”

Ser radicais na defesa da saúde. Radical no sentido que Marx defendia:
“Ser radical é tomar as coisas pela raiz, e a raiz para o homem, é o próprio homem.”

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

SANTANDER FORA DA LEI




O Banco Santander foi condenado pela justiça a pagar R$ 40 milhões por dano moral coletivo.

Uma vitória importante na luta contra o assédio moral, às exigências de resultados a qualquer custo, a todas as formas de violência sofrida pelos trabalhadores.

Foi êxito da ação coletiva contra a lógica individualizante, do cada um por si.

Desde 2002 o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre vinha denunciando o banco por discriminação aos portadores de doenças ocupacionais e por atitudes de desrespeito aos direitos dos funcionários.

Foram provas documentais e testemunhais onde o os trabalhadores do Santander, participantes do Grupo de Ação Solidária do Sindicato, tiveram ativa participação.

A DRT comprovou as denúncias e o MPT acolheu o pleito, abrindo Inquérito que culminou com uma Ação Civil Pública julgada procedente pelo judiciário.

O Ministério Público do Trabalho na inicial sintetizou a verdadeira cultura do Santander: “...os réus, solenemente, desprezaram a lei, trazendo desconforto à sociedade e merecendo o repúdio desta pela fronta aos dispositivos constitucionais e legais […] A conduta ilícita dos réus, devidamente comprovada nos documentos anexos, afronta não só as garantias e direitos internos constitucionais, como norma convencional da OIT...”

A juíza, no despacho, afirmou o seguinte: ...”restou manifesto nos autos que os réus agiram em evidente afronta ao princípio constitucional basilar da dignidade da pessoa humana...”

A Sentença determina que o Banco Santander não submeta, permita ou tolere que seus empregados e ex-empregados sofram assédio moral, proibindo a exposição destes a qualquer constrangimento moral, especificamente em decorrência de humilhações, intimidações, ameaças veladas, atos vexatórios ou agressividade no trato pessoal.

O Santander deverá emitir Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) sem questionamento sobre a existência de nexo causal da doença com o trabalho.

O Réu deverá elaborar e implementar relatórios anuais do PCMSO com planos de ações para monitoramento dos empregados que retornam ao trabalho após afastamento por doença, bem como plano de ações para adaptações dos empregados portadores de doenças ocupacionais, reabilitados ou não ao trabalho.

Em caso de descumprimento deverá pagar multa diária de R$ 20 milhões por empregado prejudicado.

Citado por Marx n'O Capital, o jornal Times, em 1861, já retratou com clareza a situação dos trabalhadores, que persiste até os dias atuais:

Embora a saúde da população seja um elemento tão importante do capital nacional, receamos ter de confessar que os capitalistas não se sentem inclinados a conservar e zelar por esse tesouro e dar-lhe valor […]. A consideração pela saúde dos trabalhadores foi imposta aos fabricantes”

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

ILUSÃO SINDICAL



Venho afirmando e demonstrando a dura realidade dos trabalhadores e da categoria bancária em especial.

É a violência cotidiana que assola os ambientes de trabalho com consequências físicas e mentais.

Pressão para atingir resultados, medo de não estar apto e ser demitido, ritmo intenso, controle das tarefas e da vida do trabalhador.

O vídeo acima é uma pequena demonstração do problema. O Bancário não se identificou pois haveria represália. Ainda existe um “código penal” nas empresas, onde a democracia não transpôs as portas dos locais de trabalho.

Há tempos o movimento sindical denuncia a situação e busca negociar medidas para mudar essa realidade, especialmente quanto à violência organizacional e o assédio a que são submetidos os bancários para atingir resultados.

Recentemente a Confederação dos Bancários (CONTRAF), com bastante alarde, assinou um acordo com os bancos buscando amenizar a situação.

Infelizmente, em nossa opinião, a proposta acordada é no mínimo inócua, tendendo a trazer prejuízos.

Não significa negar-se a negociar, buscar avanços, mesmo incompletos. Mas o imediatismo que prevalece na ação sindical não pode impedir a estruturação de estratégias que possam se contrapor à lógica perversa do capital.

O acordo em questão deixa muito pouco espaço para enfrentar a realidade de violência e pode deixar vulneráveis os bancários.

Portanto não vale a pena jogar água no moinho da mitologia patronal, assinando um acordo que trás imensas dúvidas e perigos, e rebaixa nossas reivindicações e conceitos.

Primeiro problema: O debate principal e essencial das metas abusivas e os mecanismos para impor aos bancários sua superação é desviado, reduzindo o problema a conflitos interpessoais. É o bancário contra o bancário!

Segundo problema: O protocolo cria mecanismos para encaminhamento de denúncias onde o trabalhador precisa se identificar, sendo que a investigação estará a cargo do banco que tem 60 dias para dar uma resposta.

Tenho muito receio de estimular os bancários a denunciar para o banco, identificando-se. O programa não dá nenhuma segurança para o denunciante.

Sempre nos preocupamos em preservar o denunciante pois aprendemos com nossa militância que “não dá para confiar em patrão”, pois como nos ensina Marx, “não depende da boa ou má vontade do capitalista individual. A livre concorrência impõe a cada capitalista individualmente, como leis inexoráveis, as leis imanentes da produção capitalista”.

Terceiro problema: Pode criar a ilusão de que os bancos são bem intencionados, desarmando a categoria no necessário enfrentamento de classe. A Segurança do Trabalho afirma que utilizar um Equipamento de Proteção Individual (EPI) danificado, com a ilusão de estar protegido, é extremamente perigoso.

Quarto problema: Não garante a participação do sindicato no processo de apuração das denúncias. Esta garantia seria fundamental para que o bancário denunciante se sinta acolhido, protegido no processo de apuração. Uma apuração de denúncia mal encaminhada pode produzir prova contra o denunciante, em favor do banco e do denunciado.

Quinto problema: A exemplo de outros programas cosméticos como Programa de Prevenção da LER e Programa de Reabilitação Ocupacional acordados com a FENABAN, esse tende a não ter eficácia. Além disso pode trazer prejuízos. Já nos deparamos com o Programa de Prevenção de LER anexado, como defesa, em vários processos que o sindicato ajuizou contra os bancos.

Principal problema: Rebaixa nossos conceitos - O sofrimento e adoecimento imposto aos trabalhadores são originados pela forma como se organiza o trabalho, gerando a violência organizacional!

Quando adota-se o conceito de conflitos no trabalho joga-se água no moinho da visão patronal que sempre busca descaracterizar o nexo com a organização, individualizando o problema.

Esse tipo de acordo materializa uma visão sindical de colaboracionismo. Desarma ideologicamente a classe, sem avanços efetivos.

Como afirmam Araújo e Ferraz, “a parceria sindicato-empresa tende a ser um item da pauta política do sindicalismo atual. A absorção desse pressuposto está embasada na ideologia da qualidade total. Nela procura-se estabelecer com o trabalhador uma relação de igualdade de interesses, onde o empregado assuma a posição de colaborador. O discurso ideológico tem poder de persuasão e atinge os dirigentes sindicais que assumem essa tipologia...Ao se reconhecer como colaborador do capital, ele adere à ideia de conjunção de interesses, ao mesmo tempo, distancia-se da possibilidade de constatar o conflito de classe, favorecendo o processo de subsunção ao capital”.

Essa lógica colabora para construir o mito da não-violência, pois os bancos afirmam que as metas não são abusivas, “são desafiadoras”, e que os conflitos são fruto da ação de indivíduos, não tendo nada a ver com a organização.

Os bancos afirmam que a Violência é algo acidental, um surto, uma onda, uma epidemia (de perversos?). A violência é passageira, momentânea e pode ser afastada.

Assim a função do mito é admitir que o assédio/conflito existe (é um fato inegável) mas assegurando que não possui um laço essencial com a política dos bancos.

Nossa função é de desmascarar os mitos construídos pelo patrão, desvelando a realidade. Saber os motivos reais do sofrimento é passo essencial para adquirir consciência plena para resistir/enfrentar a exploração.

Minha posição de defender a não assinatura do acordo pode ser de um “Dom Quixote” enfrentando os “moinhos de vento”, mas creio que o acordo é prejudicial e que não estamos numa fase defensiva.

Temos vários exemplos de que é possível fazer o enfrentamento com ação sindical concreta e ofensiva, utilizando a legislação vigente e a organização dos trabalhadores.

Luto para que “o individualismo exacerbado que marca a modernidade não sirva como argumento para uma ação fragmentada, onde os interesses coletivos são dissolvidos e as pautas sindicais assumem a flexibilidade necessária para as prioridades do capital”. (Araújo e Ferraz)


domingo, 9 de janeiro de 2011

FÉRIAS E APROPRIAÇÃO DO TEMPO


Quando em férias: um “almoço” em volta do guarda-sol, com sanduíche, água e suco quente, cerveja “fresquinha”; um sol escaldante, areias nos dentes, ardência no lombo. Quando em férias, torna-se um banquete, momento de integração, todos sorrindo, contentes.

Na rotina diária: as refeições são momentos de desencontro, meras situações de alimentar o corpo biológico para estar apto a continuar trabalhando, reproduzindo a engrenagem social.

Quando em férias: voltamos a ser crianças, fazemos coisas inimagináveis em nosso rotineiro dia-a-dia...fazemos castelos de areia; “pegamos jacaré”; fazemos xixi na água ou atrás da moita.

Na rotina diária: adultos chatos.

Quando em férias: voltamos a sorrir por qualquer bobagem (Está bem que muitas vezes estimulados por uma caipirinha). Somos mais alegres, solícitos, mais pacientes. Andamos mais devagar, o tempo cronológico nos castiga menos.

Na rotina diária: Impaciência, sempre correndo, sem tempo de olhar para o colega.

Quando em férias: somos mais carinhosos. Beijamos mais vezes nossas mulheres. Damos mais atenção à nossos filhos. Damos vazão a nossos sentimentos que ficaram represados pela rotina diária.

Na rotina diária: o beijo é maquinal. Nossos filhos incomodam quando pedem para brincar ou demoram para dormir – não incomoda teu pai, ele está cansado.

Quando em férias: cultuamos o corpo, caminhamos, nadamos, comemos peixes, saladas, comidas saudáveis.

Na rotina diária: comemos cheese, sanduíches, comidas gordurosas. O grande exercício é subir no ônibus ou entrar no carro.

As férias são pequeníssimas parcelas do tempo em que podemos administrá-lo.

Na rotina diária somos enfraquecidos pelas exigências, em uma rotina de sobreviventes. O trabalho hierarquizado, luta pelo emprego, o medo, a angústia, o estresse. Tudo isso diminui nosso sorriso, a vontade. 

Somos outros sendo o mesmo, meras “carcaças do tempo”.