quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Una Delgada Linea


Publico interessante artigo de Carlos Bouzas, publicado no Jornal da PIT/CNT do Uruguai  Trata sobre a necessária autonomia dos sindicatos e a busca da unidade na diversidade.


UMA DELGADA LÍNEA (UMA TÊNUE LINHA)

No mês de maio de 1977, realizou-se, em Barcelona, o XXXI Congresso Federal da União Geral dos Trabalhadores da Espanha (UGT). No ato inaugural falou Felipe Gonzalez, que exercia a Secretaria Geral do Partido Socialista Obrero Espanhol (PSOE). 

Em seu discurso, muito bem recebido pelos congressistas, comentou o laço indissolúvel entre a UGT com o PSOE, observando que “se os espanhóis derem ao PSOE a responsabilidade de formar um governo, essa lealdade institucional deve ser respeitada ao pé da letra”.

E assim ocorreu. Em outubro de 1982 o PSOE ganhou as eleições nacionais obtendo uma cômoda maioria parlamentar.

Três anos depois (1985) a Confederação Sindical de Comissões Obreras (CC.OO.), a outra grande central sindical espanhola vinculada ao Partido Comunista da Espanha (PCE), convocou uma greve geral para questionar uma resolução do governo do PSOE relativa ao cálculo das pensões. A UGT não acompanhou esse chamamento, seguindo fielmente ao pacto que aludimos acima. 

Mas este acatamento originou um distanciamento entre os líderes do PSOE e o secretario geral da UGT Nicolas Redondo, que foi acompanhado pelo, na época, prefeito de Madrid, o professor Enrique Tierno Galvan.

O distanciamento aprofundou progressivamente, ao ponto que, na seguinte convocação de greve geral, em 1988, contra a política econômica, ocorreu conjuntamente entre a CC.OO. E a UGT.

Desde então até nossos dias, a relação entre as duas organizações tem mudado. Na atualidade, novamente há um distanciamento.

Qual é o pecado original? Está bem esse relacionamento? Quem ganha e quem perde? Tem algo a ver este exemplo com a Frente Ampla e a PIT-CNT?

Para começar a deixar claro o terreno, vale a pena lembrar (ou informar) que tanto o PSOE como a UGT, foram fundados pelo líder histórico do socialismo espanhol, Don Pablo Iglesias; o primeiro em 2 de maio de 1879 em Madrid e a segunda em 12 de agosto de 1888 em Barcelona. 

É razoável que se invoque o caminho comum, chegando ao extremo que o estatuto do PSOE determinam que um dos deveres de um bom socialista é filiar-se à UGT.

O movimento sindical uruguaio teve sua origem vinculada às grandes correntes de pensamento que reivindicam a defesa do trabalhador explorado (anarquistas, socialistas, comunistas, cristãos) mantendo-se à margem da fidelidade aos partidos e organizações que os inspiraram.

Agreguemos a isso a circunstância de que a partir da década de cinquenta do século XX, foram os trabalhadores organizados sindicalmente que colocaram em questão a necessidade da unidade para incrementar suas forças, uma época em que começou a tremer o sistema democrático em nosso país.

E ao redor de quinze anos depois, lograram criar a ferramenta (CNT). Para isso foi necessária muita discussão, tendo claro por parte de todos, que o objetivo da unidade era superior aos obstáculos ideológicos e mesmo metodológicos.

Nasceu assim o conceito de unidade na diversidade, que implica que não renuncia a seus princípios, mas se obriga a que estes não ponham em perigo o trabalho e a ação unida de todos os trabalhadores organizados sindicalmente. E o sistema funcionou, a tal extremo que atravessou onze anos de luta clandestina (1973-1984) emergindo dela com a mesma estrutura, os mesmo conceitos, que foram encampados por uma nova geração que emergiu com o nome PIT.

E, curiosamente, o exemplo do movimento sindical foi reconhecido pelas expressões políticas da esquerda uruguaia, conformando a Frente Ampla no ano de 1971, hoje atuando como partido governante.

Diferente daquele discurso de Felipe Gonzales de 1978, nenhum dirigente político de esquerda ou governante, reclama um pacto de irmandade entre a força política e a organização sindical.

E creio que está correto, porque a função do governo está marcada pelo contexto nacional, regional e internacional onde deve atuar buscando avançar no cumprimento de seu programa. Enquanto que a função do movimento sindical é de defesa dos interesses da classe que representa. 

Ambos os caminhos nem sempre são coincidentes e as vezes devemos olhar muito bem para ver se são convergentes. Há uma linha que os separa necessariamente, dado que suas funções são distintas.

Nesse último aspecto creio ser necessário prestar mais atenção. Que balanço fazemos do desenvolvimento do nível de vida (salário, benefícios sociais, aposentadoria e pensões, criação de fontes de trabalho) e da democratização das relações institucionais (fomento das organizações, respeito aos direitos humanos e especialmente sindicais) em cada governo, bem como quanto a nossas reivindicações imediatas não atendidas ou atendidas parcialmente?

Nesse terreno sempre haverá desencontros que inevitavelmente serão explorados, aproveitados, magnificados por aquelas forças políticas que veem com preocupação a implantação de governos progressistas em nosso país e aproveitam qualquer circunstância para criar um foço – mais fundo possível – entre o governo e seu partido com as organizações sindicais que inspirou esse sistema uruguaio e que está dando bons resultados ao conjunto da população.

A responsabilidade compartilhada de ambos – governo e central sindical – radica, a meu juízo, em manter permanentemente uma discussão fluida na procura das melhores soluções, que nunca são as ideais.

Mantendo sempre essa delgada linha.
 

3 comentários:

  1. Interessante VC ler o artigo sobre Reforma Sindical publicado no www.correiodacidadania.com.br, escrito por Waldemar Rossi, há aí ótimo artigo intitulado: Cuba: Sob o Signo da Restauração Capitalista.

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  2. Lula consolidou o capitalismo e instrumentalizou o estado no BRASIL, artigo em www.correiodacidadania.com.br

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  3. Há uma delgada linea entre o sindicalismo de resultados, que é o resultado do alinhamento das centrais com governos ou partidos (ou patrões), e o neo-peleguismo que já aponta no nosso horizonte.

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