domingo, 19 de dezembro de 2010

DOSSIÊ VIOLÊNCIA NO TRABALHO: A verdadeira (ir)responsabilidade social dos bancos




Abaixo alguns depoimentos de colegas bancários sobre o processo de pressão dos Bancos, onde o que importa são os resultados, sem questionamentos. Esses relatos são frutos do projeto “Tudo tem limite” do SindBancários de Porto Alegre que, entre outras ações, busca que os trabalhadores denunciem as situações de violência a que são submetidos.

Saiba mais sobre o projeto

http://www.tudotemlimite.org.br/

A pressão para cumprir metas individuais é grande...metas estão sendo cumpridas por uns de forma canibalística, arrancando dos clientes verbas para adquirir produtos que não querem(...) se não vender, tá ferrado! Ameaças são constantes”.


O banco nos instrui na questão da responsabilidade social. O banco faz questão disso. Mas quando explico para um cliente que recebe R$ 500,00 por mês e tem um limite de R$ 300,00, que ele precisa saber de quem é os R$ 300,00 – o banco não te dá nada!! Você tem que aprender a controlar seus gastos! Aí sou cobrada”.
Não me cobram mais resultados, sou a primeira na agência. A cobrança é que falo demais. Há uma contradição nisso – como vou esclarecer as pessoas, cumprir as metas, se não posso conversar com os clientes?

O falar demais não significa a quantidade de palavras, mas o conteúdo delas, pois o que importa é vender, sem condicionantes, sem balizar-se na ética e na “responsabilidade social”.

Essa situação esta me incomodando, estou explodindo. Sou a mais dedicada na agência, mas já estou com fama de insubordinada.

Para vender ela tem que falar, mas somente o que o banco quer que ela fale.

Digo para o gerente – deixa eu fazer do meu jeito!

Só que o jeito dela não interessa aos valores do Banco, mesmo que ela trabalhe bem e traga valores monetários, que é o que interessa ao Banco. Os bancários são pressionados aos resultados, sem levar em conta a ética.

Há pressão psicológica no cumprimento de metas. Recebemos Nota Pessoal de hora em hora. Não é força de expressão “hora em hora”, é fato. Nos celulares também as mensagens lotam a caixa de entrada(...)enfim, está virado num campo de concentração(...)é um massacre mental que, por consequência, dá uma sensação de fracasso e incapacidade”.



Eis aqui, portanto, o homem fora do nosso povo, fora de nossa humanidade. Ele está continuamente faminto, nada lhe pertence a não ser o instante de tortura...Ele sempre tem apenas uma coisa: seu sofrimento, mas não existe nada na face da terra que lhe possa servir de remédio, não há chão para ele colocar seus dois pés, não há apoio onde suas duas mãos se possam agarrar, e, assim, ele é menos aquinhoado do que o trapezista de music-hall, que pelo menos está pendurado por um fio. FRANZ KAFKA

A realidade vivenciada nos contaminou com o pessimismo de Kafka, mas achamos que ainda existem fios pendurando esperanças, pois os trabalhadores resistem. 

Compensamos o pessimismo com o “otimismo trágico”, expresso por Boaventura Santos, porque alia, a uma aguda consciência das dificuldades e dos limites das lutas pela emancipação social, que não sejam facilmente cooptáveis pela regulação social dominante, uma inabalável confiança na capacidade humana para superar dificuldades e criar horizontes potencialmente infinitos dentro dos limites assumidos como inultrapassáveis.

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