O governo Dilma necessitará de apoio popular e de clareza programática.
Caso contrario pode ser engolida pelas articulações conservadoras, capitaneadas pelo próprio PMDB.
Alianças fáceis, visando ocupação de aparatos, sem compromissos programáticos tenderão a levar a esquerda a uma encruzilhada.
A ampla aliança costurada para o governo Dilma preocupam. Parece que o Jobim vai continuar. Gerdau será consultor para a gestão pública.
É preocupante a declaração do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (PT), que lançou um balão de ensaio com viés fiscalista e anti-social, apelidado de “desoneração da folha de pagamentos”.
Não passa de uma ameaça de corte de direitos trabalhistas. Desonerar folha de pagamento significa cortar recursos para essas finalidades, é menos dinheiro pra as áreas sociais.
E o que dizer do Vaccareza, líder governo Câmara Federal, em entrevista à Veja, buscano agradar os setores conservadores atacando a pauta do movimento sindical?
São indícios preocupantes.
Os trabalhadores ainda tem uma enorme dívida a ser saldada.
Nos governos Lula, tivemos poucos avanços na pauta sindical.
Não conquistamos a regulamentação das convenções 158 (demissão imotivada). O fator previdenciário continua existindo. A organização por local de trabalho não é garantida, vigorando o “código penal das empresas”.
Maior democracia e condições de trabalho, jornada de 40 horas e o fim do fato previdenciário são pontos centrais.
Para trilhar o caminho complexo que teremos pela frente é essencial a unidade das esquerdas.
O próprio Lula aponta o exemplo da Frente Ampla como uma possibilidade de unificação das esquerdas. Compreende o novo momento onde os setores conservadores podem rearticular-se.
O vizinho Uruguai mostra a importância da unidade e a capacidade de construí-la.
O exemplo da Frente ampla, inspirada na unidade do movimento sindical, mostra que é possível buscar a hegemonia junto ao povo. Que é possível a unidade na diversidade.
Não devemos renunciar a nossos princípios, mas devemos ter a capacidade de garantir a ação unitária de todos os trabalhadores organizados.
É perigoso jogar todas as fichas nas articulações parlamentares e partidárias.
O cenário é favorável pra que sejam enfrentados os graves problemas sociais bem como trazer avanços aos trabalhadores.
Isto não pode gerar ilusão ou passividade. Afinal, a direita brasileira, que representa os interesses da elite nativa e dos impérios internacionais, ainda tem força.
Ela perdeu eleitoralmente, mas tentará vencer politicamente, enquadrando o novo governo ou investindo na sua desestabilização golpista.
As contradições serão grandes e em todos os quadrantes.
O Movimento Sindical brasileiro ampliou sua divisão após a vitória do Presidente Lula.
Essa divisão se deu em grande medida numa perspectiva de ocupação de aparatos. A lógica “cupulista” e hegemonista inspirou a dispersão.
Os motivadores programáticos foram de menor monta.
Na própria Central Única dos Trabalhadores, o setor majoritário busca impor a lógica da supremacia, quase total.
O novo sindicalismo nasceu enfrentando a burocracia, falta de transparência. Mas, nos últimos tempos, essa lógica voltou a imperar.
O momento atual mostra quão equivocado está sendo essa postura.
O movimento sindical esta perdendo capacidade de exercer efetivo protagonismo, assistindo as articulações superestruturais impor a pauta aos trabalhadores.
O momento é de romper com essa lógica e buscar a unidade da esquerda na luta concreta.
Temos que descer para a planície e organizar o povo, unificar a luta, com programa estratégico claro, exercendo a capacidade de unificar respeitando as divergências.
Urge retomar a prática de um sindicalismo classista e com íntima relação com o povo. Diminuir rapidamente a distância que as direções sindicais se colocaram em relação às bases.
Colocar em movimento os subalternos, apostando na organização popular.
Descer à planície para subir ao planalto e desequilibrar a correlação que os de cima tentam impor.
Superar a inércia hegemonista, dos acordos de cúpula, que não incorpora o povo.
O momento trás muitas possibilidades. Mas não podemos desconhecer as dificuldades.
A unidade ampla da base, a formação do núcleo de esquerda e a opção por um rumo claramente democrático, popular e nacional são os principais desafios do momento.
A unidade das esquerdas se torna um imperativo.