terça-feira, 17 de maio de 2016

A MONTANHA PARIU RATOS


Conquistamos liberdades; precisamos defendê-las! Mas, igualmente, faz-se necessário criar um movimento que, partindo das demandas e das reivindicações as mais diversas possíveis, reavive e ao mesmo tempo controle o mundo político”. (Alain Torraine)

A crise não faz amadurecer os problemas; ela não derruba somente as folhas mortas, mas as próprias árvores”. (Alain Torraine)

Existe um provérbio português, “a montanha pariu o rato”, que aplica-se a todas as coisas pomposamente anunciadas e que na realização produzem uma grande decepção, ou seja, resultado pífio diante da expectativa gerada.

A Montanha chamada Estado brasileiro pariu ratos, facilitado por ilusões de uma classe média manipulada e manipulável.

A jabuticaba brasileira também miscigenou ratos com gatos que proliferam diante dessa ingênua classe média brasileira que acredita em qualquer conto de fadas para adultos.

Como sempre, em nossa história, utilizam o combate à corrupção como meio de ganhar a opinião pública, minando as forças progressistas. E como sempre conseguiram iludir a tal classe média, que acaba por ser linha auxiliar dos intentos golpistas.

Quando os ventos mudam um pouco, os de cima decidem decretar que a subida acabou. Unificam-se para impor sua agenda de diminuir o custo do trabalho, atacando conquistas, jogando a crise nas costas do povo.

Os de baixo buscaram ascender alguns passos montanha acima. Em determinado período foi possível facilitado por ventos mais favoráveis na geopolítica e na economia.

Por um tempo foi possível dividir um pouco do “pirão”, mas quando minguou implementam uma ofensiva para ficar com a montanha só para os endinheirados.

As classes dominantes com volúpia querem o Estado só para eles. Alimentaram o ódio, o fascismo, organizando uma direita retrógrada, homofóbica, racista. Todas instituições articularam-se para buscar recuperar os rumos da travessia para as elites.

Os do topo não aceitam que os de baixo avancem e criaram uma avalanche, articulando a grande mídia, o judiciário, órgãos policiais do Estado e um Congresso fisiológico, implementando um golpe pois pelas urnas não conseguem impor seu projeto regressivo.

Marx afirmou que a história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa. No Brasil a tragédia e a farsa andam juntas.

Não estamos enfrentando voluntaristas desarticulados. É um cerco, com conexões internacionais (vide Venezuela, Argentina, Paraguai, Honduras, etc.), que se fechou sobre o governo brasileiro. Tem uma extensa articulação no parlamento, no judiciário, na Polícia Federal, sendo coordenado pela grande mídia.

O Golpe consumado expressa o final de um período, abrindo-se um novo ciclo. Descortina-se uma nova fase da luta de classe. A crise está a gestar o novo, ou o velho. Os caminhos estão em disputa.

Ou encerra-se o ciclo progressista com a imposição da retomada do neoliberalismo com mais volúpia que na década de 90, ou o projeto progressista se revitaliza e aprofunda as mudanças necessárias. É uma luta de longa duração.

Dia 17 de maio, ficou cristalino a farsa montada no Congresso Nacional, mostrando para a população a desqualificação e falta de integridade da maioria dos deputados, gerando tristeza para os democratas e progressistas de nosso país. A confirmação pelo Senado, sem conseguirem argumentos para justificar os atos foi didático.

Foi um momento de derrota para os democratas, mas também de acúmulo. Ganhamos as ruas, ampliando o apoio popular para a resistência ao golpismo. Conseguimos equilibrar a narrativa, caracterizando como golpistas os golpistas. Os corruptos foram desnudados e Refluiu o apoio da opinião pública

Também estamos avançando no sentido de deixar claros os reais interesses das elites. Acabar com direitos sociais e trabalhistas, abocanhar nossas riquezas, sacrificando nossa soberania. Começa a cair a ficha.

Devemos ter claro que ainda o sentimento é de generalização do descontentamento e persiste um desconforto com o PT e ao governo Dilma. São sentimentos difusos que precisam ser levados em conta.

O Golpe só está sendo possível devido à profunda perda de apoio popular pelo governo. O governo Dilma perdeu governabilidade por articulações golpistas mas também por seus vários erros, especialmente no segundo mandato.

Não vão conseguir enganar todo o tempo. A opinião pública, passo a passo, começa a condenar todo o saco. Estamos em processo, como sempre. As lutas de classe nunca estiveram tão vivas. E, por incrível, quem agudizou-a foi a direita.

Nesses momentos o sentimento de classe e ilusão de classe se aprofundam. Os progressistas precisam de clareza e firmeza para conquistar e transformar a montanha.

A Montanha, o Estado, cheira a falência com uma sensação de fim de tempos e período. Entramos em um processo onde a resistência terá mais peso na balança da correlação de forças. Precisamos de uma ampla frente progressista para acumularmos e retomarmos a ofensiva.

A MONTANHA QUE DEVEMOS CONQUISTAR
as pessoas não se rebelam quando 'as coisas realmente vão mal’, mas quando suas expectativas são frustradas”. (Zizek)

Foram longe demais para recuar. Os ataques continuarão. O alvo principal será Lula, alternativa concreta de vitória em eventual eleição. Criminalizar os movimentos sociais é outra necessidade.

A política que querem impor só é possível com golpe e precisam eliminar quem pode organizar a resistência na defesa dos direitos democráticos, sociais e trabalhistas. Operam “à la Maquiavel” - fazer a maldade no início, reprimindo violentamente para que não se crie a necessária resistência ativa.

A tarefa imediata é não dar trégua ao governo golpista, deslegitimá-lo para que não aplique seu programa reacionário. Negar o golpe significa negar o governo e implica lutar por um novo governo.

Acima de tudo precisamos organizar profunda resistência aos ataques aos direitos sociais e trabalhistas que certamente ocorrerão.

Mas a luta não deve ficar circunscrita somente a processos eleitorais, precisamos de um novo sistema político que deve ser viabilizado por uma constituinte onde o povo seja mobilizado e chamado a decidir.

Fazer a disputa em todos os espaços para, acima de tudo, dialogar e convencer o povo das reais intenções das elites. 

O Central para o sucesso de nossa resistência é que tanto as frações progressistas da classe média – elas também existem – quanto a nova classe trabalhadora e trabalhadores precarizados da periferia, que hoje são feitas de tolas por seus algozes, compreendam que têm muito mais a ganhar com um Brasil mais inclusivo.

Para isso precisamos constituir bandeiras que dialoguem com o sentimento popular. Não poderemos avançar somente com movimento de vanguarda, nem nos movendo somente pelo calendário eleitoral.

São alvissareiras as mobilizações da juventude, dos artistas e intelectuais, da comunidade internacional. Mas rapidamente precisamos superar as dificuldades dos sindicatos de envolver as categorias de trabalhadores em um movimento de massas. Também precisamos tirar o povão do sofá e disputar a classe média.

Há um sentimento de saturação com as instituições. Isto pode potencializar as lutas no próximo período, se soubermos canalizar o descontentamento para que seja feita uma verdadeira faxina, com uma reforma política substantiva.

Devemos continuar afirmando nossa crítica à política econômica. Infelizmente o segundo governo Dilma implementou o programa perdedor que tende a ser aprofundado com Temer. 

Essa postura do Governo nos trouxe dificuldades na narrativa, todavia os movimentos sociais têm denunciado e lutam por outro rumo desde os primeiros momentos, garantindo a credibilidade para continuar apontando um caminho diferente.

Uma tarefa elementar é enfrentar o monopólio da mídia, um verdadeiro quarto poder. Mas essa batalha não deve se limitar aos marcos institucionais buscando regulamentar esses excessos. Precisamos criar formas alternativas de comunicação, especialmente nas redes sociais que tem sido trincheiras importantes de resistência.

O movimento sindical, em especial, não consegue ser contemporâneo na comunicação. Nos comunicamos de forma tradicional, não conseguindo avançar em relação as profundas mudanças tecnológicas, de linguagem e de meios. 

Não é somente saber lidar com as ferramentas. Precisamos avançar também no conteúdo e na forma de comunicar.

Nesses intensos momentos, devemos aproveitar cada ação, cada fato, para acumular forças e convicções. Muitas batalhas estão a ocorrer.

Muitas iniciativas e lutas se espalham pelo país. Canalizar, derrubar os diques que separam essas lutas e unificar em objetivos comuns é que vai dar potência e permitirá sairmos da crise com um Brasil muito melhor e uma esquerda revigorada.

No mundo também, em várias partes, a população questiona as políticas de austeridade e as tradicionais formas de representação, onde as elites se mantém no poder através de conluios e manipulações, de costas para a maioria social.

Urge colocar na ordem do dia uma pauta de futuro que leve os trabalhadores a pensar numa agenda de desenvolvimento, com emprego e renda e com democracia substantiva.

Precisamos acreditar no novo, juntando solidariedades, avançando na mobilização e no convencimento popular. Resistir com coragem, enfrentando cada momento com inteligência e ousadia.


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