“Conquistamos
liberdades; precisamos defendê-las! Mas, igualmente, faz-se
necessário criar um movimento que, partindo das demandas e das
reivindicações as mais diversas possíveis, reavive e ao mesmo
tempo controle o mundo político”. (Alain Torraine)
“A
crise não faz amadurecer os problemas; ela não derruba somente as
folhas mortas, mas as próprias árvores”. (Alain Torraine)
Existe
um provérbio português, “a montanha pariu o rato”, que
aplica-se a todas as coisas pomposamente anunciadas e que na
realização produzem uma grande decepção, ou seja, resultado pífio
diante da expectativa gerada.
A
Montanha chamada Estado brasileiro pariu ratos, facilitado por
ilusões de uma classe média manipulada e manipulável.
A
jabuticaba brasileira também miscigenou ratos com gatos que
proliferam diante dessa ingênua classe média brasileira que
acredita em qualquer conto de fadas para adultos.
Como
sempre, em nossa história, utilizam o combate à corrupção como
meio de ganhar a opinião pública, minando as forças progressistas.
E como sempre conseguiram iludir a tal classe média, que acaba por
ser linha auxiliar dos intentos golpistas.
Quando
os ventos mudam um pouco, os de cima decidem decretar que a subida
acabou. Unificam-se para impor sua agenda de diminuir o custo do
trabalho, atacando conquistas, jogando a crise nas costas do povo.
Os de baixo buscaram ascender alguns passos montanha acima. Em determinado período foi possível facilitado por ventos mais favoráveis na geopolítica e na economia.
Por
um tempo foi possível dividir um pouco do “pirão”, mas quando
minguou implementam uma ofensiva para ficar com a montanha só para
os endinheirados.
As
classes dominantes com volúpia querem o Estado só para eles.
Alimentaram o ódio, o fascismo, organizando uma direita retrógrada,
homofóbica, racista. Todas instituições articularam-se para buscar
recuperar os rumos da travessia para as elites.
Os
do topo não aceitam que os de baixo avancem e criaram uma avalanche,
articulando a grande mídia, o judiciário, órgãos policiais do
Estado e um Congresso fisiológico, implementando um golpe pois pelas
urnas não conseguem impor seu projeto regressivo.
Marx
afirmou que a história se repete, primeiro como tragédia, depois
como farsa. No Brasil a tragédia e a farsa andam juntas.
Não
estamos enfrentando voluntaristas desarticulados. É um cerco, com
conexões internacionais (vide Venezuela, Argentina, Paraguai,
Honduras, etc.), que se fechou sobre o governo brasileiro. Tem uma
extensa articulação no parlamento, no judiciário, na Polícia
Federal, sendo coordenado pela grande mídia.
O
Golpe consumado expressa o final de um período, abrindo-se um novo
ciclo. Descortina-se uma nova fase da luta de classe. A crise está a
gestar o novo, ou o velho. Os caminhos estão em disputa.
Ou
encerra-se o ciclo progressista com a imposição da retomada do
neoliberalismo com mais volúpia que na década de 90, ou o projeto
progressista se revitaliza e aprofunda as mudanças necessárias. É
uma luta de longa duração.
Dia 17 de maio, ficou cristalino a farsa montada no Congresso Nacional, mostrando para a população a desqualificação e falta de integridade da maioria dos deputados, gerando tristeza para os democratas e progressistas de nosso país. A confirmação pelo Senado, sem conseguirem argumentos para justificar os atos foi didático.
Foi
um momento de derrota para os democratas, mas também de acúmulo.
Ganhamos as ruas, ampliando o apoio popular para a resistência ao
golpismo. Conseguimos equilibrar a narrativa, caracterizando como
golpistas os golpistas. Os corruptos foram desnudados e Refluiu o
apoio da opinião pública
Também
estamos avançando no sentido de deixar claros os reais interesses
das elites. Acabar com direitos sociais e trabalhistas, abocanhar
nossas riquezas, sacrificando nossa soberania. Começa a cair a
ficha.
Devemos
ter claro que ainda o sentimento é de generalização do
descontentamento e persiste um desconforto com o PT e ao governo
Dilma. São sentimentos difusos que precisam ser levados em conta.
O
Golpe só está sendo possível devido à profunda perda de apoio
popular pelo governo. O governo Dilma perdeu governabilidade por
articulações golpistas mas também por seus vários erros,
especialmente no segundo mandato.
Não
vão conseguir enganar todo o tempo. A opinião pública, passo a
passo, começa a condenar todo o saco. Estamos em processo, como
sempre. As lutas de classe nunca estiveram tão vivas. E, por
incrível, quem agudizou-a foi a direita.
Nesses momentos o sentimento de classe e ilusão de classe se aprofundam. Os progressistas precisam de clareza e firmeza para conquistar e transformar a montanha.
Nesses momentos o sentimento de classe e ilusão de classe se aprofundam. Os progressistas precisam de clareza e firmeza para conquistar e transformar a montanha.
A
Montanha, o Estado, cheira a falência com uma sensação de fim de
tempos e período. Entramos em um processo onde a resistência terá
mais peso na balança da correlação de forças. Precisamos de uma
ampla frente progressista para acumularmos e retomarmos a ofensiva.
A
MONTANHA QUE DEVEMOS CONQUISTAR
“as
pessoas não se rebelam quando 'as coisas realmente vão mal’,
mas quando suas expectativas são frustradas”. (Zizek)
Foram
longe demais para recuar. Os ataques continuarão. O alvo principal
será Lula, alternativa concreta de vitória em eventual eleição.
Criminalizar os movimentos sociais é outra necessidade.
A
política que querem impor só é possível com golpe e precisam
eliminar quem pode organizar a resistência na defesa dos direitos
democráticos, sociais e trabalhistas. Operam “à la Maquiavel” -
fazer a maldade no início, reprimindo violentamente para que não se
crie a necessária resistência ativa.
A
tarefa imediata é não dar trégua ao governo golpista,
deslegitimá-lo para que não aplique seu programa reacionário.
Negar o golpe significa negar o governo e implica lutar por um novo
governo.
Acima de tudo precisamos organizar profunda resistência aos ataques aos direitos sociais e trabalhistas que certamente ocorrerão.
Acima de tudo precisamos organizar profunda resistência aos ataques aos direitos sociais e trabalhistas que certamente ocorrerão.
Mas
a luta não deve ficar circunscrita somente a processos eleitorais,
precisamos de um novo sistema político que deve ser viabilizado por
uma constituinte onde o povo seja mobilizado e chamado a decidir.
Fazer
a disputa em todos os espaços para, acima de tudo, dialogar e
convencer o povo das reais intenções das elites.
O Central para o sucesso de nossa resistência é que tanto as frações progressistas da classe média – elas também existem – quanto a nova classe trabalhadora e trabalhadores precarizados da periferia, que hoje são feitas de tolas por seus algozes, compreendam que têm muito mais a ganhar com um Brasil mais inclusivo.
O Central para o sucesso de nossa resistência é que tanto as frações progressistas da classe média – elas também existem – quanto a nova classe trabalhadora e trabalhadores precarizados da periferia, que hoje são feitas de tolas por seus algozes, compreendam que têm muito mais a ganhar com um Brasil mais inclusivo.
Para isso precisamos constituir bandeiras que dialoguem com o sentimento popular. Não poderemos avançar somente com movimento de vanguarda, nem nos movendo somente pelo calendário eleitoral.
São
alvissareiras as mobilizações da juventude, dos artistas e
intelectuais, da comunidade internacional. Mas rapidamente precisamos
superar as dificuldades dos sindicatos de envolver as categorias de
trabalhadores em um movimento de massas. Também precisamos tirar o
povão do sofá e disputar a classe média.
Há
um sentimento de saturação com as instituições. Isto pode
potencializar as lutas no próximo período, se soubermos canalizar o
descontentamento para que seja feita uma verdadeira faxina, com uma
reforma política substantiva.
Devemos
continuar afirmando nossa crítica à política econômica.
Infelizmente o segundo governo Dilma implementou o programa perdedor
que tende a ser aprofundado com Temer.
Essa postura do Governo nos trouxe dificuldades na narrativa, todavia os movimentos sociais têm denunciado e lutam por outro rumo desde os primeiros momentos, garantindo a credibilidade para continuar apontando um caminho diferente.
Essa postura do Governo nos trouxe dificuldades na narrativa, todavia os movimentos sociais têm denunciado e lutam por outro rumo desde os primeiros momentos, garantindo a credibilidade para continuar apontando um caminho diferente.
Uma
tarefa elementar é enfrentar o monopólio da mídia, um verdadeiro
quarto poder. Mas essa batalha não deve se limitar aos marcos
institucionais buscando regulamentar esses excessos. Precisamos criar
formas alternativas de comunicação, especialmente nas redes sociais
que tem sido trincheiras importantes de resistência.
O
movimento sindical, em especial, não consegue ser contemporâneo na
comunicação. Nos comunicamos de forma tradicional, não conseguindo
avançar em relação as profundas mudanças tecnológicas, de
linguagem e de meios.
Não é somente saber lidar com as ferramentas. Precisamos avançar também no conteúdo e na forma de comunicar.
Não é somente saber lidar com as ferramentas. Precisamos avançar também no conteúdo e na forma de comunicar.
Nesses
intensos momentos, devemos aproveitar cada ação, cada fato, para
acumular forças e convicções. Muitas batalhas estão a ocorrer.
Muitas
iniciativas e lutas se espalham pelo país. Canalizar, derrubar os
diques que separam essas lutas e unificar em objetivos comuns é que
vai dar potência e permitirá sairmos da crise com um Brasil muito
melhor e uma esquerda revigorada.
No
mundo também, em várias partes, a população questiona as
políticas de austeridade e as tradicionais formas de representação,
onde as elites se mantém no poder através de conluios e
manipulações, de costas para a maioria social.
Urge
colocar na ordem do dia uma pauta de futuro que leve os trabalhadores
a pensar numa agenda de desenvolvimento, com emprego e renda e com
democracia substantiva.
Precisamos
acreditar no novo, juntando solidariedades, avançando na mobilização
e no convencimento popular. Resistir com coragem, enfrentando cada
momento com inteligência e ousadia.