quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

TEMPOS ABISSAIS






 

As coisas mudam no devagar depressa dos tempos” (Guimarães Rosa)



O tempo presente no Brasil está sendo escrito por linhas abissais.



Por mais que o mundo real seja manipulado, produzindo uma névoa sobre os fatos, a política está sendo demarcada.



A cada dia ficam mais nítidas as intenções das elites. Levar o Brasil ao abismo onde os monstros neoliberais buscam voltar com força, sem ter ido.



Com toda volúpia buscam desestabilizar um projeto popular, de nação soberana, menos desigual, com ampliação de direitos sociais.



Para sairmos desse labirinto que se tornou a “conjuntura Brasil”, devemos percorrer os caminhos com a bússola popular.



Essa caminhada sem fim deve ser feita compreendendo as armadilhas plantadas pelas elites.



Mas acima de tudo achar as causas mobilizadoras, com atitudes encantadoras que envolvam, efetivamente, os trabalhadores e os progressistas da nação.



2014 não acabou!



O presente concreto é resultado do passado e está prenhe de futuro”. (Hegel)



Desde 2014 as elites intensificaram seus ataques ao projeto progressista. Tentam golpear a constituição buscando o impedimento da presidenta e também se movimentam para saídas pelo “centro” que nada mais é que uma cortina de fumaça para impor os mesmos objetivos, voltar ao poder e aplicar sua agenda.



O governo Dilma navega nestes mares tortuosos. Seu maior erro é insistir com a política econômica recessiva. Cedeu à ditadura do capital financeiro que potencializa uma crise política sem fim. Submeteu-se às chantagens, tanto do sistema financeiro como dos arranjos políticos das elites, dois temas que, aliás, submetem a sociedade mundial.



Portanto, sustentar-se na pauta popular e reorientar a economia são imperativos, mesmo sendo das tarefas mais difíceis.



2015, resistência popular.



O mal dos tempos de hoje é que os estúpidos vivem cheios de si e os inteligentes cheios de dúvidas”. (Bertrand Russell)



Durante o ano de 2015 os democratas e progressistas sofreram uma pesada ofensiva. Resistimos com perseverança, sendo os Movimentos Sociais decisivos para equilibrar o jogo. E foi dado o recado: não ao golpe, muda política econômica e retoma programa vencedor.



Um ano em que utilizamos de nossas melhores armas. Unidade e mobilização nas ruas com a construção de pautas comuns que deram visibilidade ao confronto – Defesa dos direitos e da democracia e pela mudança da política econômica.



Tendo uma causa justa e aglutinadora o povo vai à luta.



A mobilização contra a reorganização da educação em São Paulo é cheia de ensinamentos. Uma causa concreta, justa. Houve uma ação organizada, ousada, que enfrentou a agenda das elites e aglutinou apoios dos mais variados



A luta contra o PL 4330 também foi um exemplo concreto de potencial aglutinador quando a causa é nítida e essencial. Muita mobilização, paralisações, pressão no Congresso e nas ruas.



A Diminuição da maioridade penal também foi neutralizada.



Quem diria que num momento conturbado como foi o ano de 2015 fosse aprovado o fim financiamento empresarial?



Tanta pauta retrógrada mostraram a sanha conservadora que busca arrastar o Brasil para o atraso. Mas a resistência popular mostrou que não passarão.



A grande causa do momento é a democracia. Em torno dela unificam-se amplos setores, apoiadores ou não do governo. Um golpe dessas proporções seria trágico para a recente democracia brasileira.



Sem democracia os mais penalizados serão os trabalhadores e o povo pobre. O passo seguinte à destruição da democracia é a liquidação de direitos sociais e trabalhista e o ataque a conquistas civilizatórias.



Aliás, já está a ocorrer, é só olhar com atenção a agenda conservadora imposta por Eduardo Cunha e seus asseclas no Congresso Nacional.



Mas também urge recolocar o debate de qual modelo de sociedade almejamos. Essa política econômica não serve. Buscar mudanças na previdência e nos direitos trabalhistas é declarar guerra a quem sustentou o governo enfraquecido. Não pode tratar com desdém a quem sempre lhe deu a mão.



2016, em busca do tempo perdido.



as pessoas não se rebelam quando 'as coisas realmente vão mal’, mas quando suas expectativas são frustradas”. (Zizek)



2016 está em aberto. Os atores estão em movimento. Baixar a guarda é suicídio. Desconhecer a polarização, achando que se pode contentar a todos é um equívoco abissal. As elites não descansarão, é uma luta de longa duração.



No final de 2015 e início de 2016 tivemos duas notícias. Uma boa e outra ruim.



A boa, foi a troca do Ministro da Fazenda que claramente defendia uma agenda neoliberal.



O ruim, foram as declarações do novo ministro da fazenda sobre reforma da previdência e trabalhista, especialmente quanto a mudança na idade mínima para aposentadoria e da prevalência do negociado sobre o legislado nas relações trabalhistas. Pautas que desde os tempos de FHC tentam impor que conseguimos evitar com muita luta.



O povo brasileiro precisa de sinalizações concretas da aplicação de uma outra agenda.



Caso não tenha caído a ficha do Governo Federal, poderá haver “problema no paraíso” e o povo pode sair do sofá, causando um curto no “circuito dos afetos”, com os movimentos tendo que construir novos caminhos.



Portanto, do lado de cá, do campo popular, está muito bem demarcado. Nenhum direito a menos, não ao golpe. É isso e mais além. Queremos avançar com reformas populares substantivas.



Sou do tempo em que debatíamos a necessidade de aprofundar a luta de classes. Parece que atualmente quem busca isso são as elites e consideráveis setores do campo popular iludindo-se nas possibilidades de pactos.



Precisamos deixar claro o abismo que separa as posições em jogo. Mostrar quem está do lado de lá e quem está do lado de cá e o que defende cada lado.



Do lado de cá do precipício sabemos que tomar as ruas e organizar o povo é essencial.



Não vamos deixar-nos levar para o buraco nem nos iludir com pontes que nos levam a lugares indesejados.

O Governo tem que ajudar, retomando a agenda de 2014 que garantiu a vitória eleitoral. Isto é essencial para que a nitidez necessária dos lados em disputa fiquem cristalinos e facilite o convencimento da maioria popular.



Tem o tempo das elites e o tempo popular. “Nossos horários nunca combinam, eu sou funcionário e você especulador/conspirador”.



Buscar o tempo perdido ou vamos continuar perdido no tempo incerto, eis uma questão.



Em 2016, espero – não sentado – que os caminhos sejam desobstruídos e os avanços necessários sejam transportados para a vida popular, com nenhum direito a menos.
Uma certeza, na sociedade do espetáculo não seremos meros espectadores.


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