“As
coisas mudam no devagar depressa dos tempos” (Guimarães Rosa)
O
tempo presente no Brasil está sendo escrito por linhas abissais.
Por
mais que o mundo real seja manipulado, produzindo uma névoa sobre os
fatos, a política está sendo demarcada.
A
cada dia ficam mais nítidas as intenções das elites. Levar o
Brasil ao abismo onde os monstros neoliberais buscam voltar com
força, sem ter ido.
Com
toda volúpia buscam desestabilizar um projeto popular, de nação
soberana, menos desigual, com ampliação de direitos sociais.
Para
sairmos desse labirinto que se tornou a “conjuntura Brasil”,
devemos percorrer os caminhos com a bússola popular.
Essa
caminhada sem fim deve ser feita compreendendo as armadilhas
plantadas pelas elites.
Mas
acima de tudo achar as causas mobilizadoras, com atitudes
encantadoras que envolvam, efetivamente, os trabalhadores e os
progressistas da nação.
2014
não acabou!
“O
presente concreto é resultado do passado e está prenhe de futuro”.
(Hegel)
Desde
2014 as elites intensificaram seus ataques ao projeto progressista.
Tentam golpear a constituição buscando o impedimento da presidenta
e também se movimentam para saídas pelo “centro” que nada mais
é que uma cortina de fumaça para impor os mesmos objetivos, voltar
ao poder e aplicar sua agenda.
O
governo Dilma navega nestes mares tortuosos. Seu maior erro é
insistir com a política econômica recessiva. Cedeu à ditadura do
capital financeiro que potencializa uma crise política sem fim.
Submeteu-se às chantagens, tanto do sistema financeiro como dos
arranjos políticos das elites, dois temas que, aliás, submetem a
sociedade mundial.
Portanto,
sustentar-se na pauta popular e reorientar a economia são
imperativos, mesmo sendo das tarefas mais difíceis.
2015,
resistência popular.
“O
mal dos tempos de hoje é que os estúpidos vivem cheios de si e os
inteligentes cheios de dúvidas”. (Bertrand Russell)
Durante
o ano de 2015 os democratas e progressistas sofreram uma pesada
ofensiva. Resistimos com perseverança, sendo os Movimentos Sociais
decisivos para equilibrar o jogo. E foi dado o recado: não ao golpe,
muda política econômica e retoma programa vencedor.
Um
ano em que utilizamos de nossas melhores armas. Unidade e mobilização
nas ruas com a construção de pautas comuns que deram visibilidade
ao confronto – Defesa dos direitos e da democracia e pela mudança
da política econômica.
Tendo
uma causa justa e aglutinadora o povo vai à luta.
A
mobilização contra a reorganização da educação em São Paulo é
cheia de ensinamentos. Uma causa concreta, justa. Houve uma ação
organizada, ousada, que enfrentou a agenda das elites e aglutinou
apoios dos mais variados
A
luta contra o PL 4330 também foi um exemplo concreto de potencial
aglutinador quando a causa é nítida e essencial. Muita mobilização,
paralisações, pressão no Congresso e nas ruas.
A
Diminuição da maioridade penal também foi neutralizada.
Quem
diria que num momento conturbado como foi o ano de 2015 fosse
aprovado o fim financiamento empresarial?
Tanta
pauta retrógrada mostraram a sanha conservadora que busca arrastar o
Brasil para o atraso. Mas a resistência popular mostrou que não
passarão.
A
grande causa do momento é a democracia. Em torno dela unificam-se
amplos setores, apoiadores ou não do governo. Um golpe dessas
proporções seria trágico para a recente democracia brasileira.
Sem
democracia os mais penalizados serão os trabalhadores e o povo
pobre. O passo seguinte à destruição da democracia é a liquidação
de direitos sociais e trabalhista e o ataque a conquistas
civilizatórias.
Aliás,
já está a ocorrer, é só olhar com atenção a agenda conservadora
imposta por Eduardo Cunha e seus asseclas no Congresso Nacional.
Mas
também urge recolocar o debate de qual modelo de sociedade
almejamos. Essa política econômica não serve. Buscar mudanças na
previdência e nos direitos trabalhistas é declarar guerra a quem
sustentou o governo enfraquecido. Não pode tratar com desdém a quem
sempre lhe deu a mão.
2016,
em busca do tempo perdido.
“as
pessoas não se rebelam quando 'as coisas realmente vão mal’, mas
quando suas expectativas são frustradas”. (Zizek)
2016
está em aberto. Os atores estão em movimento. Baixar a guarda é
suicídio. Desconhecer a polarização, achando que se pode contentar
a todos é um equívoco abissal. As elites não descansarão, é uma
luta de longa duração.
No
final de 2015 e início de 2016 tivemos duas notícias. Uma boa e
outra ruim.
A
boa, foi a troca do Ministro da Fazenda que claramente defendia uma
agenda neoliberal.
O
ruim, foram as declarações do novo ministro da fazenda sobre
reforma da previdência e trabalhista, especialmente quanto a mudança
na idade mínima para aposentadoria e da prevalência do negociado
sobre o legislado nas relações trabalhistas. Pautas que desde os
tempos de FHC tentam impor que conseguimos evitar com muita luta.
O
povo brasileiro precisa de sinalizações concretas da aplicação de
uma outra agenda.
Caso
não tenha caído a ficha do Governo Federal, poderá haver “problema
no paraíso” e o povo pode sair do sofá, causando um curto no
“circuito dos afetos”, com os movimentos tendo que construir
novos caminhos.
Portanto,
do lado de cá, do campo popular, está muito bem demarcado. Nenhum
direito a menos, não ao golpe. É isso e mais além. Queremos
avançar com reformas populares substantivas.
Sou
do tempo em que debatíamos a necessidade de aprofundar a luta de
classes. Parece que atualmente quem busca isso são as elites e
consideráveis setores do campo popular iludindo-se nas
possibilidades de pactos.
Precisamos
deixar claro o abismo que separa as posições em jogo. Mostrar quem
está do lado de lá e quem está do lado de cá e o que defende cada
lado.
Do
lado de cá do precipício sabemos que tomar as ruas e organizar o
povo é essencial.
Não
vamos deixar-nos levar para o buraco nem nos iludir com pontes que
nos levam a lugares indesejados.
O
Governo tem que ajudar, retomando a agenda de 2014 que garantiu a
vitória eleitoral. Isto é essencial para que a nitidez necessária
dos lados em disputa fiquem cristalinos e facilite o convencimento da
maioria popular.
Tem
o tempo das elites e o tempo popular. “Nossos horários nunca
combinam, eu sou funcionário e você especulador/conspirador”.
Buscar
o tempo perdido ou vamos continuar perdido no tempo incerto, eis uma
questão.
Em
2016, espero – não sentado – que os caminhos sejam desobstruídos
e os avanços necessários sejam transportados para a vida popular,
com nenhum direito a menos.
Uma
certeza, na sociedade do espetáculo não seremos meros espectadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário