Depois
das reduções de benefícios aos trabalhadores divulgado no final de
2014, começamos o novo ano com uma série de aumentos de impostos.
São medidas com potencial recessivo e, como é imposto que afeta a
todos, tem um caráter regressivo.
E
para arrematar, o veto à correção da tabela do Imposto de Renda,
que há muito está defasada.
A
preocupação aumenta diante das constantes declarações da equipe
econômica contra o papel de vanguarda dos bancos públicos no
financiamento subsidiado.
E
agora, mais um aumento da taxa de juros básicos da economia (selic),
de 0,5%, acelera a marcha recessiva..
A
política econômica do Governo está a caminhar no rumo da
ortodoxia, que pode trazer consequências de difícil reversão.
Se
as medidas causarem algum nível de recessão e consequente
desemprego haverá um descontentamento considerável. E o que garante
que voltaremos a crescer logo ali adiante?
Os
riscos devem estar calculados. Mas não é simples a equação. As
variáveis econômicas não são tão previsíveis assim.
O
governo pode estar sendo inconsequente, ao não calcular os
impactos sociais e os desdobramentos políticos.
Se
calculou, pode estar sendo imprudente, apostando num caminho
que contradiz o discurso eleitoral e que pode não fechar a equação
como previsto.
Pode
estar sendo insensato, correndo o risco de ficar refém do
conservadorismo e dos financistas e distante da base social.
Foi
precipitado ao não avaliar outras possibilidades de ajustes.
Porque
não ousar e buscar a taxação dos ricos, do patrimônio, as
fortunas e heranças e dos fantásticos ganhos financeiros? E uma
nova CPMF para a saúde ou previdência?
O
que precisamos combater é a lógica Levyana que, no alto da
ortodoxia, não consegue ver (ou não quer) que é um modelo que não
vem dando certo onde foi aplicado, com o debate caminhando para
outras saídas. Até o Obama está propondo taxação para os ricos.
Não
é possível persistir com esse modelo de sociedade onde “A
parte da riqueza mundial nas mãos do 1% mais ricos subiu de 44% para
48% entre 2009 e 2014. Agora 80 pessoas detêm mais riqueza acumulada
do que os 3,5 bilhões de pessoas na base mais pobre da sociedade
(para uma população mundial da ordem de 7 bilhões). Este sistema
está implodindo. Muitos países estão se tornando desgovernados. Os
pobres já não são os resignados de antigamente”. (Ladislau
Dawbor).
E
sobre essa escandalosa constatação – 1% vai
ter mais renda do que 99% da população mundial, sendo que 1%
representa apenas 0,7% da população.
O
Movimento social, e o sindical em especial, deve disputar os rumos do
país. Aliás, já está fazendo ao questionar as medidas
prejudiciais aos trabalhadores nos benefícios previdenciários e no
seguro-desemprego. Uma agenda de luta está em andamento.
Devemos
enfatizar o debate de qual modelo de sociedade os trabalhadores
almejam. Quem e como será financiado o desenvolvimento. Avançar
para a solução das enormes desigualdades que persistem em nosso
país, das maiores concentrações de renda do mundo.
Precisamos
descobrir os elos mobilizadores para construir uma grande mobilização
social para conquistarmos uma democracia substantiva, real. Uma
verdadeira Revolução democrática para que o país não fique refém
dos arranjos congressuais.
Onde
possamos avançar para uma Reforma Tributária progressiva onde os
que tem mais paguem mais. Rumo a uma sociedade onde o meios de
comunicação garantam a pluralidade de opiniões e não de meia
dúzia de famílias, a serviço da elite retrógrada.
Para
isso é essencial a unidade das esquerdas e muita conversa com o
povo, muita luta.
Tudo
isso compreendendo a correlação de forças, o assanhamento da
direita, na espreita para que retrocessos substanciais aconteçam.
Sem
ingenuidades e sectarismos mas acreditando na força do povo,
buscando impor nossa pauta, nossas razões convincentes e não, de
forma acrítica, abraçar as razões governamentais.
Como
disse Boaventura Santos, “a vossa luta é a nossa luta; somos 99% e
eles 1%; se nos fecham o futuro, abrimo-lo de novo; se nos negam as
instituições, a rua é afirmativa; se nos negam a democracia,
democratizemos a democracia; e a prova dos nove é a alegria".