terça-feira, 29 de maio de 2012



Abaixo link e entrevista traduzida realizada pelo compenheiro Moah Cyr publicado no site russo http://www.chashkapetri.ru/

Link da entrevista no site Russo:
http://bit.ly/LPfOhP

PRECISAMOS RETOMAR A LUTA PELAS GRANDES CAUSAS



Com 50 anos, Mauro Salles é não é um neófito no movimento sindical brasileiro. Ao contrário, desde os 22 anos, quando ingressou no Banco Sulbrasileiro (atual Santander) é um combativo militante da causa da classe trabalhadora. Participou das grandes, memoráveis e vitoriosas greves dos bancários nos anos 80/90 do século passado. Igualmente esteve presente nas campanhas gerais dos trabalhadores no mesmo período – lutas cujas bandeiras eram Anistia, Constituinte e Eleições Diretas, entre muitas outras. Atualmente na presidência do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, cargo para o qual foi eleito em 2011, tem a espinhosa missão de conduzir o movimento sindical da categoria na difícil travessia rumo à modernidade tecnológica. Além de dirigir um dos mais importantes sindicatos de trabalhadores da história do Brasil. Dos quadros da entidade, saíram nada mais nada menos do que dois ministros e dois governadores do Rio Grande do Sul, além de inúmeros parlamentares. Olívio Dutra, por exemplo, presidiu o sindicato, foi prefeito de Porto Alegre, deputado federal, governador e ministro, e Tarso Genro, atual governador, que também foi prefeito, ministro e, por anos, advogado do sindicato. O atual prefeito de Porto Alegre, José Fortunatti, também presidiu a entidade. Ou seja, o Sindicato dos Bancários há anos que forma quadros políticos e os projeta para cargos de mando nas distintas esferas do poder público. Neste cenário, as reflexões de Mauro Salles acerca do desafio que tem pela frente – a partir do que vivenciou até então – são um precioso e estimulante incentivo para todos aqueles que acreditam que um mundo melhor é, sim, possível. A entrevista foi concedida no final da manhã/início de tarde do dia 29 de março de 2012, aos jornalistas José Edi e Moah Sousa, na sede do Sindicato dos Bancários no centro da capital gaúcha.


Segundo alguns observadores dos movimentos sociais, a partir do advento do governo Lula o sindicalismo perdeu muito da combatividade que possuía. O sindicalismo brasileiro envelheceu?
A nossa categoria vive um choque de gerações. Tem o pessoal mais antigo, mas está entrando muita juventude na categoria. O nosso secretário geral tem 26 anos. Eu tenho 50. Há então um choque, um encontro de gerações. Quanto a questão do governo Lula houve uma mudança em relação aos anos 90, do neoliberalismo. Hoje é outra realidade. É preciso contextualizar a atuação do movimento sindical. Antes tínhamos a luta contra a ditadura, pela anistia, contra a Nova República, pela Constituinte – as bandeiras de luta eram mais ousadas, a conjuntura permitia e exigia isto. Não era só o movimento sindical, estas bandeiras também eram abraçadas por outros setores do movimento social. O movimento sindical se aproveitou desta ebulição e as oposições começaram a assumir o controle de diversas entidades de representação dos trabalhadores. Naquela época acreditávamos que iríamos conquistar o poder e fazer a Revolução. Acreditávamos que o socialismo era possível. Depois dos anos 90, com o advento do neoliberalismo no Brasil, começou uma nova fase. Quando o Collor de Mello venceu a eleição, em 1989, tratou de implantar a cartilha política e econômica neoliberal. Se o Lula ou o Brizola (ex-governador do Rio de Janeiro, falecido em 21 de junho de 2004) tivessem vencido naquele momento talvez a história fosse outra. Teve início então um período extremamente nocivo para os trabalhadores brasileiros, com demissões em massa e privatizações. O movimento sindical, a organização dos trabalhadores passou a ser duramente reprimida, sendo um dos episódios mais significativos a repressão à greve dos petroleiros durante o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso.

Existem diferenças entre os bancários e outras categorias de trabalhadores?
Sim, do ponto de vista da organização. Os petroleiros, a exemplo dos bancários, são uma das poucas categorias organizadas nacionalmente, cujas campanhas acontecem de forma unificada. A diferença, em relação aos bancários, é que eles, a rigor, têm um único patrão – a Petrobrás – enquanto os bancários têm de lidar com vários bancos, diversos empregadores. Nossa Convenção Coletiva é nacional. Do Oiapoque ao Chuí é a mesma Convenção.
Como você analisa a transformação da carreira do bancário na era do computador?
A tecnologia é uma ferramenta. O que mudou – e a tecnologia ajudou – foi o método de gestão. Hoje o controle do trabalhador é muito mais eficaz. Antigamente tinha o chefe do trabalhador. Hoje através de softwares é possível controlar a hora em que o trabalhador entra no computador, a hora em que ele sai do banco. As câmeras online também ajudam neste controle. Através de emails e torpedos os bancários são controlados e cobrados todo o tempo. O controle ficou mais intenso e também aumentou que a competição entre os colegas e a disputa entre agências.
Pode-se dizer então que a tecnologia facilitou a vida do cliente e prejudicou a vida do bancário?
A tecnologia serviu também para enxugar o mercado de trabalho. Hoje o cliente, nos terminais de auto-atendimento, executa operações que antigamente eram trabalho do caixa. Diminuiu o contingente de funcionários e também intensificou o trabalho. Não é só entre os bancários que se verifica esta situação. O mundo do trabalho é isto. É cada um por si. Hoje está se formando uma geração com um nível de individualismo muito grande. Esta geração tem dificuldade de participar de uma ação coletiva.
Com o advento da tecnologia nos anos 90 dizia-se que bancário era uma categoria em extinção. A afirmação se mantém?
Não. O contingente de trabalhadores diminuiu, mas a categoria permanece. O que pulverizou a categoria foi a terceirização, os promotores de vendas, as lotéricas que fazem operações bancárias. Há um grande número de pessoas trabalhando para o sistema financeiro sem serem bancários e sem usufruir dos benefícios salariais e sociais da categoria como, por exemplo, a jornada de seis horas.
Quem trabalha em banco hoje está com o futuro garantido?
Nos bancos públicos é possível construir uma carreira, mas nos bancos privados não, ninguém está seguro. A possibilidade de demissão é uma ameaça concreta.
Você acha que o trabalhador bancário está perdendo a memória?
Acaba perdendo. A preservação da memória não se dá apenas de forma oral e visual – que registramos através do nosso projeto de memória bancária. Isto é importante, mas a formação se dá na vida, na prática. Nós tivemos uma melhoria agora, pois desde 2002 temos tido greves na categoria – isto dá outra formação. Eu me formei num tempo de intensa mobilização da categoria, com a realização de greves maravilhosas e tal... A nova geração não tem isto, sem falar na questão do individualismo, da pulverização. Estas são as razões da dificuldade de implementar a luta coletiva. Nosso desafio é romper esta barreira cultural. Temos investido muito nisto, promovendo debates e discussões com a categoria.
O Sindicato de Porto Alegre foi um dos primeiros a levantar os problemas de saúde envolvendo os bancários. Como vem sendo trabalhada esta questão atualmente?
Tratamos principalmente de organizar e informar os trabalhadores. Temos um grupo de organização solidária, chamado portadores de doenças ocupacionais. Fornecemos informação jurídica, fizemos manifestações na Previdência Social contra os médicos dos bancos. A saúde pública está sucateada. O SUS foi uma conquista dos trabalhadores e hoje ninguém consegue ser tratado com dignidade pelo sistema. Precisamos reabraçar grandes causas como esta.
Nos últimos anos, o Sindicato ganhou muita visibilidade na área cultural com a criação da Casa. Como se deu o processo?
O Sindicato sempre teve uma atividade cultural muito intensa. Nas discussões sobre a reforma da sede, decidimos criar um espaço cultural multiuso, com sala de cinema e espaço para exposição de artes plásticas e debates culturais, um auditório e uma biblioteca, contemplando os interesses da categoria e ao mesmo tempo integrando a entidade ainda mais na vida da cidade. Conseguimos patrocínio da Petrobrás e do Banrisul para viabilizar o projeto, através de programas de isenção fiscal do governo federal. Na ocasião, houve um certo temor em relação ao apoio do banco estadual, o que na visão de alguns poderia criar uma submissão por parte do sindicato. Isto não aconteceu. No dia da inauguração do cinema, por exemplo, o diretor do banco estava participando da solenidade de inauguração e os funcionários estavam em greve. Não nos permitimos ser reféns por causa do patrocínio. Não deixamos de fazer a luta. Uma grande preocupação do nosso projeto foi e é não apenas de difundir, mas também promover cultura, o que fazemos através de oficinas literárias, teatrais e de vídeo direcionadas para os bancários. Também investimos na formação política e sindical, realizando debates e seminários.

Na luta contra a ditadura militar o que unificava os trabalhadores de distintas categorias era o socialismo como bandeira final. Esta bandeira continua?
Era a nossa utopia. Precisamos reencontrar este sonho. Um dos problemas é o pragmatismo que está em vigor no movimento sindical. A vida impõe e cobra resposta às demandas específicas. Neste quadro de especificidade, como é que vamos chamar a fazer revolução, construir o socialismo, um mundo melhor? Está complicado, é difícil de vislumbrar. Mas por mais que seja impossível agora, entendo que temos que insistir em bandeiras capazes de unificar os trabalhadores, como por exemplo, a luta contra a demissão imotivada. Estas bandeiras não são levantadas hoje porque o pessoal acha impossível de atingir, depende de força no Congresso Nacional, então não vai acontecer, então vamos nos apegar no possível, o salário mínimo, que é uma demanda que vem sendo respondida pelo governo, independente da ação sindical.
Para onde vão os bancários?
Depende da conjuntura econômica e social do Brasil. Vivemos um momento de ampliação do sistema, com a abertura de novas agências e concursos no Banco do Brasil e na Caixa Federal. Os bancários vão para onde for o Brasil.

(Uma correção, iniciei minha carreira bancária no Bradesco em 1982)


Автор: Moah Sousa, jornalist and cultural producer, moah@estadao.com.br

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