terça-feira, 23 de novembro de 2010

SER GOVERNO OU SINDICATO, EIS UMA QUESTÃO



“... a função do governo está marcada pelo contexto nacional, regional e internacional onde deve atuar buscando avançar no cumprimento de seu programa. Enquanto que a função do movimento sindical é de defesa dos interesses da classe que representa. Ambos os caminhos nem sempre são coincidentes e as vezes devemos olhar muito bem para ver se são convergentes. Há uma linha que os separa necessariamente dado que suas funções são distintas”. (Carlos Bouzas – jornal da PIT/CNT uruguaia)

A relação entre sindicato e partido tem sido, ao longo da história do movimento operário, uma das questões mais sensíveis de ser enfrentada.

Mais delicada ainda tornou-se esta relação quando o partido no aparelho do estado era fruto histórico da trajetória de luta dos próprios trabalhadores.

O que se viu nas experiências históricas foi que, ainda que se pensasse como representante direto dos trabalhadores, o partido no governo acabou por se distanciar muito daquelas que seriam as “históricas” demandas dos trabalhadores.

Isto ficou muito claro nos países Europeus onde os partidos socialistas, comunistas ou trabalhistas no governo acabaram assumindo posturas claramente contrárias às que defendiam até a posse.

No Brasil, a chegada do PT ao governo abre uma série de questões para os sindicatos. Ninguém pode duvidar da força de atração da máquina do governo federal, nem dos impactos de possíveis atritos entre o partido, suas alas internas e os sindicatos.

Assim, em variadas situações assistimos uma certa “docilização” e “atrelamento” da CUT pelo governo.                         

O novo sindicalismo, onde a CUT é sua maior expressão, nasceu num momento de retomada das lutas populares e beneficiado pelas disputas no interior da burguesia.

A ação sindical não se esgotava na luta reivindicatória, em defesa de salários e condições de trabalho. Apontava para a necessidade de uma alteração no bloco de poder.

Nos anos 80 foi dominante a concepção de oposição entre classe trabalhadora e o bloco governo/empresários.

Nos anos 90 passa a predominar o método propositivo, com posturas conciliatórias – Câmaras setoriais; culto à negociação sem mobilização; institucionalização; burocratização.

Com a vitória de Lula, graças ao desgaste do modelo neoliberal e da divisão da burguesia, surgem novas questões e preocupações.

Há uma maior presença do movimento sindical nas questões políticas e institucionais. Mas há o perigo da docilização e atrelamento devido à atração da máquina governamental e da própria dificuldade em compreender os papéis do governo e do movimento e dos marcos que os delimitam.

Um dilema se impôs: apoiar um governo nascido de suas lutas e a necessidade de manter autonomia e independência, especialmente sabendo ser um governo  de coalizão com setores das classes dominantes.

Nos anos do governo Lula essa equação não está sendo bem resolvida
Via-de-regra o movimento sindical é pautado pelo governo tendo muita dificuldade de fazer valer suas reivindicações.

No atual debate sobre salário mínimo as centrais entraram em cena somente após a presidenta eleita ter se pronunciado a respeito.

Nesses anos de governo Lula tivemos inegáveis avanços, mas a pauta sindical pouco avançou. As Convenções 158 e 155, Fim do Fator Previdenciário, democratização dos ambientes de trabalho, etc., caíram no esquecimento.

Em tempos de vitória eleitoral de governos de esquerda movimentam-se os atores políticos na busca de ocupar cargos e posições.

Em muitas situações o objetivo é o cargo em sí, desvinculado de um debate sobre o que se fará com ele.

Precisamos aproveitar o momento para mobilizar a fim de avançar, compreendendo que o papel do movimento sindical é diferente do papel de quem está no governo.

Hoje, mais do que nunca necessitamos de um sindicalismo classista, inteligente e audaz, que tenha a capacidade de unir a classe para avançarmos em mudanças profundas, numa perspectiva socialista.

As transformações necessárias não serão por atos de Governo, e sim, a partir das lutas sociais.

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