quinta-feira, 25 de novembro de 2010

MÁQUINA DE MOER CARNE HUMANA



Documento enviado pelo Gerente Regional do Santander.
A sutileza de um cavalo do gerente regional retrata a realidade cotidiana dos bancários. O desrespeito, a pressão para cumprir metas, num sistema de gestão onde o que importa são os resultados, não interessando o processo, a falta de condição para cumprir o exigido e, muito menos, o ser humano com suas dificuldades, carências, expectativas e, acima de tudo, seus limites.

DOSSIÊ VIOLÊNCIA NO TRABALHO
A série Dossiê – violência no trabalho, busca dar a necessária visibilidade ao sofrimento cotidiano dos trabalhadores em seus ambientes de trabalho.
Irei postar histórias de violência no trabalho como essa....

Sexta-feira, alegria, foi premiada, atingiu todas as metas com antecedência, as de dezembro já em novembro estavam “batidas”. Fim de semana alegre, comemorando o prêmio.
Momento feliz em um período difícil, de grande estresse, inclusive tendo que afastar-se para tratamento. O corpo e a mente foram sacrificados para atingir as metas, melhorando a performance da empresa.
Segunda-feira, chega na agência de bom humor, apesar da estafa acumulada. E para surpresa geral, é chamada pelo gerente regional e é comunicada que está demitida. Caiu o chão, uma escuridão em sua mente, a alma esmigalhada.
Sua culpa: adoecer pelo trabalho, acabou o prazo de validade, estava na hora de descartá-la.
O descaso com o ser humano realizado pelos bancos é indignante. Sugam até o limite, depois são descartados. Uma verdadeira maquina de moer carne humana!
Essa colega, funcionária do Santander, foi demitida pelo mesmo Gerente Regional do documento acima.

A violência é real e trás sofrimento, adoecimento e mortes. Precisamos superar a banalização da injustiça dando a visibilidade necessária, pois...

Pobre pátria, revela medo até de conhecer-se. De nossa mãe não pode ser chamada, mas nossa sepultura, porque nela ri quem ignora tudo; os gritos e suspiros, os gemidos que os ares dilaceram, emitidos apenas são, sem serem percebidos. As mais violentas dores assemelham-se a emoção cotidiana; os dobres fúnebres passas despercebidos e as pessoas de bem fenecem antes de murcharem as flores do chapéu e a vida perdem sem virem a adoecer”. (Willian Shakespeare – Macbeth)
Nossa sociedade está impregnada pela violência que se expressa em todas as áreas.

No mundo do trabalho ocorre uma verdadeira ”guerra econômica” e em nome dessa guerra são utilizados métodos cruéis a fim de excluir os que não estão aptos.
Quanto aos aptos para o combate, exigem-se desempenhos sempre superiores em termos de produtividade, de disponibilidade, de disciplina e de abnegação.
Somente sobreviveremos, dizem-nos, se nos superarmos e nos tornarmos ainda mais eficazes que nossos concorrentes.
Essa realidade é mostrada como único caminho a seguir. Como o preço a se pagar para o desenvolvimento e o progresso.
O sofrimento, o medo, o adoecimento, o desemprego, a morte pelo trabalho são vistos com passividade, beirando a normalidade, onde as mais violentas dores assemelham-se a emoção cotidiana”.
Vemos, no Brasil, grande preocupação e mobilização em relação à violência urbana e no trânsito. Nada mais justo.
Mas, infelizmente, há um rotundo silêncio quanto às mortes, mutilações, sofrimentos de milhões de trabalhadores submetidos à violência cotidiana no trabalho ondeos gritos e suspiros, os gemidos que os ares dilaceram, emitidos apenas são, sem serem percebidos”.
É a violência cotidiana que não vêm à tona, mas é sentida, é real e faz milhares de vítimas.
Mas a sociedade ignora, tornando as vítimas responsáveis pelas mazelas produzidas pelo simples ato de ter que trabalhar.
Como tantas outras coisas que fomos treinados a abominar e detestar, a violência foi retirada da vista, não da existência”. (Bauman)
A saúde de milhares de trabalhadores são debilitadas, cuja consequência são de jovens deprimidos, sequelados, com problemas cardiovasculares. Os acidentes de trabalho matando em níveis muito alto. Mortes banais, em sua grande maioria evitáveis.
E não há a visibilidade necessária. “Os dobres fúnebres passas despercebidos e as pessoas de bem fenecem antes de murcharem as flores do chapéu e a vida perdem sem virem adoecer”.
Quando não conseguem aguentar e tem alguma doença, vivenciam a plenitude do desamparo.
Como mostra o depoimento abaixo

fui levar os documentos do resultado da perícia, e ele (chefe) falou: daqui pra frente é tudo contigo. Te vira!! Nós não temos mais nada a ver contigo. Quem mandou você escolher esse caminho?!” (Silvia - Bancária do banco Bradesco, afastada por Depressão e Síndrome do Pânico, internada numa clinica após tentativa de suicídio). 

É necessário lançar um grito de alerta (e socorro), que expresse o sofrimento dos trabalhadores que estão atomizados, sem autonomia para agir e sem interlocutores efetivos.
Precisamos não perder nossa capacidade de indignar-se e...de lutar!




Um comentário:

  1. Temos uma séria dificuldade em fazer com que um bancário ou bancária de banco privado saia de licença saúde e/ou benefício, pois dificilmente não ocorre uma demissão no período permitido por lei. O resultado são agências cheias de trabalhadores adoecidos e com medo de serem demitidos por isso.
    Nos bancos públicos a realidade não é muito diferente, o que pese não haver demissão por motivo de adoecimento, há a perda da comissão e humilhação, como, por exemplo, uma situação que ocorreu recentemente com um bancário do BB:
    “O bancário foi cedido para ocupar cargo de diretor num outro banco. Ao ser devolvido, passou a ser discriminado, sendo obrigado a trabalhar num depósito onde era guardado papel higiênico e garrafões de água mineral, passando a distribuir material de expediente e correspondência de mesa em mesa. Não aguentando a pressão, pediu demissão, sendo que somente depois de várias sessões de terapia psiquiátricas pode verbalizar o ocorrido”.

    Infelizmente, os registros de abusos cometidos contra bancários crescem cotidianamente, e denunciam uma nefasta política adotada pelos bancos e uma prática cruel e ilegal contra os trabalhadores e trabalhadoras.

    Érica Fabíola (Seeb-PA)

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