segunda-feira, 29 de novembro de 2010

MOVIMENTO SINDICAL E CULTURA (1)


O que a cultura tem a ver com Sindicato?
Respondemos com outra indagação: Como pode o sindicalismo desprezar a ação cultural se pretende ter uma postura transformadora, contra hegemônica?
Embora pareça secundária ou mesmo irrelevante, a questão cultural deveria ser considerada uma das prioridades do movimento sindical.
A cultura cumpre vários papéis na vida social.
Seja como fator de discriminação sócio-política,
seja como instrumento de dominação ideológica,
seja como forma de resistência das classes dominadas,
seja, enfim, como forma de criação com potencial de emancipação e de libertação histórica.
“Se a cultura fosse algo de menor importância, seria incompreensível a atenção que lhe é dada pelo Estado contemporâneo e a expansão dos meios de comunicação de massa como instrumentos de legitimação da ordem vigente e de conformismo social e político”. (Chaui)

Cultura também é arte com toda sua contundência.
Encanta, toca as pessoas.
Mais que discursos, uma música, uma poesia, um filme, pode ser muito eficaz para desvelar a realidade.
Um exemplo. A crítica mais mordaz contra o reacionário preconceituoso Boris Casoy que, no intervalo do jornal da bandeirantes, destilou seu ódio de classe e preconceito social, um "rap".
Comentando uma propaganda institucional de final de ano da emissora, onde um lixeiro dá feliz ano novo,
Ele afirmou o seguinte: "Que merda: Dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. Dois lixeiros,Ha, Ha, Ha, Ha! O cocô mais baixo da escala do trabalho".


Houveram inúmeras reações, mas a mais efetiva e contundente foi um clipe produzido pelo rapper Garnett



A arte é importante instrumento transformador, de crítica.
Pode ser usada para o “bem” e para o “mal”,
mas, em uma perspectiva emancipatória, Sem compromisso com seu povo, de pouco adianta a arte.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

MÁQUINA DE MOER CARNE HUMANA



Documento enviado pelo Gerente Regional do Santander.
A sutileza de um cavalo do gerente regional retrata a realidade cotidiana dos bancários. O desrespeito, a pressão para cumprir metas, num sistema de gestão onde o que importa são os resultados, não interessando o processo, a falta de condição para cumprir o exigido e, muito menos, o ser humano com suas dificuldades, carências, expectativas e, acima de tudo, seus limites.

DOSSIÊ VIOLÊNCIA NO TRABALHO
A série Dossiê – violência no trabalho, busca dar a necessária visibilidade ao sofrimento cotidiano dos trabalhadores em seus ambientes de trabalho.
Irei postar histórias de violência no trabalho como essa....

Sexta-feira, alegria, foi premiada, atingiu todas as metas com antecedência, as de dezembro já em novembro estavam “batidas”. Fim de semana alegre, comemorando o prêmio.
Momento feliz em um período difícil, de grande estresse, inclusive tendo que afastar-se para tratamento. O corpo e a mente foram sacrificados para atingir as metas, melhorando a performance da empresa.
Segunda-feira, chega na agência de bom humor, apesar da estafa acumulada. E para surpresa geral, é chamada pelo gerente regional e é comunicada que está demitida. Caiu o chão, uma escuridão em sua mente, a alma esmigalhada.
Sua culpa: adoecer pelo trabalho, acabou o prazo de validade, estava na hora de descartá-la.
O descaso com o ser humano realizado pelos bancos é indignante. Sugam até o limite, depois são descartados. Uma verdadeira maquina de moer carne humana!
Essa colega, funcionária do Santander, foi demitida pelo mesmo Gerente Regional do documento acima.

A violência é real e trás sofrimento, adoecimento e mortes. Precisamos superar a banalização da injustiça dando a visibilidade necessária, pois...

Pobre pátria, revela medo até de conhecer-se. De nossa mãe não pode ser chamada, mas nossa sepultura, porque nela ri quem ignora tudo; os gritos e suspiros, os gemidos que os ares dilaceram, emitidos apenas são, sem serem percebidos. As mais violentas dores assemelham-se a emoção cotidiana; os dobres fúnebres passas despercebidos e as pessoas de bem fenecem antes de murcharem as flores do chapéu e a vida perdem sem virem a adoecer”. (Willian Shakespeare – Macbeth)
Nossa sociedade está impregnada pela violência que se expressa em todas as áreas.

No mundo do trabalho ocorre uma verdadeira ”guerra econômica” e em nome dessa guerra são utilizados métodos cruéis a fim de excluir os que não estão aptos.
Quanto aos aptos para o combate, exigem-se desempenhos sempre superiores em termos de produtividade, de disponibilidade, de disciplina e de abnegação.
Somente sobreviveremos, dizem-nos, se nos superarmos e nos tornarmos ainda mais eficazes que nossos concorrentes.
Essa realidade é mostrada como único caminho a seguir. Como o preço a se pagar para o desenvolvimento e o progresso.
O sofrimento, o medo, o adoecimento, o desemprego, a morte pelo trabalho são vistos com passividade, beirando a normalidade, onde as mais violentas dores assemelham-se a emoção cotidiana”.
Vemos, no Brasil, grande preocupação e mobilização em relação à violência urbana e no trânsito. Nada mais justo.
Mas, infelizmente, há um rotundo silêncio quanto às mortes, mutilações, sofrimentos de milhões de trabalhadores submetidos à violência cotidiana no trabalho ondeos gritos e suspiros, os gemidos que os ares dilaceram, emitidos apenas são, sem serem percebidos”.
É a violência cotidiana que não vêm à tona, mas é sentida, é real e faz milhares de vítimas.
Mas a sociedade ignora, tornando as vítimas responsáveis pelas mazelas produzidas pelo simples ato de ter que trabalhar.
Como tantas outras coisas que fomos treinados a abominar e detestar, a violência foi retirada da vista, não da existência”. (Bauman)
A saúde de milhares de trabalhadores são debilitadas, cuja consequência são de jovens deprimidos, sequelados, com problemas cardiovasculares. Os acidentes de trabalho matando em níveis muito alto. Mortes banais, em sua grande maioria evitáveis.
E não há a visibilidade necessária. “Os dobres fúnebres passas despercebidos e as pessoas de bem fenecem antes de murcharem as flores do chapéu e a vida perdem sem virem adoecer”.
Quando não conseguem aguentar e tem alguma doença, vivenciam a plenitude do desamparo.
Como mostra o depoimento abaixo

fui levar os documentos do resultado da perícia, e ele (chefe) falou: daqui pra frente é tudo contigo. Te vira!! Nós não temos mais nada a ver contigo. Quem mandou você escolher esse caminho?!” (Silvia - Bancária do banco Bradesco, afastada por Depressão e Síndrome do Pânico, internada numa clinica após tentativa de suicídio). 

É necessário lançar um grito de alerta (e socorro), que expresse o sofrimento dos trabalhadores que estão atomizados, sem autonomia para agir e sem interlocutores efetivos.
Precisamos não perder nossa capacidade de indignar-se e...de lutar!




terça-feira, 23 de novembro de 2010

SER GOVERNO OU SINDICATO, EIS UMA QUESTÃO



“... a função do governo está marcada pelo contexto nacional, regional e internacional onde deve atuar buscando avançar no cumprimento de seu programa. Enquanto que a função do movimento sindical é de defesa dos interesses da classe que representa. Ambos os caminhos nem sempre são coincidentes e as vezes devemos olhar muito bem para ver se são convergentes. Há uma linha que os separa necessariamente dado que suas funções são distintas”. (Carlos Bouzas – jornal da PIT/CNT uruguaia)

A relação entre sindicato e partido tem sido, ao longo da história do movimento operário, uma das questões mais sensíveis de ser enfrentada.

Mais delicada ainda tornou-se esta relação quando o partido no aparelho do estado era fruto histórico da trajetória de luta dos próprios trabalhadores.

O que se viu nas experiências históricas foi que, ainda que se pensasse como representante direto dos trabalhadores, o partido no governo acabou por se distanciar muito daquelas que seriam as “históricas” demandas dos trabalhadores.

Isto ficou muito claro nos países Europeus onde os partidos socialistas, comunistas ou trabalhistas no governo acabaram assumindo posturas claramente contrárias às que defendiam até a posse.

No Brasil, a chegada do PT ao governo abre uma série de questões para os sindicatos. Ninguém pode duvidar da força de atração da máquina do governo federal, nem dos impactos de possíveis atritos entre o partido, suas alas internas e os sindicatos.

Assim, em variadas situações assistimos uma certa “docilização” e “atrelamento” da CUT pelo governo.                         

O novo sindicalismo, onde a CUT é sua maior expressão, nasceu num momento de retomada das lutas populares e beneficiado pelas disputas no interior da burguesia.

A ação sindical não se esgotava na luta reivindicatória, em defesa de salários e condições de trabalho. Apontava para a necessidade de uma alteração no bloco de poder.

Nos anos 80 foi dominante a concepção de oposição entre classe trabalhadora e o bloco governo/empresários.

Nos anos 90 passa a predominar o método propositivo, com posturas conciliatórias – Câmaras setoriais; culto à negociação sem mobilização; institucionalização; burocratização.

Com a vitória de Lula, graças ao desgaste do modelo neoliberal e da divisão da burguesia, surgem novas questões e preocupações.

Há uma maior presença do movimento sindical nas questões políticas e institucionais. Mas há o perigo da docilização e atrelamento devido à atração da máquina governamental e da própria dificuldade em compreender os papéis do governo e do movimento e dos marcos que os delimitam.

Um dilema se impôs: apoiar um governo nascido de suas lutas e a necessidade de manter autonomia e independência, especialmente sabendo ser um governo  de coalizão com setores das classes dominantes.

Nos anos do governo Lula essa equação não está sendo bem resolvida
Via-de-regra o movimento sindical é pautado pelo governo tendo muita dificuldade de fazer valer suas reivindicações.

No atual debate sobre salário mínimo as centrais entraram em cena somente após a presidenta eleita ter se pronunciado a respeito.

Nesses anos de governo Lula tivemos inegáveis avanços, mas a pauta sindical pouco avançou. As Convenções 158 e 155, Fim do Fator Previdenciário, democratização dos ambientes de trabalho, etc., caíram no esquecimento.

Em tempos de vitória eleitoral de governos de esquerda movimentam-se os atores políticos na busca de ocupar cargos e posições.

Em muitas situações o objetivo é o cargo em sí, desvinculado de um debate sobre o que se fará com ele.

Precisamos aproveitar o momento para mobilizar a fim de avançar, compreendendo que o papel do movimento sindical é diferente do papel de quem está no governo.

Hoje, mais do que nunca necessitamos de um sindicalismo classista, inteligente e audaz, que tenha a capacidade de unir a classe para avançarmos em mudanças profundas, numa perspectiva socialista.

As transformações necessárias não serão por atos de Governo, e sim, a partir das lutas sociais.

domingo, 7 de novembro de 2010

O MOVIMENTO SINDICAL É CHAMADO À REFLEXÃO


A realidade está impondo a necessidade de reinventar nossa atuação.
Reinventar não significa negar os elementos positivos até aqui alcançados, mas compreender seus limites e a necessidade de superar barreiras.
O Sindicato é um espaço de construção das trincheiras de resistência. Mas é, também, espaço de transformação da realidade, de transformação das pessoas, espaço de convivência, de construção da luta coletiva.
Sempre é necessário buscar atualizar nosso posicionamento, focando com prioridade a realidade dos trabalhadores, disputando consciências, escancarando a realidade, superando o individualismo.
Devemos buscar a construção de uma estratégia de longo alcance, ousada e criativa, questionando-se de alto a baixo.
“É melhor que seja o movimento sindical a questionar-se a si próprio e por sua iniciativa, até porque, se o não fizer, acabará por ser questionado a partir de fora". (Boaventura de Souza Santos)
Muitas vezes, num primeiro olhar, ou mesmo nas intensões do fazer, as ações são desconectadas, não foram pensadas para andarem juntas.
Como pessoas caminhando pelas ruas, aparentemente não tendo nada em comum, encontram-se na praça do bairro, para um comício ou uma atividade cultural.
Vindo de muitos lugares, o encontro permite compartilhar, aproximar, dar coerência, caminhar juntas.
As abóboras se acomodam no andar da carroça, mas também sabemos que é preciso planejar, pensar, mas não com a vertical imposição do já pronto.
Nosso projeto não é um caminhar solitário, é um andar de pessoas que buscam identidades, que querem expressar-se, ser protagonistas, atores e não objetos.
Nossa busca é dar vazão a essa nossa necessidade de falar e escutar, num eco “que se transforma em muitas vozes, em uma rede de vozes que, diante da surdez do poder, opte por falar...
...ela mesma sabendo-se uma e muitas, conhecendo-se igual em sua aspiração a escutar e a se fazer escutar, reconhecendo-se diferente nas tonalidades e níveis das vozes que a formam...
...Uma rede de vozes que nasce resistindo, reproduzindo sua resistência em outras vozes ainda mudas ou solitárias” (EZLN)
Sindicateando é compreender o papel específico da atuação sindical.
É garantir sua independência, não confundindo os papeis diferenciados entre os sindicatos e os governos.
A história sindical do Brasil mostra que tanto o sindicalismo atrelado quanto o sectário acabaram por se isolar dos trabalhadores, distanciando-se de suas verdadeiras demandas e tenderam a minguar em importância no cenário político.
Sindicatear é, também, saber que as mudanças necessárias não ocorrem somente na luta corporativa. É essencial o protagonismo dos trabalhadores em sua auto-organização.
Esses são alguns objetivos ao ocupar mais esse espaço, dando minha humilde contribuição na busca da compreensão do mundo, visando transformá-lo.
Em tempos de absorção de vários sindicalistas para os governos, vários continuam sindicateando, Eu sou um deles!