Por um sindicalismo à altura do momento.
As grandes mobilizações
trazem ensinamentos que ainda estão sendo analisados. A plena
compreensão virá quando se tornar história, em retrospectiva.
Mas a história se faz ao
caminhar. Portanto, o povo na rua impõe aproveitarmos o momento para
fazermos avançar a democracia, a justiça social, a soberania
popular. Ou poderemos sentir o gosto amargo de retrocessos
conservadores. Na política não existem espaços vazios.
A miríade de propostas
que aparecem nas ruas precisam de uma síntese, sim. Mas essa síntese
ocorrerá nas próprias ruas, nas mobilizações. Caso contrário ela
ocorrerá nos corredores do planalto central e através da grande
mídia. Não chegará à planície.
Essa é a queda de braços
essencial.
Portanto, as mobilizações
programadas pelo movimento sindical devem ser construídas com muita
unidade e ofensividade.
As jornadas de Lutas
programadas são alvisareiros indícios de uma mudança de postura do
movimento sindical. Sair da reatividade para a ofensiva. A unidade
que está sendo buscada, com todas as dificuldades, é elemento
essencial.
A campanha salarial dos
bancários acontece nesse contexto histórico. Tenho certeza que a
categoria, como sempre, será ator importante no processo de
mobilização e como elo de unidade e ousadia.
Paralisações e
mobilizações de trabalhadores podem colocar em cheque não só as
estruturas dos serviços públicos, a inadimplência do legislativo.
Mas essencialmente botar o dedo na ferida, na estrutura da sociedade,
na luta de classes, no embate entre o capital e o trabalho.
Dentro das empresas
existe um outro código. Racismo é aceito, o assédio e a exploração
são fatos. Trabalhadores morrem, adoecem, sofrem, para fazer a roda
do capital andar. Tudo isso é tolerado, banalizado.
A Democracia plena passa
por ampliação da participação popular. Passa, também, pela
democratização das relações de trabalho, empoderando os
trabalhadores. Para que mudanças profundas ocorram é preciso
colocar em evidência a ferida exposta da forma como são decididos
os rumos a nação: com participação popular de baixíssima
intensidade.
Urge uma radical mudança
de paradigmas. Uma efetiva Reforma Política, mãe de todas as
reformas, precisa ser construída em outros patamares. Mudanças não
serão realidade com a estrutura existente, com um congresso nacional
que decide no toma-lá-dá-cá.
Outra
questão essencial é regular a mídia, um verdadeiro quarto-poder,
que tenta monopolizar as informações, as mentes, e a própria
verdade.
Para estarmos à altura é
premente resgatar a unidade das esquerdas pois não podemos deixar o
leite derramar e depois lamentar nossa incompetência histórica. Mas
para isso torna-se necessário ampliar a participação, superar o sectarismo.
É
premente o envolvimento crescente dos trabalhadores na mudança
social, buscando formas mobilizatórias
para a necessária resistência aos ataques conservadores. Sempre na
luta para termos avanços sociais, sem botar água no moínho da
direita, jogando fora a água, a bacia e o nenem.
Devemos buscar contribuir
na construção de uma estratégia de longo alcance, ousada e
criativa. Para isso talvez o próprio movimento sindical (todos os
atores, não só os que eu combato), terá que se questionar de alto
a baixo.
“É
melhor que seja o movimento sindical a questionar-se a si próprio e
por sua iniciativa, até porque, se o não fizer, acabará por ser
questionado a partir de fora (Boaventura, p. 384, Gramática do
tempo)
A realidade está impondo
a necessidade de reinventar nossa atuação. Reinventar não
significa negar os elementos positivos até aqui alcançados, mas
compreender seus limites e a necessidade superar barreiras.
Para superar, vejo
importante que tenhamos propostas que unifiquem politicamente, onde
seja resgatada a unidade na ação, definindo coletivamente as
estratégias com a máxima ampliação de pessoas envolvidas na
militância.
Precisamos de um
sindicalismo ativo e inquieto, mas também competente para mobilizar
paixões com razões convincentes.
“Vivendo
dois tempos coexistentes, um prestes a se esgotar e outro em
ebulição, sindicalistas e trabalhadores mais decididos precisam
lançar-se à luta por uma célebre renovação de suas organizações.
Terão que suplantar as mudanças em curso na esfera do capital
oligopolista automatizado e do Estado. Essa parece ser a questão, se
quiserem recusar o destino de substituto de servos e párias”
(Florestan Fernandes)