terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

SINDICALISMO CHOROSO



Que pueril ingenuidade a de apresentar a própria impaciência como argumento teórico!” (F. Engels; Programa dos Comunardos-bIanquistas, no jornal social-democrata alemão Volksstaat*2 ,1874,

Em 1920, ainda recuperando-se dos ferimentos sofridos pelo atentado a tiros de 1918, Lenin escreveu um panfleto em que condenou a extrema esquerda européia pelo seu radicalismo, por seu excesso de "purismo". Naquela ocasião, definiu o "esquerdismo" deles como uma "doença infantil do comunismo".

Acho que é possível evocar esse jogo de palavras para a atualidade, onde estamos vendo setores de “esquerda” resvalar para a crítica sistemática e vazia, não conseguindo desenvolver a necessária análise da complexidade do momento.

A criança mimada esperneia quando tem alguma frustração. Quando adolecente, via-de-regra, revolta-se contra os pais. Na política marxista aprendi que não podemos nos dar ao luxo do infantilismo sob o risco de não analisarmos adequadamente a realidade e sermos condizidos a uma prática que fortalece nossos inimigos.

A política, quando adjetivada em excesso, fraciona, confunde. Acaba por cair na polarização do bem contra o mal. Nós, os corajosos contra os covardes. Nós os éticos contra os que flertam com os corruptos. Nós os combativos contra os pelegos.

A realidade é mais complexa e o momento impõe a capacidade de compreender as várias nuances da conjuntura. É essencial a busca intransigente da unidade. Precisamos ter a capacidade da tolerância, compreender as limitações de todos e não operarmos a política oportunista da adjetivação a todos e a tudo, escondendo objetivos obcecados de disputas de espaços e aparatos.

Essas posições oportunistas que são contra tudo e a todos, sem apontar saídas, é uma visão que cada dia tem menos audiência. Os joãozinhos do passo certo é uma fórmula fácil, mas de fôlego curto.

A relação do movimento com governos de esquerda é um debate histórico do movimento dos trabalhadores. Temos certeza de que é pressuposto manter-nos na trincheira, defendendo os direitos dos trabalhadores, de forma autônoma.

Mas é essencial, também, envolver os trabalhadores na mudança social, refletir incessantemente na busca de formas mobilizatórias para a necessária resistência aos ataques e na luta para termos avanços sociais, sem botar água no moínho da direita, jogando fora a água, a bacia e o nenem.

Se somente coragem resolvesse o problema, tenho certeza que estariamos em melhor situação. Temos, no movimento sindical, valorosos e corajosos companheiros. Mas o bicho é mais cabeludo, já estou careca de saber.

Não temos o direito de ser principistas infantis. “O governo me traiu, me frustrou”. Só se frustra quem se ilude. Devemos sempre ter claro as limitações do Estado e que as mudanças ocorrem e ocorrerão através da luta social.

Como afirma Boaventura Santos, hoje precisamos de rebeldes competentes, que devem conjugar razões convincentes a paixões mobilizadoras.

Vivemos em uma sociedade individualizada, onde ocorrem muitas mobilizações, mas de forma dispersa. Um primeiro desafio: unir todos os movimentos em uma pauta apaixonante e mobilizadora.

Um outro elemento é conseguirmos sair da pauta da direita que prega o moralismo intenso. Isso sem transigir com a corrupção e ao abandono de compromissos com os trabalhadores.

Temos claro que o movimento sindical está com dificuldades de dar as respostas devidas para a realidade. Mas essa dificuldade não é de direção, como o discurso fácil de quem só quer disputar aparatos. ah, se fosse tão simples!

As respostas devem ser buscadas, mas não existe receita de bolo. O caminho se descobre ao caminhar. “... seria simplesmente um charlatão quem pretendesse inventar para os operários uma receita que desse antecipadamente soluções adequadas para todas as circunstâncias da vida ou prometesse que na política do proletariado revolucionário não surgirão nunca dificuldades nem situações complicadas”. (Lênin - Esquerdismo Doença infantil do comunismo, pág. 29).

Compreender os fatores pelos quais lutamos e atuamos em um mesmo objetivo, é a questão essencial. Se o que nos une é a indignação contra a opressão aos trabalhadores; o inconformismo com o modo de produção capitalista; a firme convicção de que é necessário um novo sistema social, socialista, onde a solidariedade, a igualdade substantiva, a liberdade devem ser seus pilares, certamente iremos juntos dando nossa contribuição na caminhada necessária.

Precisamos conscientemente compreender as dificuldades e achar, na prática e na teoria, saídas emancipatórias.

Mas para isso necessitamos definir um “norte”, com unidade de ideal, dentro da ética revolucionária, para além do mero discurso. 

Não podemos almejar o poder pelo poder, sem conteúdo transformador, o que acaba por reproduzir a mesmice na inércia, reproduzindo a lógica do capital. Nunca perdendo de vista que existe uma disputa entre classes, por mais que aparentemente isso esteja diluído.

Devemos buscar contribuir na construção de uma estratégia de longo alcance, ousada e criativa. Para isso talvez o próprio movimento sindical (todos os atores, não só os que eu combato), terá que se questionar de alto a baixo. 

“É melhor que seja o movimento sindical a questionar-se a si próprio e por sua iniciativa, até porque, se o não fizer, acabará por ser questionado a partir de fora (Boaventura, p. 384, Gramática do tempo)

A realidade está impondo a necessidade de reinventar nossa atuação. Reinventar não significa negar os elementos positivos até aqui alcançados, mas compreender seus limites e a necessidade superar barreiras. 

É inegável a saturação da relação política, fruto da difícil realidade e da falta de objetivos comuns. Mas também é consequência do acomodamento, da burocratização imposta pela rotina despolitizada. Os conflitos despolitizados atestam a falta de capacidade de elaboração e uma falta de direção comum.

Para superar vejo importante que tenhamos propostas que unifiquem politicamente, onde seja resgatada a unidade na ação, definindo coletivamente as estratégias, mas que coletivamente também sejam cobradas responsabilidades. Isso tudo implementado com a máxima ampliação de pessoas envolvidas na militância.

Nesse momento de dificuldades do sindicalismo, mais do que nunca, precisamos incorporar ativistas para potencializar a construção da luta.

Sem choro nem vela, sem ranços, precisamos defender um sindicalismo ativo e inquieto, mas também competente para mobilizar paixões com razões convincentes.