Ao
ler a reportagem das páginas quatro e cinco da edição da segunda-feira,
10 de junho, manchete de capa de Zero Hora, vi uma luta de muitos anos
tendo visibilidade num dos jornais de maior circulação do país. Mas
também me entristeci. Os dados confirmam um sofrimento com o qual
convivo há muitos anos como dirigente sindical e como bancário. O número
de trabalhadores que usa drogas e está afastado do trabalho aumentou
muito no Rio Grande do Sul.
Sob o título “Licenças por uso de drogas quase triplicam”, a reportagem mostra que entre 2006 e 2012 o número de afastamentos do trabalho por uso de drogas lícitas e ilícitas aumentou 179%.
Entre os bancários cresce o número de colegas que precisa usar medicamento para a dor ou antidepressivos e antiansiolíticos para conseguir trabalhar e atender às exigências por resultados e cumprimento de metas, muitas delas inatingíveis. Ao abrir as gavetas das mesas de trabalho dos bancários, é comum encontrar caixas de medicamentos. Os remédios tornaram-se ferramentas de trabalho.
Esse fenômeno intensificou-se a partir da década de 1990. A reengenharia com seus novos métodos de gestão trouxe consequências aos trabalhadores, especialmente na questão da saúde psíquica. Cresceram os casos de depressão devido às exigências, repercutindo no aumento de suicídios ligados ao trabalho.
Pesquisa de 2009, do professor Marcelo Augusto Finazzi Santos, da Universidade de Brasília, demonstrou que de 1996 a 2005, a cada 20 dias, um bancário se suicidou. Motivos: pressões por metas, excesso de tarefas e medo do desemprego.
Já em 1997, em estudo organizado pelo SindBancários com a colaboração do Departamento de Medicina Social da UFRGS, com 12 mil bancários pesquisados em 194 municípios gaúchos, cerca de 56% relatavam sofrimento em agências. Em torno de 9,2% admitiram que o pensamento de acabar com a vida já havia passado pela sua cabeça. Infelizmente essa realidade piorou.
No mês passado, perdemos um colega bancário no Interior do Estado. A causa diagnosticada é um infarto fulminante. Porém, as circunstâncias da morte revelam sofrimento e solidão. Pouco antes de morrer, a caminho do hospital, ele disse à esposa que aquilo tinha a ver com o seu trabalho.
Lutamos muito para mudar essa lógica em que o trabalhador não encontra satisfação pessoal, mas sofrimento. Por isso reportagens como a de Zero Hora são importantes para dar visibilidade a um grave problema social. Modelos de gestão que visam tão somente os negócios, o lucro, a rentabilidade não podem estar acima da vida.