Neste vídeo, um dos tradutores da equipe de Assunção, Mauro Lugo, lê em guarani a minha apresentação, escrita em português e traduzida para esse idioma. Essa apresentação aconteceu na Universidade de Assunção, capital do Paraguai, em 23 de novembro. O livro e a caravana foram muito bem recebidos também no Uruguai e na Argentina, onde foram lançados em dias anteriores.
Abaixo reproduzo a apresentação
Não deixem que arranquem sua língua
Eduardo Galeano em um dos livros da
trilogia Memória do Fogo conta uma história que merece ser reproduzida. O
fato ocorreu em 1767, nas Missões.
“Nas gráficas das missões paraguaias
tinham sido feitos alguns dos melhores livros impressos na América
colonial. Eram livros religiosos, publicados em língua guarani, com
letras e gravuras que os índios talhavam em madeira.
Nas missões falava-se o guarani e
lia-se o guarani. A partir da expulsão dos jesuítas, é imposta aos
índios a língua castelhana, obrigatória e única.
Ninguém se resigna a ficar mudo e sem memória. Ninguém obedece.”
(As Caras e as Máscaras, Eduardo Galeano, Editora Nova Fronteira)
Os bancários tem a língua afiada ao
denunciar as injustiças; ao convocar para a luta; ao debater os
contextos; para expressar a paixão; para afirmar e para questionar.
O Sindbancários é produto de uma tradição de protagonismos e de não se vergar ao que é imposto.
O livro que estamos apresentando me tocou
sobremaneira em sua proposta. Primeiramente, através de contos,
retratar a cultura comum de países que foram forjados a ferro e fogo,
mas também como integração de povos.
Em segundo lugar, escrito em três
línguas, português, espanhol e, com certo ineditismo, o guarani. Sem o
guarani diminuiria a força dessa publicação.
Nesse século XXI, quando presenciamos
novas tentativas de impor padrões, buscando submeter culturas, surge um
livro que resgata a tradição missioneira de não se dobrar ao instituído,
preservando a memória de resistência. Não é o castelhano, é a cultura
americana que tenta tornar cosméticas as expressões populares.
Resgatamos o Guarani, afirmamos o
espanhol, reafirmamos o português e, acima de tudo, pela cultura,
integramos as pessoas através do fazer e da memória. Ninguém vai ficar
insensível a esse projeto. Somos herdeiros desse espírito de ousadia.
Como dizia Marx, somos radicais porque tomamos as coisas pela raiz, e a
raiz, para o homem, é o próprio homem!
Resgatar a memória e a palavra, “soltando a língua” e a escrita é uma enorme contribuição para todas gerações.
Quero agradecer com muita ênfase a
contribuição do amigo Alcy Cheuiche, parceiro de longa data. É mais uma
edição das oficinas literárias do SindBancários, que já produziram cinco
livros de excelente qualidade, sempre conduzidas com categoria pelo
mestre Alcy.
Nossa gratidão aos escritores, que
dedicaram preciosas horas de suas vidas a esta empreitada. Acima de tudo
parabéns pelo resultado, surpreendente e de excelente qualidade.
Agradeço também aos tradutores, que fizeram um trabalho esmerado,
honrando os textos originais.
Um agradecimento especial aos meus
colegas escritores bancários, verdadeiros herdeiros da garra guaraní e
da solidariedade como missão de vida.
Mauro Salles Machado
Presidente do Sindbancários